05 fev, 2023 - 17:21 • Aura Miguel , Fábio Monteiro
O Papa Francisco já regressou ao Vaticano da visita à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul. Durante o voo entre Juba e Roma, o líder da Igreja Católica aproveitou a oportunidade, como é hábito, para conversar com os jornalistas que o acompanharam.
Aí, fez questão de frisar, pela primeira vez desde a morte de Bento XVI, que, ao contrário do que tem sido noticiado e veiculado por algumas figuras do Vaticano, a sua relação com o Papa emérito esteve sempre em bons termos. Aliás, nos últimos anos, em vários momentos, pode “trocar opiniões” e aconselhar-se com Bento XVI.
“Ele esteve sempre ao meu lado, a apoiar-me. E se tinha alguma dificuldade, falávamos e não havia qualquer problema. Essas coisas que se dizem, que Bento estava amargurado por isto ou por aquilo que fez o novo Papa, são histórias chinesas. Aliás, consultei Bento antes de tomar algumas decisões e ele estava de acordo”, começou por dizer.
E depois argumentou: “Creio que a morte de Bento foi instrumentalizada por gente que quer levar a água ao seu moinho, é gente que, de um modo ou do outro, instrumentaliza uma pessoa tão boa, tão de Deus, esta gente não tem ética; é uma gente de um partido, não de Igreja.”
Ainda durante a viagem, o Papa Francisco voltou a falar sobre a forma como a Igreja Católica vê os homossexuais. “Criminalizar as pessoas com tendência homossexual é uma injustiça. Não estou a falar de grupos, mas de pessoas. os lobbys são outra coisa. Estou a falar de pessoas. E creio que o Catecismo da Igreja católica diz esta frase: ‘Que não sejam marginalizados’.”, disse.
Sensibilizado com o nível de pobreza e os problemas sociais que encontrou no Sudão do Sul, o Papa Francisco apontou culpas à “peste das armas”, utilizadas por pessoas para “semear a guerra por dentro” do país.
“É cruel, porque há interesses por trás, interesses económicos para explorar a terra, explorar minerais e riquezas. Isto é diabólico. Isto destrói a criação, destrói as pessoas e as sociedades”, disse.
O Papa revelou também que fez questão de convidar o arcebispo de Cantuária para a viagem porque “foi ele que começou este trabalho de reconciliação no Sudão do Sul muito antes de mim. Foi ele quem abriu o caminho e trabalhou tanto”.
Em 2019, após um encontro com os líderes políticos do Sudão do Sul, numa tentativa de encontrar a paz para o país africano, o Papa Francisco beijou, de forma inesperada, os pés de todos os presentes.
Questionado pelos jornalistas a propósito do 1.º aniversário da invasão da Ucrânia, se gostaria de beijar os pés de Putin e Zelensky, o Papa disse estar disponível para se encontrar com os dois líderes. “Estou aberto a encontrar os dois. Se ainda não fui a Kiev é porque, de momento, me é impossível ir a Moscovo”, disse.
E depois acrescentou: “Aquele gesto de beijar os pés aos líderes do Sudão do Sul não foi pensado; foi apenas instrumento de um impulso. Naquele caso, abriu um caminho… mas os atos por impulso não são para repetir.”