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“Há gente a morrer” em consequência do ciclone Freddy, alerta bispo de Quelimane

21 mar, 2023 - 07:10 • Olímpia Mairos

O prelado pede ajuda para alimentação e para a aquisição de redes mosquiteiras para se evitar, ao máximo, a propagação da cólera.

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O bispo de Quelimane, Moçambique, diz que o ciclone Freddy deixou um imenso o rasto de destruição e alerta para a fome que está a atingir a região.

Em entrevista à Fundação AIS, D. Hilário Massinga descreve um cenário dramático com pessoas a morrer de fome e também de cólera. E pede ajuda.

“O povo neste momento não tem o que comer. As pessoas estão a passar fome. Estão mesmo a passar fome! E temos um problema adicional que é a cólera. Aqui há gente a morrer”, diz o prelado, aludindo à falta de saneamento básico que está a agravar a situação.

Segundo o bispo, a Cáritas tem estado na linha da frente distribuindo às pessoas os poucos quilos de comida que tinha conseguido angariar, mas que “não é nada para a muita gente” que vive na diocese. Daí o pedido de ajuda.

A prioridade é a alimentação dos que perderam tudo o que tinham, mas a distribuição de redes mosquiteiras é também essencial para se evitar, ao máximo, a propagação da cólera.

“Praticamente todas as casas perderam os tetos. Mesmo que se tente repor alguma chapa que esteja por ali, já não é a mesma coisa. As casas continuam estragadas. Esperamos também conseguir um apoio para podermos ter redes mosquiteiras. Porque mesmo sem teto, quando se tem a rede mosquiteira, ao menos atrasa o efeito da cólera”, diz à AIS o responsável pela Diocese de Quelimane, a mais atingida pela passagem por Moçambique do ciclone Freddy.

Todas as igrejas sem telhados

“Todas as nossas igrejas, todas as nossas casas, residências, juntamente com as do povo, estão sem teto neste momento. Estamos muito atrapalhados com isso”, diz D. Hilário, adiantando que os responsáveis da diocese têm vindo a pedir ajuda pois a situação é muito difícil e há paróquias onde ainda não foi possível chegar “pois não há condições de circulação”.

Face à dimensão da tragédia, as populações sentem falta de apoio. “Estamos a lutar por nossa conta, com aquilo que podemos” explica, alertando para o facto de a cólera ser agora a ameaça maior.

“Em alguns bairros as mortes são diárias e isso preocupa-nos. [São pessoas] que morrem de cólera e ninguém diz nada… mas são muitas pessoas”, alerta.

Neste contexto, D. Hilario lança um apelo à solidariedade do mundo face à dimensão da tragédia que atingiu a região e face também à brutal falta de recursos para o apoio a estas populações. Um apelo que inclui a Fundação AIS.

“Gostaríamos de ter apoio para a reabilitação das residências e das igrejas, que é a vocação da AIS, mas a urgência é a alimentação porque o nosso povo está em maus lençóis, as pessoas estão mesmo a passar fome”, conta.

A passagem do ciclone por Moçambique foi especialmente grave nos dias 12 e 13, e afetou a província da Zambézia com particular incidência na região de Quelimane, mas deixou um rasto de destruição também em Niassa, Sofala, Manica e Tete. A estrada principal do país, por exemplo, ficou cortada em Quelimane, dificultando também o acesso de ajuda de emergência, e pelo menos sete pontes foram destruídas.

As Nações Unidas já destinaram 5,2 milhões de euros, ao abrigo do Fundo Central para Emergências, para ajudar as pessoas afetadas pelo ciclone tropical Freddy, no Malaui, que já fez quase 500 mortos, somando-se 66 em Moçambique.

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