16 fev, 2024 - 09:17 • Olímpia Mairos
Na mensagem para a Quaresma, o bispo de Viana do Castelo, D. João Lavrador, sinaliza que numa “cultura das aparências e da superficialidade, exige-se da parte de cada cristão, integrado numa comunidade de discípulos, que se reconheça na verdade do seu ser”.
“Numa sociedade que seduz para a abundância e para a escravidão dos bens materiais, este tempo quaresmal reveste-se de uma oportunidade, a exemplo de Jesus Cristo no deserto, se afasta da tentação do prestígio, do possuir, do prazer desenfreado e do poder, para se centrar no essencial da vida de cada pessoa”.
D. João Lavrador assinala que este tempo da Quaresma “é marcado pela necessidade de conversão, metanoia”, advertindo que este processo “não depende tão só do esforço pessoal, embora o exija, mas, sobretudo, na abertura à graça divina”.
Apelando a um “tempo da escuta da Palavra de Deus” e a deixar-se “envolver pelo abraço misericordioso de Jesus Cristo”, sublinha que é “neste encontro com Jesus Cristo, deixando-se abraçar por Ele, saboreando o amor misericordioso” que “a vida pessoal e comunitária se renova”.
“A experiência maravilhosa que o Povo de Deus realizou no deserto e mais intensamente foi experimentada pelos marginalizados que se aproximavam de Jesus de Nazaré, é a mesma experiência que somos convidados a fazer no encontro coma Palavra de Deus e no saborear o perdão que Jesus continua a oferecer-nos através dos sacramentos na comunidade cristã”, explica.
Neste contexto, o prelado apela aos “sacerdotes que juntamente com os agentes pastorais mais responsáveis da comunidade elaborem um verdadeiro itinerário de iniciação cristã, ao longo da quaresma, assente no dinamismo da liturgia da Palavra de cada domingo”, acrescentando que “o Secretariado Diocesano da Evangelização e Catequese elaborou uma proposta de vivência quaresmal, na família e na comunidade paroquial, que será uma ótima ajuda para viver cada semana em ritmo catecumenal, centrado na Palavra de Deus”.
O responsável da Diocese de Viana do Castelo pede ainda aos sacerdotes que se “disponibilizem para o acolhimento e para atender cada um dos penitentes que busca o sacramento da reconciliação”
“Nunca tanto como hoje as pessoas manifestam a necessidade de alguém que as ouça, que as acolha e que lhes ofereça a graça do perdão”
O prelado apela, ainda, “ao essencial na oração, jejum, abstinência e partilha”.
“O apelo à oração intensa, auscultando a vontade de Deus e deixando-se conduzir por ela, discernindo os caminhos da verdadeira liberdade e a realização pessoal, em partilha comunitária, e sentido a prioridade dada ao amor a Deus e aos irmãos”, explica.
E “porque a pessoa humana é um todo, seja na sua grandeza seja na sua relação com os outros”, o prelado indica que “o jejum e a abstinência devem ser acolhidos como sinais e meios para exercitar o domínio sobre os seus apetites, para melhor equilíbrio e saúde plena e para uma decisão firme por viver na comunhão e no amor aos irmãos”.
“Que não falte a coragem para um exercício mais profundo nestas propostas que ajudam a valorizar o tempo quaresmal como edificação de uma nova humanidade que só com pessoas novas se concretiza”, pede.
D. João Lavrador adverte também que “a caminhada quaresmal não deve ser vivida tão só como itinerário estritamente religioso e na dimensão pessoal ou interna à comunidade cristã, pelo contrário, deve ter como objetivo a proposta do Evangelho como fermento de uma nova cultura e de uma nova sociedade”.
“Nesta Quaresma somos interpelados a olhar em redor e deixarmos interpelar pela pobreza que nos rodeia e abrir o coração para a partilha generosa”, assinala, indicando que a renúncia quaresmal deste ano será destinada, em partes iguais “para a construção de um Centro Escolar em Cacheu, na Guiné”, e “para as Irmãs Carmelitas do Mosteiro de Santa Teresinha do Menino Jesus, em Viana do Castelo, que se propõem melhorar as suas condições de habitação e não possuem recursos económicos”.
“A par com a ajuda económica, está o despertar das comunidades cristãs, no primeiro caso, para a situação das crianças que necessitam de condições de escolaridade num país e numa Igreja com muitas dificuldades neste domínio como em outros; quanto às irmãs Carmelitas, urge conhecê-las melhor e a profundidade do seu carisma na evangelização da nossa diocese. Que seja um despertar da vocação religiosa e de consagração nos nossos jovens”, conclui.