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Sínodo dos Bispos. "Há caminho já feito que é irreversível"

04 out, 2023 - 17:29 • Ângela Roque

Padre Tony Neves não esconde “expectativas altas” em relação aos trabalhos que arrancaram esta quarta-feira, no Vaticano, e ao fim do processo, em 2024. Em entrevista à Renascença lembra que as fases preparatórias do Sínodo mostraram claramente que “há aspetos na vida da Igreja que têm de mudar”, e não tem dúvidas de que já houve “ganhos que já não se vão perder”.

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No dia em que arrancou a primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, a Renascença conversou com o padre Tony Neves. Missionário espiritano e jornalista é assistente geral da Congregação em Roma, onde acompanha de perto os trabalhos. Começa por destacar alguns aspetos inéditos do encontro, como a participação pela primeira vez de mulheres, que também irão ter direito de voto.

Que expectativas tem sobre o Sínodo?

É um Sínodo sobre a sinodalidade, portanto, é um pôr-se a caminho na mesma direção, lado a lado. A dinâmica deste Sínodo é muito diferente dos sínodos anteriores, porque tem religiosos, tem leigos e leigas que estão lá para poder discutir e votar.

Este sínodo tem outra particularidade, é que teve já uma auscultação mundial, a fase da escuta; depois teve a fase continental, fez-se um instrumento de trabalho, um documento que os que estão no sínodo vão debater, em grandes assembleias e em pequenos grupos. Daí vai sair um documento final, esses pontos vão voltar a poder ser discutidos em todo o mundo, e finalmente haverá uma outra Assembleia e a Exortação Apostólica do Papa. Portanto, é um caminho muito longo, mas que se pretende com muito discernimento, com muito apoio na oração. O que todos devem querer é que seja o Espírito Santo a inspirar, e o espírito inspira através das pessoas, dos acontecimentos, de muitos sinais, e é essa essa capacidade de escuta dos sinais de Deus que tem de estar presente neste Sínodo.

Eu alimento expetativas muito altas. Há ganhos que já não se vão perder mais, e este de caminharmos juntos, de debatermos claramente todos os temas, de não termos temas tabu, sabendo que depois quem tem de falar é o Espírito, e quem tem que decidir é o Papa na sua Exortação final. E espero que seja um momento de Espírito.

Na vigília ecuménica que antecedeu os trabalhos, no último sábado, o Papa disse esperar que o Sínodo “purifique a Igreja de tagarelices, ideologias e polarizações”, lembrando que todos têm “algo para testemunhar e aprender”. Acredita que a Igreja não ficará igual depois deste processo? O que é que mudará mais rápido?

O caminho que foi feito com estas primeiras fases preparatórias do Sínodo mostrou ao mundo que há caminho a fazer. Ou seja, há alguns aspetos na vida da Igreja e da sociedade que têm de mudar e melhorar. E o melhorar, o caminhar, é qualquer coisa que é inerente à vocação da Igreja, desde Cristo que muita coisa tem mudado e não há razões para que não se mude muita coisa. Claro que o essencial é para preservar, mas há muito de acessório que se foi que foi tornando quase como imprescindível ao longo dos séculos, e que hoje percebemos que pode e deve e deve mudar.

Quando o Papa, na vigília ecuménica de sábado, falou na purificação da Igreja de tagarelices, de ideologias e polarizações, o Papa estava a querer dizer que nós estamos na Igreja bastante divididos em relação a alguns temas, mas se formos capazes de focar no essencial, que é a vontade de Deus, se formos capazes de ler os sinais do espírito e de nos escutarmos uns aos outros, nós vamos querer ser humanos, fraternos, cristãos, inclusivos, e isso vai mudar.

Eu acho que nada vai ficar igual depois deste caminho sinodal.

O Sínodo abrirá caminho a uma Igreja para “todos, todos, todos”, como pediu o Papa na JMJ Lisboa?

O Sínodo tem que abrir caminho a uma igreja para “todos, todos, todos”, não tenho a mínima dúvida. E se calhar os grandes pontos que têm sido mais discordantes na caminhada da Igreja tocam nesse essencial. Temos de ser uma igreja inclusiva, de portas abertas, e não uma alfândega. o Papa tem repetido isso muitas vezes, e continua a dizê-lo. Não quer dizer que valha tudo, não vale tudo.

O cardeal D. Américo dizia “o todos, todos, todos, não quer dizer tudo, tudo, tudo”, mas desde que preservemos o essencial, o resto, sendo acessório, pode mudar, deve mudar e há caminhos que são já sem retorno. Porque o facto de termos auscultado muita gente, de termos avançado para um Sínodo que tem pessoas que não são só os habituais cardeais e bispos, o facto de termos tocado todos os assuntos, mesmo aqueles que são polémicos e que estão longe de ser consensuais, isso prova que há um caminho que já está feito e que é irreversível, e que a Igreja quer que todos possam participar dela.

Não há situações que se possa dizer que não têm solução. Não, vamos com uns com os outros e com inspiração do espírito, encontrar soluções para todos os problemas. Vamos continuar a caminhar.

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