28 set, 2024 - 10:45 • Aura Miguel
“Os abusos geram sofrimentos e feridas atrozes e minam o caminho da fé”, disse o Papa esta manhã aos representantes da comunidade católica na Bélgica, reunidos na basílica do Sagrado Coração de Koekelberg.
Depois de ouvir uma voluntária testemunhar o choque, a tristeza e a impotência e o sentimento de raiva face à dimensão dos abusos causados por membros do clero, e o modo como decidiu transformar essa dor em assistência concreta às vítimas, o Papa respondeu: “É necessária tanta misericórdia, para não ficar com um coração de pedra diante do sofrimento das vítimas, para as fazer sentir a nossa proximidade e lhes oferecer toda a ajuda possível”.
Francisco, que ontem, na nunciatura, recebeu durante duas horas, um grupo de 17 vitimas de abuso, acrescentou, esta manhã, que “uma das raízes da violência é o abuso de poder, quando usamos as nossas funções para esmagar ou manipular os outros”.
Numa Europa secularizada como se verifica nesta região, o Papa reconheceu que “passámos de um cristianismo instalado num quadro social acolhedor para um cristianismo ‘minoritário’, ou seja, um cristianismo de testemunho”. E disse que os novos desafios que agora se colocam à Igreja exigem “a coragem de uma conversão eclesial, para iniciar aquelas transformações pastorais que afetam também os costumes, os estilos e as linguagens da fé, de modo a que estejam verdadeiramente ao serviço da evangelização”.
Perante os bispos sacerdotes e religiosos, o Papa pediu que não se limitem a conservar ou a gerir um património do passado, mas que sejam “pastores apaixonados por Jesus Cristo e atentos a acolher as questões do Evangelho, frequentemente implícitas, enquanto caminham com o povo santo de Deus”. Depois, dirigindo-se a toda a comunidade, afirmou: “Na Igreja há lugar para todos e ninguém deve ser uma fotocópia do outro. A unidade na Igreja não é uniformidade, é antes encontrar a harmonia na diversidade!” Os fiéis presentes aplaudiram estas palavras com entusiasmo.
Quando saiu da basílica, dezenas de crianças, idosos e até adultos tentaram saudar pessoalmente o Papa. Um casal indiano conseguiu mesmo oferecer-lhe e colocar nos ombros de Francisco uma écharpe de seda e tirar com ele uma selfie.