05 fev, 2023 - 13:20 • Henrique Cunha
A Capital da República Chega recebe a partir deste domingo e até 12 de fevereiro a Assembleia Continental Europeia do Sínodo e o padre Paulo Terroso, membro da Comissão de Comunicação do Sínodo, admite a existência de riscos de tentativas de condicionamento dos trabalhos.
Em entrevista à Renascença, o sacerdote da Arquidiocese de Braga antecipa, por outro lado, a inevitabilidade da existência de polémicas. O padre Paulo Terroso afirma que “fazer de conta que essas tensões não existem é o melhor serviço que podemos prestar ao diabo, entendamos àquele que divide, que fragmenta a Igreja”.
O responsável elege o Sínodo como “o grande acontecimento deste ano na Igreja”, porque “aqui o que está em causa é a maior reforma da Igreja depois do Concílio Vaticano II”.
Padre Paulo Terroso, o que é que devemos esperar da Assembleia Continental Europeia do Sínodo que começa este domingo em Praga, prolongando-se até ao próximo domingo, dia 12 de fevereiro?
Podemos esperar este encontro inédito das Igrejas locais da Europa, pois é a primeira vez que isto acontece assim, deste modo. Em que se vão escutar, em que vão divulgar a partir deste documento da etapa continental. Esta é a base de trabalho.Tenho certeza que este vai ser um momento, uma experiência muito positiva, em primeiro lugar para os participantes e para a Igreja na Europa. Porque vai permitir medir a temperatura, perceber o colorido da Igreja na Europa. E isso é importante, porque é importante que nos escutemos uns aos outros.
Os cardeais, secretário-geral e relator geral do Sínodo escreveram aos bispos a pedir que não instrumentalizem as Assembleias. Este é um risco?
Claro que é um risco. Por isso mesmo que eles alertaram para isso. E porque todos nós somos tentados. Aliás o próprio Jesus foi tentado e mesmo os senhores bispos podem sofrer essa tentação. Mas não só, os bispos, também há leigos com a sua agenda. Elas (agendas) têm estado presentes, desde logo no início deste Sínodo, depois, por exemplo, em Portugal, com o nosso relatório que foi entregue.
Nós tivemos inclusive uma síntese apócrifa, deixe-me dizer assim. E sentimos várias tensões. Houve até petições. Portanto, isso é real. E o que nos estão a dizer, o Cardeal Mario Grech e o Cardeal Jean-Claude Hollerich, é que nós estamos aqui para realizar a vontade de Deus e não a nossa agenda.
E este é um momento grande, de grande reforma da Igreja. Temos que dizer que o grande acontecimento deste ano é precisamente este continuar dos trabalhos. E estas Assembleias Continentais que se estão a realizar são os grandes acontecimentos da Igreja. A JMJ (Jornada Mundial da Juventude) também é importante, mas está a outro nível. Porque aqui o que está em causa é a maior reforma da Igreja depois do Concílio Vaticano II. A concretização, aliás, do Concílio Vaticano II, porque o Sínodo é esse fruto maduro da eclesiologia do pensamento, do que é o que é ser Igreja do Concílio Vaticano II.
E daí os cardeais também apelarem à continuidade da dinâmica do Concílio Vaticano II?
Foi ali que a Igreja se interrogou sobre si própria e sobre a sua missão. Não podemos esquecer que o objetivo do Sínodo é uma igreja sinodal: Comunhão, participação, missão e estamos aqui para a missão. Depois há um outro aspeto fundamental que ele ganha relevância a partir daquela pergunta que se fazia no Concílio Vaticano II.
A pergunta era esta: Igreja o que dizes de ti própria? E agora, a questão é outra: "Igreja, o que está dispostas a escutar de ti própria? A frase não é minha, a pergunta não é minha. É da Cristina, que é membro da Comissão de Espiritualidade do Sínodo, e acho que esta é a pergunta que nós e sobretudo os participantes devem fazer nos próximos dias.
Os cardeais Mário Grech e Jean-Claude Hollerich provavelmente também quiseram, com esta carta enviada aos bispos, com este apelo, evitar novas polémicas. Mas se calhar isso não é evitável?
Não, as polémicas não são inevitáveis. As tensões estão aí e não se pode fazer de conta que não existem. Aliás, a própria imagem: “alarga o espaço da sua tenda", ela inclui essas tensões. Há essas tensões na Igreja. Não se deve fazer de conta. Nós não podemos viver numa realidade paralela.
Deixe-me dizer assim: fazer de conta que essas tensões não existem e fazer é o melhor serviço que podemos prestar ao diabo, entendamos àquele que divide, que fragmenta a Igreja. É com verdade, olhando de frente para as dificuldades ou olhando de frente para essas tensões que existem, que devemos todos dialogar e escutarmos mesmo com os outros.
Se queremos dar nome, nomes conservadores, progressistas, moderados, seja lá o que for, mas nós todos juntos temos de nos ouvir. E temos de perceber que a Igreja de facto, ela é plurifacetada. E é mesmo assim e sempre foi assim.
Essas tensões ou estas polémicas não são menores do que aquelas que são expressas no Evangelho, no livro dos Atos dos Apóstolos, no Novo Testamento. Não, não são diferentes.