O bispo de Lamego convidou os cristãos a olhar o tempo da Quaresma como um “deserto que convida ao essencial”, que “desintoxica de excessos, de acessórios” e a dar valor a um “simples trago de água”.
“O deserto ensina o essencial. Desveste-nos de acessórios. Desintoxica-nos de excessos e inutilidades. Deixa-nos a céu aberto com Deus. Estimula-nos a caminhar. Talvez nos ensine a rezar, a desenterrar as raízes, a partilhar. A procurar um sentido para os passos incertos que damos. No deserto aprendemos a sofrer, a saborear a resina do tamarisco, a apostar tudo num simples trago de água”, escreveu D. António Couto na mensagem para a Quaresma.
O responsável lamentou que hoje se procurem “provas inequívocas e argumentos que ninguém possa rebater” para reconhecer a presença de Deus, quando “um simples respiro concedido” orienta o olhar para Deus.
O bispo de Lamego indicou que voltar ao deserto, “tanto em sentido físico e unívoco, mas análogo”, oferece a “oportuna e necessária desmontagem dos egoísmos e malabarismos” que se apoderam do homem.
“É por isso que o deserto é um tempo novo, cheio de esperança. Um espaço novo, um campo novo, não estéril, mas tantas vezes apresentado como um jardim florido, como uma terra regada por rios e mais rios. Tudo imagens preciosas de quanto Deus pode fazer nascer na nossa vida”, sublinhou.
O responsável indicou a Quaresma como “um tempo importante para manter limpo o olhar, sem traves ou muros, e limpo também o coração, sem raivas ou invejas”.
“É tempo de graça, de oração e conversão. É tempo de reforçar os laços da nossa caridade, que é um exercício que a Igreja nos propõe fazer em cada Quaresma”, indicou.
D. António Couto indicou que a renúncia quaresmal da diocese de Lamego será destinada “aos irmãos na Síria” e à paróquia-missão do Imaculado Coração de Maria de Nametil, na diocese de Nampula, em Moçambique.
“Com cerca de 13.000 km2, no norte de Moçambique, a paróquia-missão do Imaculado Coração de Maria de Nametil experimenta muitas necessidades e precisa de erguer estruturas de oração e de formação para os seus mais de 55.000 fiéis batizados e crismados e para os muitos milhares de catecúmenos que se preparam para o batismo”, assinalou.
“A nossa esmola para a Síria seguirá diretamente pela mão da Ir. Maria (Myri) Lúcia Ferreira, uma religiosa portuguesa que vive atualmente na Síria, no Mosteiro de S. Tiago Mutilado”, acrescentou.
O bispo de Lamego deu ainda conta que a renúncia quaresmal de 2023 entregou “24.767,46 euros ao irmãos martirizados da Ucrânia e da Síria, cujo grau de sofrimento não conseguimos sequer imaginar”.
A Quaresma é um tempo litúrgico, de 40 dias (a contagem exclui os domingos), de preparação para a Páscoa, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, com início na Quarta-feira de Cinzas (14 de fevereiro, este ano).