13 fev, 2023 - 13:37 • João Carlos Malta
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O padre jesuíta Hans Zollner, membro da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores e um dos maiores especialistas no campo da proteção contra o abuso sexual, insiste que as instituições religiosas devem trabalhar para que estes casos nunca se repitam.
Zollner esteve presente, esta segunda-feira na Fundação Calouste de Gulbenkian, na apresentação dos resultados da Comissão Independente para a investigação dos casos de abusos sexuais no seio da Igreja Católica e aos jornalistas defendeu que está nas mãos da instituição assumir o compromisso de proteger as vítimas.
"O escutar, o preocuparmo-nos com as vítimas e as suas famílias, pelas escolas e paróquias, é parte do ministério da Igreja", começou por dizer.
O padre Hans Zollner quer acreditar que "isto não é o fim, mas o início de algo".
O mesmo membro da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores recomedou que, primeiro, se ouçam as vítimas. "Temos agora um certo número de pessoas que
foram ouvidas, que responderam ao questionário, mas não é o fim. Haverá
mais vítimas se apresentarão. Então, continue a ouvir", defendeu.
Mais à frente aplou a "um verdadeiro compromisso da Igreja, das dioceses e das congregações religiosas, tanto em Portugal como em outros locais." "Temos de perceber que apoiar as vítimas e que tudo fazer para que não mais seja cometido um abuso, faça parte, e seja uma parcela da missão da própria Igreja", reforçou.
O representante do Vaticano disse também que para as vítimas foi um "reconhecimento da dor de tantas pessoas", mas também foi um "dia de esperança" porque finalmente lhes foi dada voz.
"Nós (Igreja) precisamos... (olhar) para o passado, o que foi cometido em termos de crimes e fazer o que pudermos em termos de prevenção e salvaguarda", acrecentou. "Penso que a Igreja em Portugal, assim como em muitos outros países, está muito empenhada nestas tarefas", acredita.
A Comissão Independente validou um total 512 testemunhos de abuso sexual na Igreja Católica nas últimas décadas. O número foi avançado por Pedro Strecht, coordenador desta comissão, na apresentação do relatório final, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
O pedopsiquiatra revelou que "foram recebidos um total de 564 [testemunhos]. Estes testemunhos, como depois iremos explicar com toda a cautela, permitem chegar a uma rede de vítimas muito mais extensa, calculada num número mínimo de 4.815 vítimas", adiantou.
Na apresentação do relatório da comissão, o juiz Laborinho Lúcio sugeriu ainda que o tempo de prescrição dos casos comece a contar mais tarde, a partir dos 30 anos da vítima, em vez dos atuais 23.
De acordo com Laborinho Lúcio, foram enviados para o Ministério Público 25 denúncias de vítimas de abusos que ainda não prescreveram.
Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:
- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.
Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa
- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.
Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.
Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt
- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.
São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.
Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.
Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:
- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica
Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt