22 abr, 2024 - 22:15 • Ângela Roque
Na Moita está tudo a postos para a partida de mais uma Romaria a Cavalo até Viana do Alentejo. O evento cultural e religioso junta entidades de dois distritos e de duas dioceses, sempre com número crescente de participações.
“Esta é já a 22.ª edição. Estivemos interrompidos dois anos por causa da Covid, mas temos 22 romarias já feitas”, diz à Renascença Miguel Almeida, presidente da Associação dos Romeiros da Tradição Moitense, uma das entidades organizadoras.
O evento - que começa na Moita, na Diocese de Setúbal, termina em Viana do Alentejo, que faz parte da Arquidiocese de Évora - atrai participantes do país inteiro, numa festa que tem uma forte dimensão religiosa. “Essa é a vertente inicial, que faz com que ela exista, é a parte religiosa. Se não tivesse essa vertente, penso não teria o sucesso que tem. Temos romeiros que vêm de todo o país, de Guimarães, do Porto, do Algarve, do Alentejo. Vêm de todo lado para participar” numa Romaria que “junta duas Santas”, explica Miguel Almeida.
“Levamos a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, que é a padroeira da Moita, a encontrar-se com a imagem de Nossa Senhora d’Aires, e a partir daí fazer uma festa conjunta”. Uma festa para todas as idades e que é vivida em família.
“Esta romaria foi-se tornando cada vez mais uma festa de família: nela vão os pais, os filhos, os netos, os que não vão a cavalo vão na logística, os que não vão na logística vão a cavalo. E temos participantes de todas as idades, desde crianças a pessoas idosas”, sublinha Miguel Almeida, para quem este evento, para além de ser “uma festa bonita de se ver”, proporciona a todos momentos de grande emoção.
“A partida aqui na Moita é uma parte bonita, ver esta agitação de centenas de cavalos, esta logística toda que envolve a Romaria. Mas, logicamente, quando chegamos a Viana do Alentejo e vemos lá aqueles milhares de pessoas à espera da Romaria, como é habitual, as ruas repletas de pessoas... Para quem faz quatro dias a cavalo, chega e fica emocionado!”, conta.
A dimensão religiosa é muito importante e está sempre presente ao longo do percurso. “Por todos os sítios em que passamos somos recebidos pelas paróquias. A imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem é sempre acolhida nas igrejas onde paramos, almoçamos ou onde fazemos as pernoitas”. Mas há também uma grande colaboração das autarquias.
“Das duas autarquias – Moita e Viana do Alentejo, às duas dioceses – Setúbal e Évora -, às duas entidades de Turismo, a zona de Lisboa e a do Alentejo, envolvemos este pessoal todo”.
Para Miguel Almeida, que já participou em várias romarias, o mais importante é a entreajuda que existe, e que bem podia ser exemplo para as outras dimensões da vida. “Tentamos que nunca ninguém fique para trás. Nas dificuldades que vamos atravessando pelo caminho, vamo-nos ajudando uns aos outros, de uma forma ou de outra, para que todos os que partiram consigam lá chegar. Porque um tem uma dificuldade com um cavalo, outro é com uma charrete que furou, ou caiu, há sempre vários incidentes que acontecem, mas a nossa intenção - de todos os romeiros, não só da organização - é ajudar para que todos consigamos lá chegar”.
Este ano a romaria decorre de 23 a 28 de abril, ou seja, terá mais um dia do que é habitual. “Era uma vontade expressa dos romeiros, já de há muito tempo, porque as etapas são extensas e sentiam que não havia tempo para fazer tudo. E fazer tudo é a parte religiosa, conviver mais naquelas alturas das refeições e nas pernoitas, porque agregado à Romaria está sempre uma festa”.
“Para além disso, também temos em conta o bem-estar animal, e com mais tempo os cavalos também se sacrificam menos”, acrescenta o presidente da Associação dos Romeiros da Tradição Moitense.
Até sexta-feira passada já havia mais de 300 inscrições, mas Miguel Almeida conta mais do que duplicá-las, porque “as inscrições são sempre aceites pelo caminho. Há sempre muita gente que se vai juntando. É hábito começarmos na Moita na casa dos 500 e acabamos sempre em Viana com 700 ou 800. Pelo caminho vamos sempre juntando romeiros”.
A Romaria a Cavalo parte esta terça-feira, dia 23, às 9h00, da Moita, e tem chegada prevista para as 17h00 de dia 27, a Viana do Alentejo. Dia 28 “é a parte mais religiosa, já com menos cavalos, mas onde se fará a bênção dos animais”, já no santuário de Nossa Senhora d’Aires, numa celebração que será este ano presidida pelo novo bispo de Setúbal, o cardeal D. Américo Aguiar.