29 set, 2023 - 00:51 • Ângela Roque
“Para onde quer Cristo que caminhe a sua Igreja de Lisboa?”. A pergunta foi entregue a cada um dos jovens que se reuniram com o Patriarca num bar da movimentada rua de São Paulo, junto ao Cais do Sodré. Escrita numa folha A4, com muito espaço em branco para a resposta, seguiu em envelopes já selados e com a morada de D. Rui Valério, que promete ter em conta tudo o que lhe disserem.
“Quero ouvi-los, escutá-los, convocá-los”, porque “a Igreja só atrairá jovens, se eles não vierem para assistir. Os jovens requerem protagonismo”, sublinhou aos jornalistas.
Esta quinta-feira foi o que fez, num encontro onde conversou, conviveu, aceitou tirar selfies, e só falou mesmo no final, para pedir aos jovens que “ponham a diocese em estado de missão”, que aprofundem a relação com Deus e que, a si, o ensinem a “saber escutar”.
“A partir de agora junto à palavra ‘juventude’ está a palavra espiritualidade”, afirmou, lembrando a herança da JMJ, que mostrou que é possível fazer mais e melhor, o que responsabiliza agora toda a igreja, mas em particular a de Lisboa, que depois do encontro de agosto continua a ser farol.
”Verdadeiramente, Lisboa ainda não deixou de ser a capital universal. Falo disto porque tenho ainda contacto periódico com os bispos militares de outros países e eles, não digo que seja todos os dias, mas continuam a perguntar ‘então e agora, para onde vão? O que fizestes?’. Continuamos a ser, à nossa maneira, uma fonte de inspiração”, disse aos jornalistas.
O convite do patriarca teve grande acolhimento. “Inscreveram-se 130 jovens, tivemos de fechar a inscrições”, disse à Renascença João Clemente. Quem ia chegando não escondia o entusiamo com o facto de D. Rui Valério ter escolhido um espaço de diversão noturna para o primeiro encontro com os jovens da diocese.
“É uma aproximação, é ir ao encontro de cada um. Estamos aqui, no centro da cidade, realmente é uma experiência para continuar o caminho da Jornada, porque os jovens querem participar! Nós queremos estar dentro da Igreja, fazer o que fôr preciso, queremo-nos pôr ao serviço”, diz João, da paróquia de Linda a Velha. Ao seu lado Cecília acrescenta que estar ali “mostra que a Igreja quer estar mesmo ao lado dos jovens”.
Ainda preenchidas com a alegria de terem trabalhado na Jornada Mundial da Juventude, Beatriz, da comunidade católica Shalom, e Daniela Calças, da paróquia do Parque das Nações, também não quiseram faltar à chamada.
“É uma novidade também para nós, com o novo Patriarca, pelo menos falo por mim, que não o conheço, portanto, é um gosto especial estar aqui, e tentar vir ao encontro dessa proximidade”, refere Daniela.
Beatriz, do grupo católico Shalom, e que também foi voluntária na JMJ Lisboa, fala num “tempo novo”, que começou com a Jornada e que “precisa cada vez mais de estreitar os laços” para “aprofundar a experiência que tivemos, da JMJ”.
“É muito importante, para não deixarmos que a aquela brasa que se iniciou, se apague. Aquilo que vem de Deus não passa, mas precisamos estar sempre alimentando esse fogo”.
O bar escolhido para apresentar o novo programa conjunto da pastoral juvenil e universitária da diocese acabou por ser pequeno demais para todos os que compareceram. Sentados no chão, outros à porta, no passeio, começaram por ouvir os testemunhos iniciais de dois jovens que foram voluntários na JMJ Lisboa: Adriana falou da sua experiência, garantindo que “a alegria de ser de Cristo é uma alegria que não passa”, e que é urgente “criar um movimento de esperança”. Duarte falou do “impacto profundo” que a jornada teve na sua vida. “De 1 a 10? Foi um 50!”, garantiu.
Coube a João Clemente, da Pastoral Juvenil, apresentar o programa de atividades, que inclui momentos celebrativos, de oração e festivos. Todos os meses o Patriarca fará uma proposta para o itinerário espiritual dos jovens.
As propostas arrancam em outubro (14 e 15) com os ‘Encontros JMJ’. A 26 de novembro haverá a Jornada Diocesana da Juventude, e de 8 a 10 de dezembro decorrerá o ‘Fórum Geração Rise Up’, em que “350 jovens vão estar num fim de semana a dizer o que gostariam que fosse a Pastoral Juvenil, será uma espécie de Sínodo da diocese de Lisboa”, explicou, acrescentando: “é desejo do Patriarca que dia 10 se faça uma peregrinação a Fátima, para agradecer a JMJ”.
Para 20 de janeiro está prevista uma oração ecuménica, a 16 de fevereiro haverá uma Via Sacra, e a 16 de março uma Vigília da Misericórdia. A 18 de maio realiza-se “uma celebração diocesana em que vamos renovar o compromisso com Jesus, do batismo”.
O ano encerra a 6 de julho com um Festival da Juventude.
Para além destas atividades mensais, os jovens da diocese foram convidados a fazer um Gap Year, “um ano de serviço na Igreja de Lisboa, 2024-2025. Vimos tantos jovens a fazerem isto na JMJ, é possível continuar esse trabalho”.
Foi, ainda, deixado o desafio para que as paróquias criem espaços próprios para os mais novos, e se continue a trabalhar em rede. ”Que não se acabe com as estruturas criadas na JMJ, que não se perca o que se conseguiu”, pediu João Clemente.
Na iminência de ficar sem bispos auxiliares em Lisboa, devido à saída de D. Américo Aguiar para a diocese de setúbal – ele que será cardeal já este sábado–, e à resignação, por limite de idade, de D. Joaquim Mendes (já depois da morte, por doença, de D. Daniel Batalha Henriques, em 2022), o Patriarca confirma que em breve enviará ao Papa as suas propostas para receber novos colaboradores.
“É verdade, já falei com o Papa acerca disso. E o Papa deu autorização para lhe apresentar três nomes para futuros bispos auxiliares. Por isso convido a todos que comecem a rezar em prol desse objetivo”.
Aos jornalistas, Rui Valério fez ainda o balanço de um mês como Patriarca de Lisboa, agradecendo todo o apoio que tem recebido na rua. “Tem sido um mês fascinante! Escutar, quando vou na rua, pessoas que me dizem ‘senhor patriarca, estamos sempre consigo, força!’, ou então ‘aquilo que precisar, basta dizer’. Isto, acredite, enche a alma e faz-nos sentir companheiros de rota”.