13 ago, 2024 - 11:35 • Ana Catarina André
O bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, alertou, esta terça-feira, 13 de agosto, em Fátima, “para a existência de muitos rostos escondidos que, sem escrúpulos, prometem paraísos aos pobres das periferias do mundo”.
“Por detrás de uns milhares de euros ou de dólares, aqueles rostos que inicialmente se apresentam como bons samaritanos, acabam por revelar-se rostos de cruéis malfeitores, que abandonam homens, mulheres e crianças caídos à beira do caminho ou, então, que os entregam à sua sorte nas vagas do mar, sem esperança e sem futuro, prelúdio de morte ou, pelo menos, de embate com a dura realidade que os espera na praia”, disse na homilia da missa da Peregrinação Aniversária de agosto, que integra a Peregrinação Nacional dos Migrantes.
Diante de cerca de 50 mil fiéis, dados do Santuário de Fátima, o vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) lembrou que, por vezes, “a casa, a sociedade, torna-se um lugar de rejeição; a comunidade, um lugar de discriminação; o trabalho, um meio de exploração”.
O bispo de Coimbra lembrou os jovens “que assumem que a sua casa é o mundo”, para dizer que essa é uma mobilidade humana que “nem sempre acontece (…) por uma decisão livre e isenta de constrangimentos”.
“Persiste, também nos nossos jovens, a necessidade da mudança não desejada, seja por motivo de estudo, de investigação, de trabalho em condições mais favoráveis, de procura de realização mais adequada aos seus ideais de vida”, sublinhou.
Afirmando que “Fátima continua a ser para os migrantes, reduto de fé, lugar de súplica e de gratidão a Deus”, o bispo de Coimbra lembrou as condições enumeradas pelo Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, para que as migrações “sejam caminho de bem-estar e felicidade”: “todos precisamos de uma luz que nos guia e todos precisamos de uma casa para habitar”.
Segundo D. Virgílio Antunes, “no princípio, há sempre um sonho, uma luz”, que pode “surgir no meio das situações deploráveis dianta das quais não é possível a resignação, por porem em causa o bem das pessoas e das famílias”. Uma luz que, segundo o bispo, se reflete nos homens, nos estados e nas instituições que acompanham estas populações “e ajudam a rasgar horizontes de esperança”.
O vice-presidente da CEP frisou ainda a importância da casa, “a habitação digna e necessária essencial à vida da família”, que “significa também a inserção na sociedade, o acolhimento e o respeito mútuos; inclui o trabalho, o mundo das relações humanas e sociais que dão novo sabor à vida”.
Dirigindo à Virgem de Fátima, já no final da homilia, D. Virgílio Antunes sublinhou “que somos todos migrantes, somos todos peregrinos” e pediu orações pelo fim das “guerras que destroem e matam” e pela construção da paz.
Durante a missa, concelebrada por quatro bispos e 90 sacerdotes, um grupo de jovens da Juventude Agrária Católica ofereceu ao Santuário de Fátima 30 alqueires de trigo destinados ao fabrico de hóstias. O ano passado, nas 2540 missas do programa oficial consumiram-se, no recinto, mais de 13 mil hóstias e 659 mil partículas.