Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Abusos na Igreja. ​“Não podemos falhar de modo algum”, diz cardeal patriarca

22 fev, 2023 - 19:54 • Ângela Roque Ricardo Vieira

D. Manuel Clemente fala em sentimento de "tristeza, vergonha, arrependimento".

A+ / A-
Abusos na Igreja. ​“Não podemos falhar de modo algum”, diz patriarca

VEJA TAMBÉM:


A Igreja tem de continuar “ativa e atenta” no combate aos abusos sexuais e “não pode falhar de modo algum”, defendeu esta quarta-feira o cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

Durante a homília da celebração de Quarta-Feira de Cinzas, na Sé de Lisboa, D. Manuel Clemente voltou a pedir desculpas públicas às vítimas e garantiu que os esforços da Igreja não cessam com a divulgação do relatório da Comissão Independente.

“Quando tivemos a iniciativa de constituir uma Comissão Independente para apurar o que aconteceu, também temos agora a disposição firme de continuar atentos e ativos neste campo, onde não podemos falhar de modo algum”, declarou.

D. Manuel Clemente confessou que as conclusões da Comissão Independente "abalaram" a Igreja. "Tristeza, vergonha, arrependimento não podem faltar neste momento, mesmo quando mais institucional do que pessoalmente, para quem não cometeu tais crimes, nem com eles compactuou", sublinhou.

Além de reiterar "o pedido de perdão a quem sofreu", D. Manuel Clemente expressou "solidariedade total e o compromisso de tudo fazer para ajudar no presente e prevenir o futuro".

"Quando houver algo a ser julgado e sancionado, sê-lo-á, certamente, segundo a lei civil e canónica evangélica, sendo que esta última não nos deixa desistir da conversão de ninguém".

O cardeal patriarca assegurou que as comissões diocesanas de proteção de menores e adultos vulneráveis, e a respetiva coordenação nacional, vão continuar a dar resposta ao problema, já que são "compostas por pessoas habilitadas e experientes provindas das áreas da psicologia e da psiquiatria, da magistratura e da polícia, entre outras".

D. Manuel Clemente adiantou, ainda, que haverá um reforço da "preparação e seleção dos agentes pastorais, clérigos ou leigos para estarem devidamente habilitados para o trabalho com os mais novos". "Não pode ser doutro modo e assim será, certamente", sublinhou na homília.

“Cá estamos para melhorar o que precisar de ser melhorado”

Em declarações aos jornalistas à entrada para a Sé de Lisboa, o cardeal patriarca de Lisboa garantiu que a Igreja está empenhada em “fazer tudo” para enfrentar o drama dos abusos.

D. Manuel Clemente comentou os dados divulgados esta quarta-feira pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que confirmou ter aberto 15 inquéritos após as denúncias que recebeu da comissão independente e das comissões diocesanas: “Estamos a falar de muita coisa, muita gente, de muito lado, de maneira que 15 são os que são. Um já era demais!"

Quanto aos números da Comissão Independente, afirmou ter ficado "relativamente surpreendido, porque a Comissão Independente foi tendo encontros com jornalistas, foi dando números. Não fiquei totalmente surpreendido. Um já me teria surpreendido negativamente, mas aqueles números vêm na sequência" do que ia sendo anunciado.

O cardeal patriarca garantiu que a Igreja já está a dar resposta aos abusos, quer com as comissões diocesanas quer com a iniciativa de criar a Comissão Independente.

"É a resposta que já está a dar. Desde 2019, em todas as dioceses constituímos comissões diocesanas, com pessoas ligadas a ofícios como psiquiatria, psicologia, antigos magistrados, são pessoas que sabem do ofício não são eclesiásticos. Tem havido resultados bons na prevenção, e é isso que é pedido, antes de mais, para criar uma atmosfera de confiança e formação dos agentes pastorais, mais atenta a esta problemática, porque havia muita desatenção - não só na igreja, mas na sociedade em geral - para este problema, embora já tivéssemos tido aquele abanão há 20 anos, com a Casa Pia”, disse D. Manuel Clemente.

As denúncias recebidas nas comissões têm tido seguimento, quer “na parte canónica, quer civil”, para o Ministério Público, garantiu o patriarca, que também comentou as vigílias de oração que os católicos convocaram para esta noite, não só em Lisboa, mas em várias outras dioceses, considerando-as uma iniciativa “boa e cristã”.

"São iniciativas espontâneas da parte dos leigos, relativamente a tudo o que surgiu, de abusos. Têm esta vontade de, desta maneira, exprimir a sua solidariedade com as vitimas, são boas iniciativas. São cristãs”, referiu o cardeal patriarca.


Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:

- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.

Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa

- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.

Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.

Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt

- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.

São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.

Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.

Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:

- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica

Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+