12 fev, 2024 - 12:25 • Olímpia Mairos
O patriarca D. Rui Valério propõe “à Diocese de Lisboa que, neste tempo quaresmal, percorrendo o caminho da conversão, se deixe levar pelo turbilhão da radicalidade, a nível da vida espiritual; se deixe arrastar pela medida alta da santidade, que é ir até aos limites do amor, da esperança e da fé”.
“Movidos pelo sopro de Deus, desejemos afastar-nos não tanto do ritmo das coisas, mas da mentalidade do repetitivo, do rotineiro, em suma, da trivialidade, para sermos investidos e agraciados pela força do Espírito que nos coloca em Cristo e transforma radicalmente o nosso coração”, exorta o patriarca de Lisboa.
D. Rui Valério aponta a Quaresma como “o tempo favorável de aproximação e preparação para a Páscoa, o verdadeiro âmago do mistério da fé”.
“Por inerência, um tempo de deserto que, no entanto, é tempo que se faz espaço, torna-se também lugar, fonte configuradora de novas atitudes. Molda-nos, como o barro nas mãos do oleiro! Ninguém regressa do deserto indiferente; o antes transforma-se num presente com esperança renovada num futuro salvífico”, assinala.
Segundo o responsável do Patriarcado de Lisboa, “o nosso deserto será profícuo se for o lugar e o tempo do encontro com Cristo, o qual nos torna dóceis à vontade do Pai”.
“Não se contraria a movimentação das dunas, como não queremos oferecer resistência à força da Vida nova que quer jorrar nas obras de paz, de proximidade aos pobres e sofredores, nas ações de caridade e partilha”, assinala, explicando que “os outros, os irmãos, são essenciais para a realização da vida divina, que é vida de comunhão, na qual se mostra a glória de Deus”.
Na mensagem, intitulada “Vou conduzir-vos ao deserto, para vos falar ao coração”, o prelado destaca que “permanecer no Senhor é como que uma dádiva de solidão”.
“A exemplo do deserto, pede-nos que deixemos muitas outras companhias: das coisas, dos afazeres, das preocupações, das agendas… até de pessoas, para delinear, nesse encontro, nesse tu a Tu, os traços de intimidade com Ele, gravados no nosso coração, no nosso ser”.
O prelado aponta, ainda, a uma “tríplice face” da “caminhada quaresmal: recordação, cordialidade e serviço”.
“Recordar, significa fazer voltar ao coração, regressar com o coração. A Quaresma faz-nos retornar aquilo que o Senhor fez por nós: a sua oferta de amor na Cruz constitui o compêndio da misericórdia para connosco. Quando contemplamos o seu rosto, recordando os seus gestos, fazemos memória viva da sua bondade, que é gratuita e incondicional. E comove-nos! Na força desta memória, que traz de volta ao coração a ação do Senhor, reencontramos também a multidão imensa por quem o Senhor deu a sua vida”.
Segundo D. Rui Valério, a cordialidade “exprime a ação que é realizada a partir do coração”, conduzindo cada ser humano a ser compassivo e não julgar ninguém, a indignar-se com os sofrimentos das vítimas da guerra e da injustiça e comprometer-se com a transformação social, a amar e respeitar o outro integralmente, a exercitar a paciência como caminho de amabilidade, a ser responsável e comprometido com a verdade, a cultivar a mansidão, a humanidade e a abertura ao diálogo com todos, a colocar o amor como único e inegociável critério da ação pastoral, a nutrir intimidade com Deus e viver segundo o Seu estilo, a garantir o protagonismo do Espírito e a promover a paz.
Já no âmbito do serviço, estamos “convocados para fazer da libertação de todas as escravidões um verdadeiro projeto de vida”, diz.
O patriarca de Lisboa faz saber que neste ano de 2024, o fruto da renúncia quaresmal tem um duplo fim: “apoiar as obras na Casa Sacerdotal do Patriarcado de Lisboa, para construir alojamentos para jovens; e apoiar obras na Escola-Orfanato das Irmãs de São José de Chambery, na Diocese de Pemba, na cidade de Mocímba da Praia e Cabo Delgado, em Moçambique, para acolher crianças e jovens vulneráveis, vítimas da guerra, e abrir furos para captação de água e, dessa forma, resolver o consumo de águas envenenadas”.
Em 2023, o caminho de partilha e solidariedade da renúncia quaresmal do Patriarcado de Lisboa “totalizou 161.420,08 euros destinados à construção de uma Casa de Acolhimento para as adolescentes e jovens que vêm da montanha para estudar, em Laleia, Diocese de Baucau, em Timor-Leste. Foi um pedido das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora”, informa.