02 mai, 2024 - 14:37 • Henrique Cunha
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) reafirma a necessidade de discernimento sobre “algumas questões doutrinais/pastorais que ainda causam dúvida, controvérsia ou desacordo na vida da Igreja”.
No relatório da segunda fase do processo sinodal elaborado a partir dos contributos das dioceses e de outros organismos eclesiais, é considerado necessário “por exemplo, fazer esse discernimento à luz da Palavra de Deus e através de um diálogo fraterno na escuta do Espírito Santo, sobre a moral sexual, o celibato dos padres, o envolvimento de ex-padres casados, a possibilidade de ordenação de mulheres”.
“A resistência a mudanças pede um aprofundamento das suas causas mais profundas em termos sociológicos, psicológicos e teológicos. É preciso, por isso, continuar a refletir sobre os fatores que motivam a indiferença de muitos, as resistências às mudanças e os caminhos para as ir ultrapassando”, assinala o texto.
O documento pede também atenção para a necessidade de se “saber auscultar as vozes dos que, de alguma forma, se sentem excluídos”, e dá o exemplo das “famílias reconstruídas, as pessoas separadas, as pessoas com atração pelo mesmo sexo” e sugere que essa auscultação deverá ter o objetivo “de integrar na vida da Igreja o seu contributo”.
O texto lembra o facto de a Igreja continuar “muito centrada no clero e em alguns leigos “clericalizados”. “Isso tem várias consequências, desde a indiferença e apatia de muitos ao pouco empenhamento de outros na vida da Igreja e na sua própria formação. O clericalismo, que, entre outros aspetos, se manifesta numa conceção de privilégio pessoal, num estilo de poder mundano e na recusa a prestar contas, é um obstáculo sério ao exercício de um ministério ordenado autêntico”, alerta. Por outro lado, a CEP afirma que “o clericalismo atinge também os leigos com responsabilidades na vida da Igreja local e das comunidades” e sustenta que “combater a clericalização do laicado passa muito pela rotatividade nas lideranças e pelo desenvolvimento de metodologias de participação comunitária”.
O documento defende a necessidade de “a família estar no centro da vida eclesial”, de se “dar voz e visibilidade aos pobres, de se promover “a unidade, a inclusão e diversidade” e de continuar a valorizar “o papel da mulher na vida eclesial”. “É reconhecida a importância de valorizar o papel das mulheres na vida eclesial e assegurar que possam participar nos processos de decisão, assumindo papéis de liderança, especificamente nos conselhos pastorais e económicos”, assinala o texto. A CEP entende que se deve “procurar a meta da paridade, reconhecendo explicitamente o contributo crucial das mulheres, não apenas na pastoral e nos ministérios, mas também na missão da Igreja junto das comunidades”. “Existe uma clara perceção de que a Igreja tem muito a ganhar com uma intervenção mais relevante das mulheres, de um modo particular, no anúncio e na meditação da Palavra de Deus, para uma verdadeira vivência sinodal e reconhecimento pleno dos seus dons e capacidades”, acrescenta.