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​Dia Mundial dos Pobres

Comunidade Vida e Paz alerta para risco de encerramento de respostas sociais

17 nov, 2023 - 08:00 • Henrique Cunha

Presidente da Comunidade Vida e Paz admite aumento de dificuldades por força da subida do número de pessoas em dificuldade e pelas consequências da inflação. Diácono Horácio Félix queixa-se também das comparticipações do Estado e, noutro plano, o responsável insiste na ideia de que continua a aumentar o consumo de droga em Lisboa.

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O presidente da Comunidade Vida e Paz, diácono Horácio Félix, diz que a instituição registou este ano um aumento de 25 por cento das pessoas sinalizadas em situação de sem abrigo.

"Só este ano, as pessoas acompanhadas aumentaram cerca de 25 por cento, passando de 400 para 500”, diz o responsável da organização lisboeta, em entrevista à Renascença.

Outro dado preocupante , que retrata as dificuldades de muitas famílias que vivem a pressão do aumento do custo de vida, é o de que "há muitas pessoas que têm casa e que também se dirigem às nossas carrinhas para levantar a pequena ceia que distribuímos, como forma de complementar a situação alimentar”.

A juntar ao aumento dos pedidos de auxílio, a Comunidade Vida e Paz chama a atenção para a necessidade de o Estado melhorar as suas comparticipações e admite que, por causa da situação económica, alguns dos benfeitores da instituição também tiveram de reduzir os seus apoios.

"Já foi necessário fechar algumas respostas sociais de pequena dimensão e avalia-se a possibilidade de outras também virem a fechar”, revela Horácio Félix.

“Tivemos de encerrar algumas de menor expressão, que foram alguns apartamentos, mas, ao nível de respostas sociais de maior envergadura, é algo que está em estudo ao nível da direção e depende dos cenários que se colocarem no futuro. É algo que nos preocupa e que preocupa outras instituições com as quais partilhamos as nossas preocupações”, sublinha.

Horácio Félix queixa-se sobretudo das comparticipações do Estado e lembra que também diminui o apoio dos benfeitores da instituição.

No plano do apoio do Estado, Horácio Félix assinala o facto de “os valores protocolados não acompanharem o aumento dos custos” e diz que o recente acordo entre Governo e CNIS “é um exemplo da menorização das nossas instituições”.

“O acordo prevê um aumento dos valores protocolados de seis por cento para os lares e nós ficamos com três por cento. Parece que os nossos técnicos não têm direito a salários dignos ou que as pessoas que nós acolhemos são filhas de um Deus menor”, lamenta.

“Novos casais ventosos” continuam a surgir

A aumentar continua o consumo de droga em Lisboa. Depois de há cerca de um ano ter denunciado o aparecimento de "novos pequenos casais ventosos", o presidente da Comunidade Vida e Paz garante que a situação piorou e lamenta que "a questão das dependências tenha deixado de ser prioritária".

“Temos sentido um grande aumento de pessoas em situação de adição, especialmente na zona de Lisboa e na Avenida de Ceuta. E, sim, continuam a aparecer novos pequenos Casais Ventosos pela cidade e isso leva a que essas pessoas também estejam a passar privação alimentar. É algo que nos preocupa e que parece não preocupar as autoridades, pois a sensação que nós temos é que a questão das dependências deixou de ser uma questão prioritária”, assegura o responsável.

Para ilustrar a tese de que o combate ao consumo de droga deixou de ser prioritária, o diácono Horário Félix dá o exemplo das comunidades terapêuticas. O responsável garante que o valor estabelecido para o tratamento por pessoa está muito abaixo do custo real. “As comunidades terapêuticas têm protocolos com o ministério da saúde e há um valor que foi estabelecido em 2008 por tratamento por pessoa e que foi atualizado este ano em cerca de 12,5 por cento, quando o acumulado da inflação já se situa em cerca de 40 por cento."

Perante este cenário, o presidente da Comunidade Vida e Paz garante que a situação “já levou ao fecho de muitas camas de instituições que não conseguiam sobreviver”.

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  • Antonio Santos
    18 nov, 2023 Lisboa 17:36
    Pois é, no tempo dos finórios Bobone, os "agarrados" ressacavam a frio à porta sa Comunidade. De 100, só UM era repescado. Agora vem um clérigo falar de dificuldades. Imputem as responsabilidades aos antecessores. Aliás na classe clerical, donde excluo os verdadeiros cristãos, gosta-se muito do voluntarismo "pro bono" a a custo monetário, como foi o caso do das JMJ. Enfim critérios que fariam Francisco ficar de cabelos em pé

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