13 jul, 2024 - 08:15 • Henrique Cunha
No fim de semana em que termina, na Alemanha, o campeonato da Europa de Futebol, a Renascença entrevista o capitão de equipa da Diocese de Vila Real, o padre Ivo Coelho, que acaba de conquistar a 17.ª edição do campeonato de futsal para padres portugueses, a Clericus Cup 2024, ao vencer a equipa de Braga (Bracara), tornando-se pentacampeã da competição.
O jogo da final colocou frente a frente as mesmas equipas da edição de 2023 e registou resultado idêntico, com uma vitória da equipa de Vila Real, por 5-1, num jogo realizado no Pavilhão do Colégio da Via Sacra, em Viseu.
Para além de revelar alguns dos segredos do sucesso desportivo da Diocese de Vila Real e de falar dos próximos objetivos, o sacerdote reflete também sobre a realidade atual da Igreja em Portugal, que sofre com o envelhecimento da população e a progressiva diminuição de vocações.
Campeões pelo quinto ano consecutivo. Qual o segredo para este sucesso contínuo? A maior juventude, a qualidade da equipa?
Tem sobretudo a ver com a nossa qualidade, enquanto jogadores, e sobretudo com a nossa amizade. Já somos amigos há muitos anos. Além de colegas no sacerdócio, somos todos muito amigos, damo-nos todos muito bem. E é um pormenor que também é importante, o sucesso passa um pouco por aí.
Além do futsal, que nos une, temos uma amizade muito grande. Estamos muitas vezes juntos e brincamos com tudo. Além da qualidade, é sobretudo a amizade entre nós.
A qualidade também ajuda, porque acho que têm um jogador de excelência...
Sim, temos um jogador bom, que é o padre André Meireles. Temos outro também diferenciado, muito bom e jovem, que é o padre Miguel. E depois temos um bom guarda-redes também, eu como capitão, e o padre Carlos Rubens, que também marca golos. Portanto, temos um "cinco" bom e somos os cinco muito amigos. Basta ver que nestes dois dias, ontem e hoje, voltamos a estar juntos.
Já estão a treinar para o próximo ano?
Não, não, não. Agora estamos a recuperar das mazelas, ainda andamos todos aleijados.
Futsal
No dia em que a seleção portuguesa de futebol, de (...)
Para o ano, o objetivo é passarem a ser os únicos hexacampeões?
Sim, Igualamos este ano Viana do Castelo. A nível de padres, Viana do Castelo também foi pentacampeão, há uns anos. Mas o objetivo é ser "hexa", sim. E, ao mesmo tempo, igualar a nível de títulos dos padres a Diocese de Viana, que tem oito.
Qual a importância deste tipo de iniciativas?
Primeiro que tudo é o nosso encontro e o nosso convívio, em Vila Real. Para nos prepararmos, vamos estando juntos quase todas as semanas. Depois, também tem a ver, claro, com o promover o encontro entre os padres de Portugal. O futsal apenas é um pretexto para nós nos encontrarmos. Portanto, o intercâmbio, a sinodalidade, palavra que agora também está assim na moda, são muitos importantes. O partilhar, o estarmos juntos... Essa é a grande vantagem deste torneio.
Nos intervalos dos jogos, partilham preocupações? De que é que se fala mais?
Sim, há alguns problemas que nós vamos tendo e sobre os quais vamos falando. Tivemos, por exemplo, um jogo na segunda e um jogo na terça. No tempo restante, vamos partilhando conhecimentos, partilhando problemas, partilhando soluções, partilhando iniciativas. Há sempre também este grande intercâmbio de cultura, de problemas e de soluções que vamos tendo.
Falam das experiências pastorais, da falta de vocações, de outras inquietações?
Sim. E neste caso concreto do futebol temos poucos padres novos. A grande parte já anda perto da casa dos 40 anos. Até por aí conseguimos ver a falta de vocações, porque não há tantos padres novos, não há tantos jogadores novos a chegar. Portanto também nos inquieta um pouco, sim.
Estamos a falar com um sacerdote que é de uma diocese do interior do país, onde também se nota o problema do despovoamento e em particular do envelhecimento. Como é viver essa realidade, sendo que a isso tudo se junta também a falta de vocações e a falta de sacerdotes para acudir a todas as necessidades?
É um problema, sim, que temos. A falta de gente, a falta de gente nova... Pois é como diz, é uma população muito envelhecida e nós temos esse problema. E ainda agora estávamos aqui a falar entre colegas que temos paróquias sem catequese, pois não temos jovens e crianças. É um problema para o qual não conseguimos ter solução, porque não temos essa juventude.
Quanto à questão de termos poucas vocações e poucos sacerdotes, a solução vai passar, seguramente, por uma reformulação da paróquia tradicional ou por algo diferenciado do que é a paróquia tradicional, porque também temos poucas pessoas nas paróquias e não conseguimos fazer o que fazíamos há dez anos. Agora, não é possível ir a todas as paróquias e celebrar missa todos os domingos, porque não temos padres suficientes para aquilo que era o tradicional durante estes anos todos para trás.