26 jul, 2023 - 06:00 • Tomás Anjinho Chagas , enviado a Madrid
Começam esta quarta-feira a chegar a Braga os autocarros vindos de Espanha que vão trazer milhares de peregrinos para a cidade minhota para assistir à Jornada Mundial da Juventude.
No início da semana, a Renascença esteve no edifício que serviu de sede para a JMJ de Madrid, em 2011, e que agora foi o quartel-general para preparar a ida de peregrinos para Lisboa.
É um pequeno apartamento no centro de Madrid, junto à Plaza San Juan de la Cruz, com três divisões. No interior trabalha-se silenciosamente e o nervosismo acompanha a rotação dos ponteiros do relógio: faltam 48 horas para saírem em direção da Lisboa. Têm à responsabilidade mais de 6.600 peregrinos que são transportados em 123 autocarros.
Trabalham obstinados e só tiram os olhos dos ecrãs quando são importunados pela reportagem da Renascença. “Estou a verificar os alojamentos e os autocarros”, explica Miriam Blanco, que trabalha todo o ano para o secretariado da Juventude da arquidiocese de Madrid, mas que por estes dias gostaria de multiplicar as horas que tem disponível por dia.
Sente o peso da responsabilidade e questionada sobre com que espírito se prepara uma operação desta envergadura, é sintética e bem-humorada: “Com muita paciência! Tento estar atenta aos detalhes e ter tudo em conta para conseguir levar tudo a bom porto”, especifica Miriam Blanco.
Estes peregrinos partem do Wanda Metropolitano, o estádio que serve de casa ao Atlético de Madrid e vão diretos a Braga. A arquidiocese minhota vai distribuir os jovens entre Vila do Conde, Esposende e Barcelos, onde os peregrinos se vão dividir e ficar alojados em famílias ou pavilhões desportivos.
Na mesma mesa, mas na outra ponta, está Luís Melchor, padre e diretor desta delegação. Esteve envolvido na organização de várias JMJ, incluindo na linha da frente quando foi realizada em Madrid, em 2011. Mas nem isso alivia o stress: “Para mim, cada Jornada deixa-me nervoso”.
Conversa tranquilo, mas sabe que não tem muito tempo. Em um par de horas estará a celebrar a Missa em Três Cantos, uma localidade a meia hora de Madrid se a distância for percorrida de carro.
Ainda que ostente com orgulho o facto de ter estado envolvido na materialização da Jornada de Madrid, assume ter dúvidas se conseguia repetir o feito: “Não sei se tenho vontade e capacidade de organizar outra”, diz abanando a cabeça e com um sorriso honesto.
A experiência permite-lhe dizer que depois da JMJ em Lisboa, a contestação vai dissipar-se: “Ao princípio sim, houve muitos protestos. Mas quando passaram os peregrinos a cantar e a dançar, muitos deles perguntavam-me quando é que ia haver outra JMJ”, recorda o sacerdote, puxando a fita do tempo 12 anos.
“Estou convencido que vai acontecer o mesmo em Lisboa”, aposta Luís Melchor. “Há gente que acha que isto é um concerto ou uma manifestação, e não é exatamente isso”, distingue o padre que se apresenta com calções de banho e t-shirt. A indumentária é mais descontraída de manhã, nas funções de organizador, e só veste a batina da parte da tarde.
Com o saber acumulado de nove Jornadas, lança o desafio a quem está agora na pele de organizador: “Vamos aguentar um pouco as críticas e os protestos. Quando acabar, e depois de a cidade ser inundada de juventude e alegria, vamos ver o que dizem os que estavam a protestar”, provoca.
Luís Melchor considera que “a maior parte das pessoas em Madrid” fazem um balanço positivo da JMJ de 2011 e sai esta quarta-feira para Lisboa com mais de 2 mil peregrinos. Os restantes arrancam depois para Portugal.
Na divisão ao lado, há três voluntários que vão carburando em contrarrelógio. Trabalham em áreas diversas e acertam pormenores que só existem para alguém que está do lado de dentro. “Eu estou a fazer a lista das alergias dos peregrinos para enviar para Braga”, explica uma delas. Há que evitar reações alérgicas dos jovens que vêm para Lisboa e dispensam uma passagem pelo hospital.
“Eu estou a fazer a lista dos jovens de outros sítios que vão passar por aqui para sair connosco para Braga”, assinala o colega do lado. É a primeira vez que vai a uma JMJ, e começa logo pela organização.
Há quem tenha feito o percurso inverso: “Estive na JMJ de Cracóvia como peregrino, nada de organizar. Nos meses anteriores não fiz nada, só me preparei interiormente e arrumar a mala”, conta Pablo Murga. Agora a empreitada é maior e vai também partir do estádio do Atlético de Madrid para a capital do Minho.
A partilhar a secretária está Reyes Vallano, outra voluntária que já conta com outras JMJ no currículo, mas que também se estreia na organização. Enquanto ultima os detalhes da viagem coletiva, garante que “não está nervosa” porque “não há tempo para isso”. Ao contrário da maioria, preferia acelerar o calendário: “Só queria estar lá agora”.
A JMJ em Lisboa poderá ser a última do Papa Francisco, que tem aparecido em público com problemas de saúde. Mas isso não a preocupa: “Não me preocupa. Não foi o primeiro Papa, nem vai ser o último. É sempre um privilégio este encontro. Talvez eu nem chegue a Lisboa e o Papa Francisco chegue, os tempos de Deus são os tempos de Deus”.