01 fev, 2024 - 01:25 • Lusa
O polémico cartaz da Semana Santa de Sevilha, com um Cristo que muitos fiéis consideram “efeminado” ou “sexualizado”, continua a causar reações na região e em Málaga foi marcada uma missa de desagravo pela obra considerada blasfémia.
A missa de desagravo, um gesto que reconhece que foi feita uma grande ofensa a Deus, decorrerá esta quinta-feira, às 8h30, no convento das Madres Mercedárias de Málaga.
O cartaz que anuncia a Semana Santa sevilhana de 2024 mostra a imagem de um Cristo ressuscitado muito jovem, ligeiramente coberto da cintura para baixo, uma imagem no mais puro estilo do pintor Salustiano García, que se inspirou no seu filho Horácio para retratar Jesus.
Para a organização, a imagem de Cristo no cartaz representa “a parte luminosa da Semana Santa”, no “estilo próprio deste prestigiado pintor”.
Mas o Cristo de García desencadeou críticas entre muitos fiéis e membros da Igreja, que consideram o cartaz desrespeitoso, blasfemo e insultuoso, além de não representar a Semana Santa sevilhana.
Destinado a ser distribuído por toda a cidade, o cartaz gerou polémica nas redes sociais, onde muitos internautas e também uma associação católica ultraconservadora denunciaram a sua característica “sexualizada”.
Este cartaz é “uma verdadeira vergonha e uma aberração”, afirmou, na rede social X, o Instituto de Política Social (Ipse), organização defensora dos “símbolos cristãos”, e empenhada em particular contra o aborto.
Estas críticas foram também veiculadas pelo chefe do partido de extrema-direita Vox em Sevilha, Javier Navarro, que julgou no X “este cartaz provocativo” e que não cumpre “o objetivo para o qual foi concebido”, nomeadamente “incentivar a participação devota dos fiéis”.
Uma petição foi lançada no site Change.org e, na segunda-feira, tinha sido assinada por quase 10.000 pessoas, apelando à defesa da tradição e do “fervor religioso” de Sevilha face a esta obra.
O autor do cartaz manifestou-se surpreendido com os ataques, garantindo, em entrevista ao diário conservador ABC, ter pintado uma obra simpática e elegante, numa abordagem de “profundo respeito” para os crentes.
“Para ver sexualidade no meu Cristo, é preciso estar doente”, disse o artista, de 52 anos, lembrando que Jesus era regularmente representado nu na arte clássica.
Os socialistas, no poder em Espanha, defenderam o cartaz, denunciando o caráter “homofóbico e odioso” dos ataques, nas palavras do seu líder na Andaluzia, Juan Espadas, que defendeu a aliança de “tradição e modernidade” característica desta região, um antigo bastião da esquerda.
A Espanha, que descriminalizou a homossexualidade em 1978, três anos após a morte do ditador Franco, tornou-se desde então um dos países mais abertos do mundo à comunidade LGBT+, autorizando a partir de 2005 o casamento homossexual e a adoção para casais do mesmo sexo.
As procissões da Semana Santa, que comemoram a Paixão, morte e ressurreição de Cristo, ocupam um lugar importante em Espanha, país onde as tradições católicas continuam muito presentes – e particularmente em Sevilha, considerada a “capital” destas paradas religiosas.