17 fev, 2023 - 15:16 • Ângela Roque
A ideia nasceu de forma espontânea em Lisboa, entre um grupo de leigos católicos que considera importante manifestar publicamente um pedido de perdão às vítimas de abuso na Igreja.
Com a aproximação a Quaresma, decidiram marcar uma Vigília de Oração para a próxima Quarta-Feira de Cinzas, dia 22 de fevereiro.
À Renascença, Joaquim Pedro Cardoso da Costa, um dos promotores da iniciativa, diz que o Relatório da Comissão Independente que estudou os abusos no seio da Igreja e das suas instituições “não deixou ninguém indiferente”, e que é preciso manifestar isso publicamente, mostrando a todos o que sentem.
“É um sinal de que não estamos indiferentes ao que vemos, ouvimos e lemos, e que precisamos de mostrar o nosso testemunho enquanto leigos, membros da Igreja, que também se sentem profundamente envergonhados”, sublinha.
“Presumo que este fim de semana, em todas as missas deste país, se faça uma qualquer referência e que todos os católicos rezem por isto. Mas achámos que era preciso fazer uma manifestação no espaço público, mostrar que estamos presentes perante essas vítimas e seus familiares”, acrescenta Cardoso da Costa.
“Cabe-nos”, prossegue, “pedir perdão, em oração silenciosa e visível, e apelamos às pessoas que tragam uma vela, com todo o simbolismo que isso representa”.
Para o responsável é fundamental reagir e agir, e a Vigília pretende também mostrar aos responsáveis hierárquicos da Igreja que não estão sozinhos no assumir das responsabilidades, nem nas decisões que venham a ter de tomar.
“Não podemos ser leigos passivos, seja a criticar, seja a apoiar. Temos de ser leigos ativos a participar, a manifestar proximidade com a hierarquia, mas na exigência das transformações que têm de ser corajosas”, afirma.
Em Lisboa a Vigília vai decorrer entre as 21h00 e as 22h00, frente ao Mosteiro dos Jerónimos. A informação tem circulado sobretudo nas redes sociais, e já outras localidades se juntaram.
“Há convocatórias muito semelhantes para Évora, na Praça do Giraldo; Oeiras, na igreja matriz, e em Santarém, na igreja do seminário. Falta confirmar Portalegre, Ponta Delgada e Coimbra, e podem surgir outras”, indica ainda, lembrando que o desafio que deixaram foi que a Vigília se faça em todo o país.
“Queremos afirmar o nosso compromisso em não deixar que o silêncio volte a imperar”, lê-se na convocatória que circula nas redes sociais e que tem, entre os seus promotores, Ana Rita Bessa, José Miguel Cardoso da Costa e Joaquim Pedro Cardoso da Costa, André e Mafalda Folque, Diogo Alarcão, Margarida Neto, Diogo Caldeira Pinto
Margarida Olazabal Cabral, Francisco Costa Macedo, Miguel Toscano Rico, João Pedro Tavares, Paulo Câmara, João Pereira Bastos, Sofia Galvão e Teresa Olazabal Cabral.
Um total de 96,9% dos abusadores são homens, 77% s(...)
Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:
- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.
Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa
- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.
Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.
Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt
- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.
São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.
Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.
Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:
- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica
Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt