17 jun, 2024 - 12:43 • André Rodrigues , Olímpia Mairos
O Grupo Vita recebeu, até agora, 39 pedidos de reparação financeira, num universo de 105 denúncias de abusos no contexto da Igreja Católica, no espaço de um ano.
Em declarações à Renascença, a coordenadora do Grupo Vita, Rute Agulhas, admite que os pedidos possam aumentar nos próximos tempos, mas a reparação financeira não é vista como a principal saída para o problema.
“Significa que para a maior parte das pessoas a compensação financeira não é efetivamente a principal forma de reparação”, diz Rute Agulhas, assinalando que “temos uma percentagem relativamente baixa pensando no universo de pessoas que já nos contactaram”.
A responsável sublinha, no entanto, que “não podemos esquecer que o período de tempo que foi definido para o possível pedido desta compensação financeira começou há duas semanas".
“Temos aqui ainda alguns meses pela frente e, portanto, acredito que este número vá subir e, que muitas pessoas sabendo que o podem fazer até ao final deste ano pensem que têm algum tempo, e ainda bem que têm, para refletir e para ponderar com mais tranquilidade”, aponta.
Para a psicóloga as compensações são apenas uma forma de ajudar a reparar um dano porque “não há nada, nem dinheiro nenhum do mundo que possa reparar ou compensar a violência sexual que as pessoas vivenciaram”.
“A maior parte das pessoas sente sim necessidade de um apoio psicológico que muitas vezes não têm, ou não tiveram ainda ao longo da sua vida, por falta de condições económicas e por não conseguirem suportar esses custos e, portanto, estamos a fazer esse encaminhamento para a nossa bolsa de profissionais e todos os custos são suportados pela Igreja”, indica.
Segundo Rita Agulhas, muitas pessoas sentem também alguma necessidade de um contato direto, por exemplo, com o bispo.
“De uma forma global, sem exceção, têm sido momentos muito reparadores, muito positivos em que as pessoas de facto se sentem muito escutadas e muito ouvidas, portanto, as pessoas acabam por olhar para nós e por nos sentir como figuras de referência, como figuras de confiança e muitas, mas mesmo muitas pessoas contactam diariamente connosco”, indica.
Nestas declarações à Renascença, Rute Agulhas adianta que duas pessoas agressoras reconheceram os seus comportamentos abusivos.
“Uma delas está a ser acompanhada por um profissional da nossa bolsa, o outro agressor, a outra pessoa que cometeu o crime, reconheceu, pediu ajuda à comissão diocesana respetiva e a comissão diocesana encaminhou para apoio psiquiátrico e psicológico”, indica a psicóloga.
A coordenadora do grupo Vita reconhece que “a motivação para reconhecer o crime, para pedir ajuda, é de facto baixa”, acreditando, no entanto, que “com o tempo possa haver uma maior capacidade, ou disponibilidade, destas pessoas para reconhecerem que há aqui um processo de ajuda ao qual podem recorrer e que fará toda a diferença, seguramente em termos de prevenção da reincidência no futuro”.
O grupo de acompanhamento das situações de violência sexual de crianças e adultos vulneráveis vai divulgar o segundo relatório de atividades esta terça-feira, ao início da tarde, em Fátima.
Os pedidos de ajuda dirigidos ao Grupo Vita podem ser encaminhados para a linha de atendimento telefónico 915 090 000 ou através do formulário para sinalizações disponível no site https://www.grupovita.pt.