30 abr, 2023 - 21:25 • Aura Miguel
Na conferência de imprensa a bordo do avião de regresso a Roma, Francisco falou de acolhimento e de paz, que se faz "sempre estendendo as mãos, nunca com o fechamento” e de uma missão em andamento para favorecer a trégua na Ucrânia.
“É um problema de humanidade”, disse o Papa aos jornalistas referindo-se ao pedido do primeiro-ministro ucraniano que lhe pediu ajuda para que cerca de 15 mil crianças ucranianas levadas para a Rússia, regressassem a casa.
A propósito de uma pergunta da Renascença, Francisco garantiu que deseja participar na JMJ e disse, referindo-se ao seu recente internamento no Hospital: “Não perdi os sentidos."
Creio que a paz se faz sempre abrindo canais, nunca se pode fazer a paz com o fechamento. Convido todos a abrir relações, canais de amizade, mas isto não é fácil. O mesmo discurso que fiz no geral, fiz com Orbán e o fiz um pouco em todos os lugares. Sobre as migrações: creio que seja um problema que a Europa precisa assumir, porque são cinco os países que mais sofrem: Chipre, Grécia, Malta, Itália e Espanha, porque são os países mediterrâneos e a maioria desembarca ali. E se Europa não assumir esta questão, de uma distribuição equitativa dos migrantes, o problema será somente daqueles países. Creio que a Europa deve fazer sentir que é União Europeia também diante disto.
(…)
Sobre o Metropolita Hilarion, é alguém que eu respeito muito, e sempre tivemos um bom relacionamento. E ele teve a gentileza de vir me ver (na nunciatura) depois esteve na Missa e vi-o também no aeroporto. Hilarion é uma pessoa inteligente com quem se pode conversar, e estas relações precisam de ser mantidas. Temos que ter a mão estendida a todos e também receber a mão que nos estendem.
Pode imaginar que nesse encontro não falámos só do Chapeuzinho Vermelho… Falámos de todas essas coisas, porque todos estão interessados no caminho da paz. Eu estou disposto a fazer o que for preciso. Além disso, uma missão está em andamento agora, mas ainda não é pública… Quando for pública eu direi.
Em primeiro lugar, a saúde. O que eu tive foi um forte mal-estar no final da audiência de quarta-feira, não tive vontade de almoçar, fiquei um pouco deitado, não perdi a consciência, mas sim, tive uma febre muito alta e às três da tarde o médico levou-me imediatamente para o hospital.
Tive uma forte pneumonia aguda, na parte inferior do pulmão, mas graças a Deus, posso-vos dizer que o corpo reagiu bem aos tratamentos. Foi isso que eu tive. Sobre Lisboa: na véspera da minha partida falei com Dom Américo que veio ver como estão as coisas. Sim, eu vou, eu vou.
Espero conseguir, vocês percebem que já não é a mesma coisa de há dois anos atrás, agora com a bengala estou melhor e, por enquanto, a viagem não está cancelada.
O D. Américo tem algo em mente, disse-me que está a preparar alguma coisa. E está a preparar bem.
Mas este é o sétimo mandamento: se você roubou, deve devolver. Mas há toda uma história, que às vezes as guerras e as colonizações levam a tomar decisões de pegar as coisas boas do outro. Este foi um gesto correto, devia ser feito: o Partenon, dar alguma coisa. E se amanhã os egípcios vierem pedir o obelisco, o que faremos? Mas aí deve ser feito um discernimento em cada caso.
A restituição das coisas indígenas está em andamento com o Canadá, pelo menos estávamos de acordo em fazê-lo. Agora vou perguntar em que ponto está. Mas a experiência com os aborígines do Canadá foi muito frutuosa.
(…)
Na medida em que é possível restituir, que é necessário, que é um gesto, é melhor fazê-lo. Às vezes não é possível, não existe possibilidade política, real, concreta. Mas na medida em que se pode restituir, por favor, que seja feito; isso faz bem a todos. Para não se acostumar a colocar a mão no bolso dos outros.
Penso que sim, porque a Santa Sé atuou como intermediária em algumas situações de troca de prisioneiros e através da embaixada, correu bem. Penso que isto também pode correr bem.
É importante, a Santa Sé está disposta a fazê-lo porque é justo, é uma coisa justa e nós devemos ajudar, para que isto não seja um casus belli, mas um caso humano. É um problema de humanidade antes de ser um problema de um saque de guerra ou movimento de guerra.
Todos os gestos humanos ajudam, ao invés, os gestos de crueldade não ajudam. Temos de fazer tudo o que é humanamente possível.