26 set, 2024 - 11:39 • Aura Miguel
O Papa condenou, esta quinta-feira, no Luxemburgo, o ressurgimento de ruturas e inimizades na Europa que, "em vez de serem resolvidas na base da boa vontade mútua, das negociações e do trabalho diplomático, resultam em hostilidades abertas, com as suas consequências de destruição e morte".
No seu primeiro discurso, perante as autoridades e representantes do grão-ducado, Francisco lamentou uma certa incapacidade do coração humano que “nem sempre sabe guardar a memória, perdendo-se periodicamente e voltando a percorrer os trágicos caminhos da guerra”.
O Santo Padre acrescentou que “para curar esta esclerose perigosa, que adoece gravemente as nações e corre o risco de as lançar em aventuras com custos humanos imensos, renovando massacres inúteis, é preciso olhar para cima, é preciso que a vida quotidiana dos povos e seus governantes seja animada por valores espirituais elevados e profundos, que impeçam o desvario da razão e o regresso irresponsável”.
Preocupado com o desenvolvimento integral de todos os povos, o Papa lançou também um apelo para que “todos se possam tornar participantes e protagonistas”.
"O desenvolvimento, para ser autêntico e integral, não deve saquear e degradar a nossa casa comum, e não deve deixar à margem povos ou grupos sociais. A riqueza - não o esqueçamos - é uma responsabilidade”, afirmou.
Francisco pediu aos responsáveis políticos maior vigilância para não negligenciarem as nações mais desfavorecidas, ajudando-as a sair da sua condição de empobrecimento. "Trata-se de uma excelente forma de garantir a diminuição do número dos que são obrigados a emigrar, muitas vezes em condições desumanas e perigosas.”, acrescentou.
A peculiar história deste pequeno país, com a sua localização estratégica e onde quase metade dos seus habitantes vêm de outras partes da Europa e do mundo, é para o Papa “uma ajuda e um exemplo para mostrar o caminho a seguir em matéria de acolhimento e integração de migrantes e refugiados”.
Francisco sublinhou que o Luxemburgo “pode mostrar a todos as vantagens da paz face aos horrores da guerra, da integração e da promoção dos migrantes face à sua segregação; os benefícios da cooperação entre as nações face às consequências nefastas do endurecimento das posições e da procura egoísta e míope, ou mesmo violenta, dos próprios interesses”.
À margem do seu discurso oficial, Francisco pediu aos luxemburgueses que tenham mais crianças. O Papa referiu-se à baixa natalidade que aqui existe e concluiu, com um sorriso: “Aos italianos costumo dizer, tenham mais crianças e menos cãezinhos; mas a vocês digo apenas: Tenham mais bebés!”
Antes do discurso do Papa, o primeiro-ministro luxemburguês, Luc Frieden, afirmou que uma sociedade não pode sobreviver sem valores nem princípios e que isso “é tão válido para o Luxemburgo como para a esta Europa, que é um projeto de paz e de valores comuns que é preciso defender todos os dias”.
Frieden lamentou, no entanto, as guerras e conflitos internos que hoje se verificam “em flagrante contradição com estes grandes princípios”. O primeiro-ministro luxemburguês disse ainda que “é nosso dever, enquanto responsáveis políticos, envolver-se todos os dias, aqui e no mundo, pela paz, pela democracia, pelos direitos humanos e pelo respeito do direito internacional”.