04 jul, 2024 - 08:00 • Olímpia Mairos
Cristiano Oliveira, 26 anos, natural de Covelo do Gerês, concelho de Montalegre, e Daniel Palma, 29 anos, natural de Nogueira, concelho de Vila Real, vão ser ordenados sacerdotes no próximo domingo, por D. António Augusto Azevedo, na Sé de Vila Real.
Para Cristiano Oliveira, a vocação ao sacerdócio surgiu quando frequentava o 6º ano de escolaridade, embora só tenha entrado para o seminário quando tinha 15 anos.
“O que eu dizia sempre aos meus professores e amigos é que quando fosse grande gostava de ser padre. Também dizia que gostava de ir para a força aérea: Eram dois voos bastante altos, mas optei pelo caminho do sacerdócio”, conta.
A viver numa aldeia, longe do seminário, que só veio a conhecer mais tarde, o jovem não sabe explicar como surgiu a vocação; sabe, sim, que é “algo que surge”, “um dom de Deus que chama e conduz a uma resposta”.
Comunicou a decisão aos pais por telefone, quando estava de férias com a irmã mais velha, e diz que o maior choque pode ter sido para a mãe, porque, apesar de ela simpatizar com a ideia, ouvir que o filho vai para o seminário “pode ter sido um choque, mas lidou bem”.
“Os meus pais aceitaram bem essa minha decisão. As minhas irmãs também reagiram bem, acharam muito interessante, os meus amigos lidaram de diferentes maneiras”, conta, acrescentando que alguns acharam que estava um “bocado louco”, outros manifestaram um sentimento de perda e outros acharam “muito interessante, porque nunca houve nenhum jovem da minha zona com interesse em ser padre”.
Depois de um percurso no Seminário Menor de Vila Real e no Seminário Maior do Porto, que considera uma família e onde fez verdadeiros amigos, e do estágio, Cristiano tem consciência do grande trabalho que tem pela frente como padre, referindo que “ser sacerdote é estar ao serviço, estar para os outros, estar com os outros”.
O futuro sacerdote considera que “é muito importante ter uma atenção particular com os jovens, com os mais novos, com os adolescentes, e também com os mais idosos”.
“São os dois campos de trabalho em que um pastor tem que estar muito atento, porque os mais novos são aqueles que estão a crescer na fé, e os idosos que são aqueles que, olhando à nossa realidade pastoral, estão mais sozinhos, mais abandonados, e o campo pastoral não pode, de modo nenhum, deixar de ser um suporte para essas pessoas”, explica.
Cristiano Oliveira assume que “ser padre, hoje, é um desafio enorme”, mas é também oportunidade para “ajudar outras pessoas e nós temos muito esse papel, seja por uma palavra que damos seja pela ajuda espiritual. É uma grande responsabilidade sermos pastores, mas também diretores espirituais”.
“Vimos cheios de energia e trazemos muitas ideias. Claro que nem todas vão ser aplicadas. Vamos, ao mesmo tempo, ao entrar no campo pastoral, encontrar novos desafios, onde vamos ter que encontrar novos instrumentos, para sabermos aplicar e desenvolver. Portanto, é sempre um desafio, mas que pode ser muito enriquecedor”, assinala.
Daniel Palma sempre estudou em escolas públicas, fez parte de bandas filarmónicas, onde contactou com a música litúrgica, e começou a pensar na questão vocacional quando frequentava o 10ºano de escolaridade.
“Uma das grandes fases da minha vida que me fez pensar acerca da vocação foi no 10ºano, aqueles anos em que a gente vai definindo o rumo da nossa vida. E eu, realmente, comecei a dar conta que a minha felicidade estava na felicidade dos outros, sentia-me mais realizado”, conta.
“Acho que isso é algo que está patente em todos nós e fui começando a questionar-me na minha vida, na oração: ‘porque não ser padre?’. E aí muitas coisas apareceram. O sacerdócio também. Será que sim, será que não? Porque é uma escolha muito radical, uma entrega completa, um estilo de vida específico”, explica.
Quando frequentava o 12º ano, a escolha do sacerdócio “já estava muito vincada” e, nessa altura, partilhou com o pai a necessidade em “parar um pouco” para pensar acerca da vida e o que queria para o futuro.
“E aí surgiu uma aproximação ao seminário. Vim aqui, ao seminário, comecei a frequentar aulas de latim, ver como é que era a vida dos sacerdotes, ou seja, estar por dentro das coisas. Claramente que não tinha certeza, tive sim uma grande convicção que era um caminho e então fui para o Seminário Maior”, conta.
Daniel recorda que os amigos e a família, quando ouviram pela primeira que queria ser padre “foi uma gargalhada muito grande” - porque, “certamente, nunca pensariam que estava a falar a sério”, mas destaca as palavras do pai: ‘tens muitas qualidades, mas nunca pensei que tu fosses para esse caminho, mas, se é isso que tu queres, estou aqui 100% com contigo’”.
O diácono, que vai ser ordenado sacerdote para a Diocese de Vila Real, diz que “a diocese é como uma mãe que cuida de todos os seus filhos espirituais da melhor forma que pode, apesar de todas as dificuldades”.
“Quando penso na diocese, penso numa responsabilidade a nível pessoal de forma que a Igreja seja mais forte agora, e seja mais forte no futuro, para que aqueles que virão encontrem uma Igreja ainda mais forte”, conclui.
Para o bispo de Vila Real, D. António Augusto Azevedo, as ordenações de dois novos padres ao serviço da diocese é “um grande sinal de esperança”.
“Eles são um grande dom de Deus à Igreja diocesana e, juntamente com os cinco que foram ordenados desde 2019, constituem a nova geração de sacerdotes de quem se espera muito entusiasmo e empenho em servir o povo de Deus”, escreveu D. António Augusto em mensagem aos cristãos, para assinalar os cinco anos à frente da diocese.