23 jun, 2023 - 08:30 • Ana Catarina André
Já anoiteceu. Junto ao adro da Igreja de Nossa Senhora do Castelo, em Sesimbra, a música popular, as luzes e os enfeites coloridos anunciam que é dia de festa. Há bifanas, sardinhas e caldo verde para venda e cerca de uma dezena de espaços onde é possível comprar manjericos, mas também artesanato e outras peças. Aqui e ali vê-se a logotipo da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Há mesmo uma moldura portátil com a cara do Papa Francisco, onde é possível tirar fotografias. E dois murais feitos com materiais reciclados com a imagem do evento que alertam para a importância da ecologia integral.
“Decidimos organizar este arraial para chamar a atenção da comunidade para a Jornada Mundial da Juventude. A partir de agora vamos passar a dedicar-nos inteiramente à preparação”, explica João Gato que, aos 25 anos é o responsável do comité organizador paroquial, a equipa que coordena os trabalhos necessários para que seja possível acolher ali cerca de 3000 peregrinos. É preciso garantir alojamento para todos, bem como os necessários recursos humanos e materiais para que isso tudo possa acontecer da melhor forma.
Nos últimos meses, a paróquia do Castelo de Sesimbra tem dinamizado diversos momentos de oração, mas também de convívio e de angariação de fundos em torno da JMJ. “As pessoas estão cada vez mais cientes desta realidade e perguntam-nos como podem ajudar”, conta Sara Trindade, também ela pertencente ao comité organizador paroquial. “É giro que temos tido pessoas a dizer: ‘não posso ajudar de uma forma, mas contribuo de outra. Aceitam?' E nós respondemos: ‘Claro que sim’. Quando cada um dá o que tem e pode e isso é muito bom. Faz crescer a própria comunidade”.
Além dos preparativos logísticos e pastorais, a paróquia propôs-se também, juntamente com a vigararia de Setúbal e a paróquia de Vila Nova da Caparica, a financiar a vinda à JMJ de Lisboa de oito peregrinos do Butão, país asiático de maioria budista. “É uma realidade muito diferente da nossa. O Butão tem 100 cristãos. Ao trazermos oito a dez peregrinos trazemos 5% a 10% da população cristã do país. Vai ser uma grande responsabilidade”, afirma João Gato, entusiasmado.
Para o pároco, o padre Eduardo Nobre, os últimos meses têm sido “gratificantes”. A preparação para o encontro mundial dos jovens com o Papa Francisco, em Lisboa, tem envolvido a comunidade. Mas não só. “Pessoas que estavam adormecidas têm aparecido na paróquia para dar a sua colaboração. Algumas tinham desaparecido na pandemia, sobretudo jovens”, diz.
88 mil peregrinos na diocese de Setúbal
O Comité paroquial do Castelo de Sesimbra é um dos 48 que na diocese de Setúbal prepara o acolhimento de peregrinos durante a semana da JMJ. Ao todo, prevê-se que fiquem alojados neste território 88 000 jovens, dos quais 18 000 ficarão na vigararia do Seixal, 16 000 na de Setúbal e 14 000 na Caparica – os restantes serão acolhidos no restante território.
Neste momento, as paróquias ainda estão a angariar voluntários – são já 1700. Têm apelado também a que mais famílias de acolhimento se inscrevam para alojar em sua casa participantes na JMJ – são cerca de 560 atualmente –, e feito a validação de espaços de alojamento coletivo, entre os quais escolas, pavilhões desportivos e quartéis de bombeiros.
João Marques, responsável do comité organizador diocesano de Setúbal (COD), o organismo responsável pela coordenação da JMJ nesta região, destaca o protagonismo dado aos jovens neste processo. “A maioria das equipas são coordenadas por jovens, mesmo tendo pessoas de outras idades. Isso tem refrescado a vida as comunidades não só em torno da pastoral juvenil, mas de toda a pastoral”, diz, explicando que na diocese as paróquias são, regra geral, “relativamente pequenas”, com poucos recursos. “Tem sido um caminho muito bonito e interessante”, sublinha. “São pessoas que agarraram este desafio de preparação da JMJ com grande sentido de responsabilidade e missão.”
A ausência de bispo em Setúbal – aguarda-se a nomeação do sucessor de D. José Ornelas que saiu o ano passado – tem sido um desafio, assume João Marques. “Confesso que um bispo era importante para nos motivar e incentivar e também para mobilizar as comunidades.”
“Vejo os jovens muito motivados”
A coordenação diocesana de todos os trabalhos de preparação para a Jornada Mundial da Juventude é feita por uma equipa com 40 pessoas, a maioria dos quais voluntários. Há apenas três elementos com dedicação a tempo inteiro. Gabriela Godinho é um desses casos. Terminou a licenciatura o ano passado em gestão de distribuição e logística, e decidiu tirar um ano sabático para se dedicar à JMJ. “Faço o que é necessário aqui no COD”, explica, sublinhando o entusiasmo crescente à medida que se aproxima o início do encontro em Lisboa. “Apesar de algum cansaço natural, vejo os jovens muito motivados. Queremos receber peregrinos. Sabemos que, mesmo não estando cara-a-cara com o Papa, se o virmos a três quilómetros vai ser enriquecedor”.
Uma certeza partilhada também por Vasco Gonçalves, também ele membro do COD. Aos 33 anos, já participou em quatro edições da JMJ e agora diz que “é tempo de servir”. “É uma oportunidade única”, afirma, recordando o impacto do evento. “Quando chegamos a uma Jornada Mundial da Juventude percebemos que existem milhões de jovens que acreditam como nós. Somos uma gota num oceano de crentes.”