25 set, 2024 - 20:58 • Aura Miguel
Depois da vivacidade e euforia que encontrou, há duas semanas entre os fiéis, na Ásia e Oceânia, Francisco parte, nesta-quinta feira, para uma viagem de quatro dias a dois países monárquicos, carregados de história, no coração da Europa: Luxemburgo e Bélgica.
A agenda do Papa não inclui qualquer visita a instituições da União Europeia porque, segundo o Vaticano, o seu objetivo é encontrar as autoridades e a população dos dois países.
O papel da Europa no contexto mundial e a vocação para paz, o inverno demográfico, o acolhimento dos migrantes, a secularização galopante e o papel das novas gerações são temas que Francisco, certamente, não deixará de abordar.
As estatísticas da Igreja nestes dois países não são animadoras. No Luxemburgo, 40% da população considera-se católica, mas um estudo revela que, entre 2008 e 2021, a prática do catolicismo caiu de 75% para 48% e, além disso, muitos dos fiéis praticantes são emigrantes portugueses, italianos, africanos e outros.
Na Bélgica, o panorama não é melhor. Um relatório publicado pela Igreja Católica, em 2022, refere que, entre 2017 e 2022, houve 40% de queda na prática dominical (que nunca se recuperou após a pandemia). No mesmo período, os baptismos e matrimónios desceram 15% e, em apenas cinco anos, o número de sacerdotes diminuiu 22%.
Sinal deste abandono é também a quantidade de igrejas encerradas, muitas delas transformadas em bibliotecas, bares, restaurantes e até discotecas. Na Flandres, por exemplo, está em curso o processo de re-aproveitamento de 350 igrejas cristãs (não só católicas) para vários fins.
“Na minha cidade, temos uma cervejaria, um hotel, um centro cultural e uma biblioteca em antigas igrejas”, disse recentemente o prefeito de Mechelen, Bart Somers, à Associated Press. Uma delas é um famoso hotel de quatro estrelas e outra, a igreja de Santo António de Pádua foi convertida em clube de escalada, o Maniak Padoue, onde muitos dos antigos restos do templo, incluindo o altar, ainda continuam expostos.
Para além dos muitos e novos desafios que os cristãos enfrentam, quase todos contra-corrente, ainda há a questão dos abusos a ensombrar as duas igrejas, sobretudo a belga. O mais recente escândalo envolveu o ex-bispo emérito de Bruges, Roger Vangheluwe, de 87 anos, culpado de abusos contra um menor, seu sobrinho. O seu processo culminou, em março deste ano, com a pena de redução ao estado laical, assinada pelo Papa.
A organização belga da visita já anunciou que as 15 vítimas de abusos foram convidadas para um encontro com o Papa, mas o Vaticano não confirma nem desmente.
Esta viagem apostólica de quatro dias inclui seis discursos e uma homilia. Francisco dedica apenas um dia ao Luxemburgo e os restantes à Belgica, com especial destaque para os dois encontros, nas duas universidades de Louvaina: com os professores, em Leuven, que assinala 600 anos no próximo ano, e com os estudantes, em Louvaine-la-neuve.