22 fev, 2023 - 09:26 • Olímpia Mairos
O bispo da Diocese de Vila Real, D. António Augusto Azevedo, na mensagem quaresmal que dirige aos diocesanos indica que, neste tempo, “todo o Povo de Deus é convidado a caminhar com Cristo para celebrar com mais fé e espírito novo o mistério pascal”.
“Só caminhando como povo e com Cristo, em autêntico espírito sinodal, poderemos viver este tempo como tempo de renovação que nos permite evidenciar a marca pascal da fé cristã”, adverte.
Reportando-se ao relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, designada pela Conferência Episcopal Portuguesa, no qual foram validados 512 testemunhos, apontando a um número de 4.815 vítimas, entre 1950 e 2022, D. António Augusto Azevedo assume este caminho quaresmal “com o coração carregado de dor e tristeza por causa das notícias dos graves abusos cometidos contra crianças”.
“Levamos também o coração preocupado e angustiado com os infindáveis males da guerra, das injustiças e das calamidades que têm afetado a vida de tantas pessoas inocentes”, aponta.
“Sentimos o coração pesaroso e envergonhado com os pecados cometidos por cada um, praticados por ação, omissão, indiferença ou cobardia”.
No entanto, apesar de todos os males que atingem a Igreja e a sociedade, o prelado esclarece que “o nosso coração não pode deixar de desejar uma autêntica conversão”.
“Não podemos desistir de tudo fazer em ordem a uma purificação da vida da Igreja, de cada família e comunidade, sabendo que tal só será possível se começar por cada um de nós”, destaca.
O responsável da Diocese de Vila Real desafia, por isso, os cristãos a colocarem o olhar “em Jesus que carrega a cruz, o servo sofredor, com o rosto desfigurado e o corpo ferido, desprezado pela multidão e sem força para carregar a cruz”.
“Ele é a imagem da humanidade ferida bem como o sinal de um Deus solidário com as vítimas de todos os males. Mas é Ele que nos deixa o grande testemunho de que da morte pode ressurgir a vida - «Se o grão de trigo, lançado à terra não morrer, fica só, mas se morrer dará muito fruto» (Jo.12,23) - e nos ensina a pedagogia do perdão como condição para uma autêntica pacificação interior e exterior”, explana.
O bispo de Vila Real lembra ainda que neste último ano do triénio de celebração do centenário da diocese “fomos desafiados a «Frutificar com alegria»”.
E, para isso, aponta que “devemos começar por «exercitar a arte do discernimento espiritual, distinguindo na árvore da Igreja os ramos que estão vivos daqueles que já secaram e estão mortos» (T. Halik)”.
“O primeiro passo é o reconhecimento de que na nossa vida pessoal e eclesial há tanta coisa estéril e fútil porque está distante da palavra de Jesus e não é irrigada pela seiva do seu Espírito. Os exercícios quaresmais correspondem precisamente à necessidade de podar e deitar fora tudo o que está a mais, aquilo que não dá fruto e impede até a árvore de dar novos e mais abundantes frutos”, aponta.
E, para D. António Augusto Azevedo, “este é o tempo de cuidar da vinha do Senhor, a sua Igreja, de prestar mais atenção à árvore que representa cada comunidade e ao ramos constituídos por cada um de nós”.
“Urge cuidar do terreno para que esteja bem preparado de forma a escutar a Palavra de Deus e deixar que ela seja mais fecunda. Urge estar atento e vigilante de forma a resistir a todo o tipo de pragas ou ervas daninhas, tenham elas o nome de clericalismo, carreirismo, ambição de poder ou dinheiro”.
“Façamos um sério e eficaz jejum quaresmal, nomeadamente de tudo o que prejudica uma autêntica vida cristã em termos pessoais e de tudo aquilo que obscurece o rosto evangélico que a Igreja é chamada a ter”, pede o bispo diocesano.
Para D. António Augusto Azevedo, acima de tudo, importa reforçar os laços que nos unem à verdadeira videira que é Jesus Cristo e, por isso, convida neste tempo especial a cultivar “uma oração mais intensa e um silêncio mais medidativo que favoreçam um encontro forte com Cristo”.
“Vivamos de forma mais profunda os sacramentoss da Eucaristia e da Reconciliação, expressões supremas e sagradas do amor de Jesus Cristo por todos. Estas práticas sacramentais, mais do que preceitos, devem ser entendidas como dons que nos enriquecem e alimentam o nosso espírito para termos a energia capaz de produzir mais frutos”, assinala.
Lembrando que “a esmola e a partilha de bens pelos mais pobres foram sempre na Igreja sinais decisivos de conversão ao Evangelho”, o prelado diz que “cada cristão, família ou comunidade poderá encontrar as modalidades mais eficazes de as pôr em prática”, informando que na Diocese de Vila Real, a tradicional forma da renúncia quaresmal “destina-se ao Fundo Social Diocesano que foi constituído para socorrer e apoiar as pessoas e famílias que passam por maiores necessidades materiais”.