04 out, 2023 - 08:00 • Henrique Cunha , Ângela Roque , Olímpia Mairos
Tem início esta quarta-feira a décima sexta Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, sob a presidência do Papa Francisco.
Trata-se da primeira sessão desta Assembleia, que decorre de 4 a 29 de outubro, com o tema "Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão". A segunda etapa decorrerá em 2024.
Dois portugueses integram a Comissão de Comunicação do Sínodo. Um deles, o padre Paulo Terroso, diz à Renascença que esta é uma fase “determinante” do Sínodo.
“Esta é uma fase determinante, mas é a primeira de duas assembleias”, diz, partilhando a alegria e o entusiasmo por viver esta hora, também “como um momento de oração e de escutar aquilo que o Espírito Santo tem a dizer à Igreja e aos participantes do Sínodo”.
Apesar de reconhecer que existe alguma resistência à mudança e “algumas dificuldades e tensões”, o sacerdote considera “muito exagerado” falar-se da possibilidade de um “cisma” por causa das “reformas em curso”.
“O pensar em algo como um cisma na Igreja - quando pensássemos isso - devíamos sentir assim uma dor de alma, um cortar de coração”, refere.
Na visão do sacerdote da Arquidiocese de Braga, “a coisa que mais pode ferir a Igreja, de facto, são as divisões, é a divisão, é o conflito, é tudo isso e, portanto, eu acho isso absolutamente exagerado”.
Ressalvando perceber o realismo e também a problemática de alguns temas mais específicos, o padre Paulo Terroso considera que, se houver algum risco no sentido da divisão, “é porque nós não fomos capazes de escutar a voz do espírito”.
Já Leopoldina Reis Simões, que também integra a equipa de comunicação, fala num momento histórico e decisivo para o futuro da Igreja.
“O Sínodo - e também digo isto do ponto de vista comunicativo, daquilo que nos é pedido - não é para melhorar a imagem da Igreja, mas para melhorar a Igreja e a presença da Igreja no mundo, como instituição e como corpo de crentes”, nota.
“Tem sido referido que vivemos um momento histórico, único. A Igreja tem tido muitos momentos importantes; este é muito importante para nós, hoje, e para o futuro”, acrescenta.
“As mudanças”, diz, “já começaram, são visíveis, e são uma resposta ao que saiu do Concílio Vaticano II”.
“A meu ver, julgo que já não estamos iguais. Ao longo destes dois anos, já se foram vendo algumas mudanças - na minha maneira de ver – muitas a partir das decisões do Santo Padre e que, depois, em cada Igreja local foram chegando, foram sendo adaptadas, talvez a maior abertura, as tais questões, por exemplo, que vemos neste Sínodo de forma inédita de uma maior valorização dos leigos e das mulheres. Não é uma coisa de agora, é um pedido que já vem desde os tempos do Concílio Vaticano II, mas que agora, em concreto, estamos mesmo a verificar”, sublinha.
Que se oiçam uns aos outros é o objetivo do Papa, que determinou que os trabalhos do Sínodo decorram de forma inédita, em mesas redondas, distribuídas por línguas de trabalho, numa aproximação entre bispos e leigos, homens e mulheres.
Leopoldina Reis Simões, que visitou a aula sinodal com os jornalistas acreditados para acompanhar a Assembleia Sinodal, fala de uma configuração completamente diferente.
“Todos temos na cabeça aquela imagem dos cardeais, depois os bispos atrás. Desta vez será um espaço com 35 mesas redondas, para 12 pessoas cada mesa, onde estarão bispos, padres, leigos, religiosos e religiosas, homens e mulheres dentro dos leigos”, descreve, destacando que “está aqui uma novidade muito importante”.
“Eles serão reunidos segundo grupos idiomáticos. A língua portuguesa terá uma mesa; cinco mesas para o idioma francês, sete para o grupo da língua espanhola, oito para a língua italiana e 14 para a língua inglesa”, exemplifica.
Sublinhando tratar-se de “uma curiosidade”, Leopoldina Simões não deixa de referir que esta configuração e os meios a utilizar durante o Sínodo “é interessante porque a imagem que os jornalistas puderam captar foi de uma coisa completamente diferente, muito mais colaborativa, próxima da interação”.
“Um instrumento fundamental, como ponto de partida é o Instrumentum Laboris, mas o instrumento técnico principal, do ponto de vista tecnológico, será o iPad. Foi curioso, e foi bastante fotografado pelos jornalistas, o iPad do Papa Francisco, por ser branco e os outros pretos. É uma curiosidade”, observa.
O Sínodo dos Bispos é um órgão consultivo que ajuda o Papa no governo da Igreja. Para além de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, participam também peritos e outros convidados.
Pela primeira vez as mulheres vão participar nos debates e vão votar o documento final, algo que até agora era apenas reservado aos bispos.
Portugal está representado no encontro pelo presidente e pelo vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes, os bispos de Leiria-Fátima e de Coimbra, respetivamente.