12 ago, 2024 - 19:39 • Ana Catarina André
A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), Eugénia Quaresma, considera que a greve na Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) até ao final do ano, anunciada esta segunda-feira, “é mais uma voz a dizer que os recursos não são suficientes”.
“Sabemos que os funcionários da AIMA, alguns, estão a entrar em burnout, a trabalhar fora de horas. Esta é uma greve às horas extraordinárias. Este tempo de transição está a ser aflitivo, apesar de todos os esforços para que as pessoas mantenham a calma e a serenidade, mas a verdade é que os recursos não estão a ser suficientes”, sublinhou Eugénia Quaresma, na conferência de imprensa que antecede a peregrinação de 12 e 13 de agosto, no Santuário Fátima, este mês dedicada aos migrantes.
Questionada sobre o impacto das recentes alterações legislativas que puseram fim à manifestação de interesse como critério para os imigrantes puderem aceder à autorização de residência em Portugal, Eugénia Quaresma considera que, durante a sua vigência, a medida estava a ser usada “indevidamente”. Ainda assim, diz que é cedo para avaliar o impacto do seu fim.
AIMA calcula em 410 mil os processos de imigrantes(...)
“Como alertam as instituições que estão no terreno, continuamos com um vazio. Como é que resolvemos a questão de quem já está ou de quem tem um processo pendente? A medida ainda não resolve tudo. É preciso dar tempo e, por outro lado, melhorar as condições e os recursos que estão no terreno, para que possamos responder não só às pendências, mas às pessoas que chegam.”
Na semana em que a Igreja Católica assinala a 52.ª Semana Nacional de Migrações, Eugénia Quaresma lembra “a desinformação nas redes sociais”, frisando a importância da verdade e da informação. A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações enumerou ainda sete respostas pastorais que a Igreja Católica está empenhada em pôr em prática, entre as quais “reconhecer e vencer o medo” e “promover o encontro” nas comunidades católicas.
A Peregrinação Aniversária de agosto é presidida por D. Virgílio Antunes. Em conferência de imprensa, o bispo de Coimbra disse que o atual aumento dos fenómenos migratórios é explicado, entre outras causas, pelas guerras, “pela pobreza agravada e extrema” e por “regimes totalitários”.
“Talvez esperássemos que no século XXI, algumas destas causas fundamentais que estão na origem destes fenómenos migratórios pudessem estar ultrapassadas, ou pelo menos atenuadas. E o facto é que não acontece isso. Às vezes, parece que estamos num certo retrocesso civilizacional”, referiu o vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
D. Virgílio Antunes sublinha que “as migrações são um fenómeno humano, mas hoje transformaram-se também num fenómeno humanitário, isto é, que exige uma atitude humanitária no melhor sentido desta palavra”.