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Cardeal Tolentino de Mendonça aponta a uma “Igreja Eucarística, Samaritana e Mariana”

02 jun, 2024 - 12:10 • Olímpia Mairos

Milhares de fiéis participaram este domingo na Eucaristia de encerramento do V Congresso Eucarístico Nacional, presidida pelo enviado especial do Papa, o cardeal português Tolentino de Mendonça.

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A Igreja em Portugal é chamada a ser uma Igreja eucarística, samaritana e mariana. O caminho foi apontado pelo cardeal D. José Tolentino Mendonça, enviado especial do Papa Francisco ao V Congresso Eucarístico Nacional (CEN), durante a homília da Eucaristia, no Santuário do Sameiro.

O prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação explicou que “uma Igreja eucarística é o contrário de uma Igreja clericalista”, é uma Igreja “configurada sinodalmente, que valoriza a participação de todos os batizados”, “de ‘portas abertas’, que se apresenta mais como experiência de serviço amoroso à vida, em vez da rigidez dos juízos que excluem”, apontou.

Segundo o delegado pontifício para o V CEN, a Igreja em Portugal é chamada também “a ser uma Igreja Samaritana”, que atualiza a linguagem da compaixão, “uma Igreja de proximidade, não indiferente nem esquiva, mas capaz de fazer suas ‘as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e todos aqueles que sofrem’, acrescentou.

No dizer do cardeal, uma Igreja “especialista em humanidade que, como insiste o Papa Francisco, “não aponta o dedo, mas abre os braços”, que “multiplica os tempos de escuta”, “artesã de encontros para lá da sua zona de conforto ou do seu perímetro habitual”, “capaz de diálogos e de abraços que testemunham a maternidade e a paternidade incondicionais de Deus”, “que sabe existir não para condenar o mundo, mas para lhe dar o pão que exprime o amor sem limites”, apontou.

Para o membro da Cúria Romana, a Igreja em Portugal é ainda chamada a ser uma “Igreja mariana”, com traços de gentileza, contemplação e beleza.

“A gentileza é a expressão de um coração desarmado e manso, capaz de substituir a agressividade pela doçura e o conflito pelo reconhecimento das razões do outro. O mundo precisa de comunidades crentes, que sejam reservas de gentileza e de cuidado”, observou.

Sobre o traço da contemplação, o cardeal Tolentino de Mendonça referiu que que a “Igreja tem necessidade de fazer prevalecer, em vez de uma máquina funcionalista, a sua dimensão mística”.

“A Igreja só intercetará a sede de espiritualidade do nosso tempo, se também ela se colocar a caminho, peregrina das perguntas, em vez de rotineira gestora de respostas”, alertou.

Já sobre o traço da beleza, o enviado especial do Papa partilhou com os milhares de fiéis que “como o pão é o alimento para o corpo, a beleza é o nutrimento da alma, sem o qual ela não persiste, nem ganha asas”.

“Num tempo dominado pelo pragmatismo raso e pelas visões utilitaristas apenas, precisamos de uma nova mistagogia que inicie os cristãos na beleza de que são depositários”. Com Maria, “a Igreja aprende a ser custódia e artífice da beleza”, afirmou, indicando que a beleza da Eucaristia que tem de ser “celebrada como uma ‘obra de arte’ e vivida como a obra-prima que Jesus”.

“Uma estação de renovação e de caminho para a Igreja em Portugal”

Para o cardeal D. José Tolentino Mendonça, a partir deste congresso Eucarístico, abre-se agora “uma estação de renovação e de caminho para a Igreja em Portugal”.

“Há uma frescura, há um odor a Evangelho vivo, há uma imaginação do bem, que os nossos contemporâneos esperam da Igreja Portuguesa”, sublinhou. “A Igreja intercepta o seu futuro quando abre as portas a Cristo e se ancora com decisão nesse programa corajoso e real de revitalização que a eucaristia representa”.

“Ontem como hoje, a Igreja encontra o sentido da sua vocação e missão ‘ao partir do pão’”, explicou.

O delegado do Papa pediu aos fiéis para pensarem no significado do pão, afirmando que “as coisas mais belas e infelizmente também as mais infelizes acontecem em nome do pão”.

“Falar do pão é falar da subsistência, das condições da vida material, daquilo que é tido como indispensável à manutenção da vida”, vincou.

Questionando o papel da eucaristia na gestação de comunidades de esperança e na edificação de um mundo melhor, D. Tolentino de Mendonça alertou que “a disputa pelo pão pode torná-lo um referente anti-eucarístico”, quando “instrumentalizado pelo egoísmo", tornando-se "não o símbolo do amor, mas do egoísmo; não o que funda a prática da fraternidade, mas o signo da desigualdade social, da inquietante ideologia da exclusão e do descarte”.

Segundo o cardeal Tolentino, “o pão pode ter o perfume da paz ou estar na origem dos inúteis conflitos tóxicos e das devastadoras guerras".

“Haverá solução? Este drama pode alguma vez se resolver? - questionou - “ou se estamos condenados a que o pão nos torne inimigos em vez de irmãos e iguais?”.


No ano em que se celebram os 50 anos da democracia portuguesa, o cardeal português assinalou a coincidência da celebração do congresso eucarístico para “repensar o contributo da Igreja na nossa sociedade em acelerada transformação e que experimenta desafios epocais tão grandes como, por exemplo, as alianças intergeracionais e interculturais a construir urgentemente no Portugal contemporâneo”.

“Uma aliança que garanta o pão do futuro para os jovens hoje cercados pela precariedade e o pão do amor para os mais velhos que não podem ser postos fora da equação social porque já não são produtivos”, apontou.

No início a Eucaristia, concelebrada por D. José Cordeiro, arcebispo de Braga; D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa; D. Ivo Scapolo, núncio apostólico em Portugal; e o cardeal D. António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima, D. José Tolentino de Mendonça começou por dizer que veio “trazer a bênção Apostólica do Papa Francisco”.

“A sua benevolência, a sua vizinhança para com a Igreja portuguesa. E a sua bênção paternal a cada um, a cada uma”, disse.

Salientando que “cada ser humano guarda no seu coração a nostalgia e o desejo de uma bênção, isto é a certeza de um incondicional amor, a garantia de que não está só, a confiança de que é acompanhado na vida”, o cardeal transmitiu que “é esta mensagem que o Papa Francisco quer transmitir à Igreja Portuguesa e a Portugal. Sintamo-nos por isso abençoados”.

No final da Eucaristia, foram plantadas quatro árvores pelos bispos metropolitas de Portugal - Braga, Évora e Lisboa - e pelo enviado especial do Papa, cardeal Tolentino de Mendonça como “sinal de articulação entre a celebração da Eucaristia e a consciência ecológica integral”.

Comentários
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  • João A. Lopes
    02 jun, 2024 Porto 17:37
    Profundo e belo...

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