04 jan, 2023 - 21:00 • João Malheiro
Um dos momentos mais marcantes do Pontificado do Papa Bento XVI foi a sua visita a Portugal, em 2010, e a receção eufórica dos portugueses ao Santo Padre, por entre Lisboa, Fátima e Porto.
Em debate, esta quarta-feira, na Renascença, a vaticanista Aura Miguel, a partir de Roma, refere que "a ideia que existia sobre Bento XVI desfez-se perante a realidade" e que o mesmo acontece, neste momento, no Vaticano, com milhares acima das expetativas a marcarem presença nas cerimónias fúnebres de Joseph Ratzinger.
A jornalista da Renascença acompanhou a visita de Bento XVI em 2010 e recorda que "a disponibilidade e a lucidez" do Santo Padre revelou-se, ainda o avião não tinha aterrado em Portugal.
"Falou de Pombal e do Iluminismo e que esta dialética entre Secularimso e Fé não pode estar em contraposição. O grande desafio, dizia sem ainda ter aterrado, era uma purificação da relação entre a Igreja e o Estado. A bordo do avião falou ainda do segredo de Fátima", lembra.
Já Manuel Fernandes Pereira, embaixador português na Santa Sé a partir de outubro de 2010, depois da visita do Santo Padre a Portugal disse que "tinha excelente impressão do Papa Bento XVI" ainda antes de o ter conhecido pessoalmente.
"Fiquei bem impressionado, porque todas as pessoas com quem estive disseram-me que o Papa tinha ficado diferente depois da visita a Portugal. Tinha reforçado os seus ânimos. Tinha agradado muito a sua Cúria", destacou.
O embaixador leu na antena da Renascença palavras de uma carta de Bento XVI dirigidas a si, em que o Santo Padre referia "as imagens felizes que guardo na minha memória sobre a visita a Portugal. Nunca esquecei a alegria e o respeito que tinham pelas minhas palavras", citou Manuel Fernandes Pereira.
O diplomata realçou também que Joseph Ratzinger "sempre esteve interessado nos países da língua portuguesa e sempre teve o cuidado de promover o uso da língua portuguesa".
No debate esteve, igualmente, presente Henrique Mota, editor da Lucerna e o editor de língua portuguesa que mais livros de Bento XVI publicou e recordou que "havia muitos receios e prognósticos negativos" aquando da visita de Ratzinger a Portugal, mas o que é certo "aconteceu em Portugal o que está a acontecer agora em Roma".
"A popularidade do Papa Bento é muito maior do que os analistas podiam imaginar. Não se pode dizer que a visita tenha passado indiferente ao povo português", considerou.
Henrique Mota diz que foi "particularmente tocado" pelo encontro com o mundo da cultura, no CCB, em Lisboa e com o que Papa disse em Fátima.
"João Paulo II vinha agradecer a nossa senhora de Fátima, devido ao atentado que sofreu. O Papa Bento XVI veio com o pretexto de celebrar a beatificação de Jacinta e Francisco. Não havia a mesma relação enorme de milagre. O Papa Bento VI não tinha esse ponto favorável. Mas, na sua forma de estar, captou os portugueses. Diz-se que foi, em Portugal, que o Bento XVI começou pela primeira vez a beijar crianças. E o Papa afinal ri", apontou.
O editor referiu que vão ser publicados dois livros, para assinalar a morte de Bento XVI. Um será uma antologia de temas abordados pelo Papa. E outro um livro de textos que o Papa publicou na revista "Communio".
O funeral de Bento XVI será na quinta-feira, na Praça de São Pedro, no Vaticano, com o Papa Francisco a presidir à cerimónia. O corpo está na Basílica de São Pedro desde segunda-feira para que os fiéis se possam despedir do Papa emérito.
Ouça este debate na íntegra.
O debate sobre "Bento XVI e a sua relação com Portugal" teve como convidados o embaixador português na Santa Sé entre 2010 e 2012, Manuel Fernandes Pereira; Henrique Mota, editor da Lucerna que esteve na organização da viagem apostólica de Bento XVI a Portugal; E ainda a vaticanista Aura Miguel em direto de Roma, moderados por Miguel Coelho. Produção: Ana Marta Domingues