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Quaresma 2023

"Revolta e humilhação". D. José Ornelas pede perdão por abusos "repugnantes"

24 fev, 2023 - 08:47 • Olímpia Mairos

Renúncia quaresmal de Leiria-Fátima destina-se a “duas situações particularmente dramáticas: a guerra na Ucrânia, que já dura há um ano e o terramoto que atingiu de forma devastadora a Turquia e a Síria”.

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O bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas afirma na sua mensagem para a Quaresma que é “neste ambiente de conversão quaresmal” que a Igreja assume também “a revolta e a humilhação pelos abusos sexuais que se verificaram na Igreja em Portugal nos últimos decénios”.

“Sem entrar em polémicas sobre números - qualquer caso é uma enormidade injusta e dramática na vida de cada pessoa que foi vítima -, não podemos deixar de repudiar [os abusos], lamentar e pedir perdão a quem foi objeto de cada um destes repugnantes atos”, escreve o prelado.

E, para D. José Ornelas, “repudiar e pedir perdão só têm sentido, porém, se significarem igualmente uma atitude ativa de não-resignação e de determinada e concreta atitude de ir ao encontro de que foi tão injustamente tratado e corajosamente se ergueu para denunciar, colaborando na reconstrução das suas vidas”.

“Deixar-se converter significa igualmente fazer justiça a esse sofrimento, tomando todas as medidas para evitar que se repitam e, na medida do possível, tratar igualmente daqueles que foram autores desses atos”.

Segundo o responsável da Diocese de Leiria-Fátima, este é um tema que “não pode fugir do caminho quaresmal”.

“Tomar a sério este drama será um modo de purificar e transformar positivamente a Igreja”, sinaliza.

Para o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), “reconhecer o mal, em nós e à nossa volta, à luz do olhar verdadeiro e misericordioso de Deus, é o início da conversão quaresmal que forja pessoas livres (livres daquilo que é só imediato e autorreferencial); pessoas que constroem solidamente e solidariamente a própria felicidade e um futuro luminoso à sua volta”.

“Esse olhar libertador não se fecha em si mesmo, mas leva a caminhar em direção aos outros e em direção a Deus”, sublinha.

D. José Ornelas aponta ainda para este tempo quaresmal “a conversão para a transformação sinodal da Igreja em que estamos empenhados”.

“O caminho sinodal deve converter as nossas atitudes concretas e o modo de organização das nossas comunidades. Na Igreja, não estamos simplesmente para assistir: Deus chama-nos a participar e a integrar a vida da nossa comunidade, na escuta da Sua Palavra, na oração, na comunhão e na missão comuns. A nossa conversão há de exprimir-se na participação, perguntando-nos diante de Deus: em que é que posso colaborar na missão comum”, explica.

E “uma expressão da sinodalidade, que faz parte da nossa conversão, na Quaresma deste ano, é a Jornada Mundial da Juventude que se realiza em Portugal, no próximo mês de agosto”, escreve o prelado, assinalando tratar-se de “uma ocasião única de fazer a experiência de uma Igreja que fala todas as línguas e se exprime em todas as culturas da terra”.

“Acolher e viver a universalidade da Igreja, com os muitos milhares de jovens que chegarão a Portugal no próximo verão, significa estar presente, especialmente para os jovens. Para todos, trata-se de acolher e de colaborar para que essa festa da juventude, iluminada pelo Evangelho, possa acontecer entre nós”.

A concluir a sua mensagem, o bispo de Leiria-Fátima assinala que “a transformação do Evangelho nunca é uma questão simplesmente interna de uma pessoa, de uma paróquia ou da Igreja no seu todo”, mas “a Igreja cumpre a sua missão quando sai de si mesma ao encontro daqueles que, em qualquer parte do mundo, têm particular necessidade de ajuda”.

Neste contexto, informa que nesta Quaresma, “de tantas situações difíceis do mundo em que vivemos”, a diocese vai destinar a sua renúncia quaresmal para “duas situações particularmente dramáticas: a guerra na Ucrânia, que já dura há um ano, e o terramoto que atingiu de forma devastadora a Turquia e a Síria”.

“Destinaremos, pois, o produto da renúncia quaresmal deste ano a minorar o sofrimento destas populações devastadas pela guerra e pelos desastres naturais”, informa o bispo diocesano, desejando que “o esforço e a renúncia que assumimos como caminho de Quaresma, possa ser colocada nas mãos de Deus para chegar a quem precisa urgentemente de ajuda”.

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