06 ago, 2023 - 02:23 • Libânia Gomes*
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O penúltimo dia da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Levantamo-nos ligeiramente mais tarde do que é costume, mas não há tempo para andar devagar.
Temos de arrumar tudo rápido para fechar a escola e deixar as nossas malas noutra escola. O dia é uma corrida contra o tempo e uma luta para apanhar os transportes públicos, até ao Campo da Graça, para ir ter ao encontro do Papa Francisco. Assim como o meu grupo, todos os outros se dirigem até lá, afinal, é no grande palco junto ao rio Tejo que se finaliza este evento.
Os transportes foram, surpreendentemente, a parte mais fácil desta deslocação. Quando saímos do autocarro na Gare do Oriente, aí sim começa a travessia. Não consigo dizer ao certo quanto tempo terá sido, pareceram horas intermináveis.
Com o peso todo às costas, o calor abrasador e a multidão em volta, esta caminhada foi, sem dúvida nenhuma, a mais difícil de todo o encontro (mesmo não sendo a mais longa). Mesmo após sermos regados pelos bombeiros algures pelo caminho, não se tornou muito mais fácil, pois cinco minutos depois já estávamos secos.
Não se pode imaginar o espanto de quem chega ao setor C e dá de caras com um campo de terra batida e pedregulhos. Eu podia jurar que as imagens veiculadas pelos média incluíam sempre espaços relvados. Assim, à espera de horas num campo sem sombras, podemos adicionar também a constante de pó pelo ar, a terra nos sacos de cama e o ocasional pedregulho debaixo do colchonete. Para além disto, os kits de peregrino acabaram e algumas pessoas ficaram sem comida para as três refeições que deveriam ser feitas dentro deste espaço.
Assim que começa a vigília, com 1,5 milhões de pessoas no Parque Tejo, percebemos que os ecrãs são extremamente pequenos para a quantidade de espaço que devem abranger e que uma única pessoa estar a pé pode significar que não vamos conseguir ver nada do que se está a passar.
O eco também não ajuda. Quanto mais para trás se presta atenção, mais se percebe o quanto as pessoas estão a fazer barulho. Uma celebração ao ar vivo tem destas coisas: é mais envolvente, mas o que se envolve não é garantidamente positivo.
Mas o melhor estava para vir. A Vigília é, tal como todas as celebrações até agora, espetacular. A incorporação de aspetos artísticos e tecnológicos numa ocasião religiosa não cria qualquer atrito. Pelo contrário, torna-a mais viva, dinâmica e do mundo real.
Mais uma vez, tenho também o privilégio de ouvir o concerto do padre Duarte Rosado. Desta vez, aproveito para conversar com amigos, jogar às cartas e matar o tempo até à hora de dormir.
O ambiente no fim da noite não é calmo, embora se encontrem pessoas a dormir por todos os cantos. Ainda há festa, alegria e música no ar. Algo me diz que vai durar a noite toda.
*Libânia Gomes tem 20 anos e é estudante de Ciências da Comunicação. Vem à Jornada com o grupo da Pastoral La Salle de Barcelos (grupo antigo e integrado na rede de colégios de La Salle que existem por todo o mundo), do qual faz parte há nove anos. Foi desafiada a escrever um diário da sua Jornada e vai partilhar todos os dias com a Renascença a sua experiência, num relato na primeira pessoa.