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Mensagem de Quaresma

Bispo do Algarve diz que Igreja deve sentir-se obrigada a “assumir consequências” dos abusos

22 fev, 2023 - 15:52 • Ângela Roque

D. Manuel Quintas fala em “atos inqualificáveis” e defende formação que permita criar uma “cultura do cuidado e da transparência”, e uma “nova sensibilidade” para prevenir e denunciar todas as situações.

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Intitulada “Este é o tempo favorável” - citação retirada do Evangelho -, a mensagem do bispo do Algarve para a Quaresma convida os cristãos a enfrentarem e combaterem a “realidade inqualificável” dos abusos, revelada pelo recente relatório da Comissão Independente que os investigou a pedido da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

Considerando que “ninguém pode abafar ou ignorar este grito”, D. Manuel Quintas elogia a decisão da CEP pedir este estudo, “demonstrando coragem e decisão em conhecer a verdade sobre esta ‘chaga humana e social’ no âmbito da sua ação”.

Para o bispo, o tempo agora é de agir. “Se reconhecemos que ‘a verdade liberta’, também temos de assumir a responsabilidade que essa verdade reclama”, escreve, defendendo que “com o pedido de perdão a todas as vítimas, inclusive àquelas que não tiveram a coragem de o manifestar”, a Igreja se deve sentir obrigada a “assumir as consequências destes atos inqualificáveis, cometidos por quem devia ser defensor e não abusador dos mais frágeis, conscientes de que tudo o que possamos fazer apenas atenuará o sofrimento e a humilhação das vítimas”.

O prelado algarvio defende que se deve “promover ações de formação com todos os agentes de pastoral sobre este assunto, com o objetivo de criar uma ‘cultura do cuidado e da transparência’ em todas as instituições eclesiais”, que permita “incutir nas comunidades cristãs, e através delas na sociedade em geral, uma nova sensibilidade, de modo a prevenir e a denunciar situações que possam ocorrer na proteção e defesa das crianças, adolescentes e adultos vulneráveis”.

D. Manuel Quintas pede que nesta quaresma os cristãos não deixem de “escutar Jesus” e “escutar os irmãos em Igreja”, como exige o processo sinodal em curso, e apela à “partilha fraterna e solidária”, ajudando os “mais necessitados” através da habitual “Renúncia Quaresmal”.

“Nos últimos anos esta expressão ficou bastante limitada pelas contingências da pandemia”, lembra o bispo, revelando que, ainda assim, em 2022 se recolheram 10.550,00€ em donativos para ajudar a Diocese de S. Tomé e Príncipe, e que na recolha extraordinária no último Natal, “a favor da arquidiocese de Kiev, na Ucrânia, resultou a quantia de 27.731,29€, incluindo o donativo (2.400,00€) da comunidade ucraniana (greco-católicos) assistida pelo Pe. Trushko Oleg”.

Nesta Quaresma, que tem início esta Quarta-feira de Cinzas, e “por indicação do Conselho Presbiteral”, a renúncia da diocese do Algarve vai reverter para os “Missionários de Santa Teresa de Jesus” construírem uma Casa de Formação para 45 seminaristas na Diocese de Viana, em Angola.

A Quaresma é um tempo de 40 dias marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, em preparação para a Páscoa, que é a principal festa do calendário cristão.

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