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Jornada Mundial da Juventude 2023

JMJ. Um adiamento e uma pandemia depois, conheça o trabalho de bastidores

18 jul, 2023 - 08:00 • Filipa Ribeiro

O primeiro grupo de trabalho da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa reuniu-se pela primeira vez em 2019. Agora, a sede com três pisos alberga dezenas de voluntários e organizadores, entre eles uma equipa que atende chamadas de todo o mundo.

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Reportagem nos bastidores da JMJ

“Esperávamos, desejávamos, conseguimos: vitória!” foi esta a reação do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa quando em janeiro de 2019 foi anunciado que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) se viria a realizar em Lisboa, inicialmente em 2022.

O anúncio foi feito durante a JMJ no Panamá e era lá que estava Paulo Franco, pároco do Parque das Nações. Tinha chegado ao Panamá uma semana antes. “Fui procurar conhecer um bocadinho como é que a organização estava a decorrer e os seus meandros, numa lógica de depois me disponibilizar para colaborar na organização do evento cá, em Portugal”, conta.

Pelo papel que desempenhava na Diocese de Lisboa e enquanto pároco do Parque das Nações sabia que teria sempre algum envolvimento na organização, mas é só mais tarde, já no verão de 2019, em Julho, que recebe um convite de D.Américo Aguiar para fazer parte do primeiro grupo de trabalho. “Convidou-me para fazer parte do primeiro grupo de preparação. No meu caso particular, foi-me pedida colaboração na área logística que, no fundo, é a garantia para que tudo aconteça”, recorda.

O padre Paulo Franco ficou nas mãos com um dos maiores desafios na organização da jornada de Lisboa. Recebeu-nos na sede da Fundação JMJ, num escritório com duas mesas amplas, onde se tomam algumas das decisões. “Vivi este desafio com toda a minha disponibilidade, que é própria da minha vida de padre. Não me poderia colocar de fora”, diz.

Assim que lhe foi entregue o desafio, Paulo Franco começou logo por identificar pessoas com disponibilidade para trabalhar em regime voluntário e pós-laboral, para que começasse a desenhar os planos e as tarefas para o evento. “Selecionei as pessoas e dividi-as por equipas, para que começassem a organizar as tarefas." Este primeiro trabalho de organização durou entre setembro de 2019 e o início da pandemia.

Pandemia. E agora?

Tendo como responsabilidade a área logística, a pandemia atrasou e complicou os planos do padre Paulo Franco. O sacerdote sublinha que na área logística é muito importante o contacto entre todos os intervenientes, desde a Câmara municipal às empresas envolvidas na montagem. “Continuamos a trabalhar durante a pandemia, mas num registo muito diferente", recorda. "As reuniões eram todas à distância, só quando houve abertura é que tínhamos as mais importantes presencialmente”.

A pandemia chegou a aumentar o cargo dos trabalhos de quem tinha de organizar um evento com esta dimensão. Paulo Franco sublinha “que mesmo apesar de ter adiado a Jornada Mundial da Juventude mais um ano, para 2023, desenhamos todo o evento para um contexto de pandemia que só no final de 2022 percebemos que já não seria real”.

Com a pandemia ficou muito trabalho em atraso. O padre Paulo Franco sublinha que depois do final decretado já no final do ano passado é que os parceiros conseguiram começar algumas das coisas mais exigentes. “Tivemos de dar corda ao relógio, trabalhar horas sobre horas e fazer as tripas coração”, conta.

Atualmente, já conseguem respirar de alívio. Os trabalhos já estão na fase operativa, faltam alguns acabamentos. Questionado sobre o que falta fazer, enumera a preparação dos recintos, os acabamentos nos vários palcos, a colocação de sinaléticas nos recintos, a entrega de "kits" para os peregrinos às paróquias, sublinhando que tudo está dentro do prazo previsto.

É a primeira vez que o Paulo Franco tem a responsabilidade de ajudar um evento de grande dimensão. Confessa que são muitos os desafios. Questionado sobre as dificuldades, aconchega-se na cadeira e sorri. “A questão da mobilidade”, faz uma pausa. Prossegue: "Não é por ser em Portugal, este problema existe também noutros locais porque a mobilidade nas grandes cidades está dimensionada e às vezes subdimensionada para quem lá vive, quanto mais colocando mais 20%, 30% ou 80% da população, mais complicado será."

Paulo Franco reconhece que a mobilidade vai ser um tema difícil e afirma que todos estão preparados para ele. Defende que o ideal é andar a pé e que mesmo com os reforços pensados pode não ser atingido o ideal. “Acontece em todas as jornadas, mas temos de acreditar que vai correr bem”, diz.

