10 dez, 2023 - 08:06 • Isabel Pacheco
Nadege é camaronesa e vítima de tráfico humano. Chegou a Braga depois de ver recusada a entrada em Lampedusa, Itália. É a protagonista da inauguração, a 10 de dezembro, do Presépio Vivo de Priscos.
Até chegar ao nosso país, a jovem teve um percurso tumultuoso, conta-nos João Torres, pároco de Priscos.
“A Nadege casou com alguém mais velho. Entretanto foi obrigada a casar com um irmão que depois morre. Como não quis casar com o terceiro irmão teve de fugir para uma zona com conflito armado dentro do próprio país”, começa por contar João Torres.
“Entretanto, teve uma promessa de trabalho na Argélia, mas, ao chegar, não encontrou um trabalho digno, mas numa casa de alterne”, revela o sacerdote que explica que a jovem voltou a fugir, desta vez, para a Líbia, onde foi “vítima de nova atrocidade”.
“É raptada por guardas prisionais e o companheiro teve de pagar o resgate de mil euros. Ele andou sete meses a trabalhar para a resgatar”.
Depois, conta, “conseguiu fugir até Lampedusa onde foi salva por um navio humanitário”.
A jovem camaronesa é uma das muitas histórias de tráfico de seres humanos. Para o sacerdote, trata-se uma problemática atual sobre a qual convém refletir, sobretudo, porque o nosso país tem revelado “dificuldades nesta matéria”.
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“As notícias vão falando de pessoas que vêm para o nosso país. Certamente vêm cheias de Sonhos e depois acabam a trabalhar numa quinta com uma remuneração miserável e a viverem num espaço desumano, ou até gente que chega com promessas de fazer limpezas e acaba numa casa de alterne”, relata.
“É certo que esta situação não pode ser só combatida pelas forças de segurança. Às vezes uma boa vizinhança pode também aqui funcionar como um órgão de vigilância”, defende João Torres.
Mas, para além do alerta para a problemática do trafico humano, a XVIII edição do Presépio quer, também, deixar um apelo à paz.
Para isso, foi criado um cenário, adianta o sacerdote. Trata-se de “um acampamento militar e vamos fazer dele um museu para dizer que todo o arsenal militar que existe devia se transformar em museu”, explica.
Com 90 cenários espalhados por mais 30 mil metros quadrados, o presépio vivo de Priscos conta com 600 figurantes que dão vida ao espaço contruído, durante o ano, por reclusos do estabelecimento prisional de Braga.
Pela paróquia da arquidiocese de Braga passam todos os anos em média 120 mil visitantes e cada vez mais espanhóis.
“Em 30 excursões que possam vir cá num dia, 25 são espanholas”, revela. “Não quer dizer que os portugueses não possam vir. Claro que sim, são sempre muito bem vindos”, remata.
O presépio vivo da paróquia de Priscos está de portas abertas entre 10 de dezembro e 14 de janeiro de 2024.