27 set, 2024 - 18:06 • Aura Miguel
Francisco foi recebido esta tarde na prestigiada Universidade Católica de Louvaina, no âmbito das celebrações dos 600 anos que a secular instituição assinala em 2025.
Num discurso de saudação, o reitor Luc Sels confrontou Francisco com algumas perguntas sobre questões polémicas.
“O choque dos abusos sexuais e a forma como o tema foi abordado no passado, corretamente ou não, enfraquece a autoridade moral com a qual a Igreja pode expressar-se no nosso mundo ocidental”, disse Sels, que pediu um diálogo “honesto, comprometido e cordial com as vítimas, reconhecendo abertamente os erros cometidos”.
Além disso, o reitor lançou algumas perguntas ao Papa: “Por que toleramos este enorme fosso entre homens e mulheres numa Igreja que é tantas vezes liderada de facto por mulheres?” Seles recordou que o arcebispo Terlinden, substituiu recentemente o bispo auxiliar do Brabante Vallone por uma mulher. “A Igreja não seria mais amigável se desse às mulheres um lugar de destaque, inclusive no sacerdócio?”, interrogou.
E o leque de perguntas alargou-se também às questões de género: “A Igreja não ganharia autoridade moral nas nossas regiões se tratasse a questão da diversidade de género com menos rigidez e se, tal como a universidade, demonstrasse maior abertura para com a comunidade LGBTQ+?” Neste contexto, Luc Seles considerou encorajadora a decisão dos bispos flamengos terem criado "um ponto de contacto ‘homossexualidade e fé’ que organiza, por exemplo, um momento de oração ecuménica para a comunidade LGBTQ+ durante o Orgulho Gay em Antuérpia”.
O reitor de Louvaina acrescentou ainda que os teólogos de Louvaina estão “a explorar estas questões difíceis, concentrando-se em particular sobre como a Igreja pode estar próxima das pessoas LGBTQ+” e espera que o Sínodo sobre a sinodalidade, “preserve a unidade na diversidade e encoraje a dissidência construtiva no interior da Igreja”.
Após o discurso do reitor foi exibido um vídeo sobre um projeto de assistência aos refugiados, desencadeado por esta universidade, com alguns testemunhos de estudantes estrangeiros.
Quando chegou a sua vez de falar, o Papa não abordou nenhum dos temas polémicos referidos durante a sessão e deixou um convite ao reitor e aos professores: “Alarguem as fronteiras do conhecimento! Não se trata de multiplicar as noções e as teorias, mas de fazer da formação académica e cultural um espaço vivo, que englobe a vida e fale à vida”.
Francisco também agradeceu a opção desta universidade em abrir espaço para acolher tantos refugiados forçados a fugir das suas terras, no meio de inúmeras inseguranças, enormes dificuldades e, por vezes, sofrimentos atrozes. “É disto que precisamos: uma cultura que alargue as fronteiras, que não seja sectária nem se coloque acima dos outros, mas pelo contrário, que esteja na massa do mundo, introduzindo nela um bom fermento, que contribua para o bem da humanidade”, afirmou.