“Uma vez, estávamos numa reunião difícil exigente e alguém disse: temos que deixar o Espírito Santo entrar. De repente faz-se um estrondo há uma janela que abre e entra vento por aí a dentro que ficámos num silêncio sepulcral”

A par de todos os problemas de mobilidade, foram criados planos de contingência. Paulo Franco não quer dar pormenores para não criar ansiedade, mas garante que todos preveem problemas dos mais pequenos aos maiores, desde um pneu de um autocarro que fure até uma eventual queda de ponte.

Na escala das dores de cabeça, depois da mobilidade está a alimentação. “Estamos a falar de muita gente que não sabemos onde vai estar a cada momento”, argumenta.

Devido a esta imprevisibilidade, as equipas que estão sob responsabilidade do padre Paulo acautelaram parecias com várias redes de restauração que vão ter um menu peregrino. “O peregrino pode ir a esse restaurante e pagar o menu com m QR CODE que vai ter na credencial. Esse código dá acesso gratuito ao menu que é depois pago por nós”. Para além dos restaurantes o menu peregrino também vai estar disponível com vários produtos que podem ser levantados em determinados supermercados. Nos recintos principais, vai também haver um recinto de espaços para refeições.

Entre os vários ensinamentos que tirou deste trabalho dos últimos anos, o padre Paulo Franco sublinha que o primeiro é de que "nada se faz sozinho e de que precisamos sempre dos outros, o outro é que o facto de precisarmos do outro dá-nos a lição da necessidade de se crescer na humildade. “É a coisa mais importante numa Jornada Mundial da Juventude”, diz.

Contact Center da JMJ e a chamada de mais de três horas

No fundo do terceiro piso da sede da fundação da Jornada Mundial da Juventude fica o Contact Center. Numa sala distribuídos por várias mesas com auscultadores e microfone estão dezenas de voluntários. Uns falam espanhol, outros português, francês, nglês e ainda há quem fale italiano. São estas as 5 línguas oficiais que se conseguem perceber no ruído da sala, muito característico de um call center.

Têm um computador na secretária com um programa próprio para responder às chamadas e aos emails.

Chegam sempre por volta das 9h00 e ligam o programa, depois esperam que as chamadas fiquem em linha.

Ana Lucas é irmã dominicana de Santa Catarina de Sena. Senta-se numa das mesas do fundo deste contact center, é uma das voluntárias que atende as chamadas da linha de apoio da JMJ. Descobriu a sua vocação em 2014 e estava na Albânia quando foi chamada para trabalhar na sede da fundação da Jornada Mundial da Juventude. “Cheguei cá a 16 de Janeiro, eu estava na Albânia. Foi uma surpresa porque eu estava lá desde 2019 com a missão de preparar um grupo de jovens para depois os trazer para a Jornada Mundial da Juventude cá. Estava lá nesse âmbito quando me contactaram para vir, fiquei feliz por voltar ao meu país, mas também com nostalgia e tristeza pelo trabalho que estava a deixar lá”, confessa.

Pouco tempo depois de ter chegado percebeu que iria ser voluntária no contact center da JMJ 2023. Confessa que já tinha trabalhado num contacta Center entre 2007 e 2009 numa grande empresa na área da faturação, mas confessa que neste call center é completamente diferente, a liberdade é outra. “Somo sempre uma presença junto dos peregrinos”, diz. Confessa que quando a chamaram para atender chamadas achou tudo “completamente fora de cena” reconhecendo que ter tido já essa experiência a ajuda na forma como fala com as pessoas que ligam.

Diariamente atende entre 10 e 20 chamadas. A Irmã Ana Lucas é a atual detentora da chamada mais longa. “Foram três horas e vinte minutos”, começa por contar de sorriso no rosto, “estive com um peregrino de Inglaterra, que era português ao telefone até que todo o processo de inscrição fosse feito, do início até ele pagar, sempre comigo em linha”, recorda.

Atendem chamadas de peregrinos, voluntários, famílias de acolhimento e até de jornalistas. Maioritariamente as dificuldades dão-se sempre no processo de inscrição. De acordo com a irmão Ana o dia mais difícil foi mesmo do 30 de junho - quando terminou as inscrições para alojamento. “Este call center esteve a arder das 9h00 às 17h00”, conta, acrescentando que nesse dia os horários foram prolongados para que fosse dar possível aos milhares de emails recebidos.

A irmã Ana ucas está feliz com a nova missão que lhe foi atribuída. À Reportagem da Renascea conta que o processo até perceber a sua vocação foi demorado. Percebe em 2013 quando foi fazer um ano de voluntariado em Timor-Leste. Quando regressou dizia que não queria ser freira, mas a vontade de ir em missão ficou sempre no pensamento, acabou por em 2014 entrar como noviça nas Dominicanas de Santa Catarina de Sena e em 2017 torna-se freira.

O trabalho que está a desempenhas no contcat center da JMJ desde o início do ano é a sua terceira missão.

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