18 out, 2024 - 07:01 • Henrique Cunha
O presidente da Comissão Episcopal da Cultura e Bens Culturais, D. Nuno Brás, alerta, em declarações à Renascença, para a necessidade de as igrejas em Portugal não estarem fechadas.
No dia em que decorrem as primeiras jornadas da Pastoral dos Bens Culturais da Igreja, D. Nuno Brás, que é também bispo do Funchal, diz que há boa relação entre as diferentes instituições ligadas à área, mas defende uma maior abertura de todas as partes nos capítulos da preservação e da divulgação do património.
D. Nuno Brás dá o exemplo do trabalho de qualidade “realizado no Norte de Portugal, com a Rota do Românico, onde se apostou seriamente no restauro, fez-se uma grande publicidade, onde está tudo perfeitamente assinalado, mas, quando chegamos às Igrejas, estão todas fechadas”.
“Não creio que seja por aí que uma Câmara Municipal, uma autarquia veja as suas contas colocadas em causa. Já que fazemos a publicidade da Rota do Românico - e bem -, já que restauramos - e bem - as Igrejas da Rota do Românico, então, vamos pô-las abertas para que os turistas e todos os outros possam disfrutar”, acrescenta.
Nestas declarações à Renascença, D. Nuno aponta como "exemplar" o trabalho de Espanha "na defesa do património, até por razões turísticas”.
"O mesmo deveria acontecer entre nós”, sentencia.
"Está a ser feito um grande esforço por parte das autoridades civis e do lado da Igreja para cuidar dos bens”, diz o bispo, admitindo que possam também existir "situações pontuais mais escandalosas, escandalosas no sentido de alguma incúria dos bens culturais”. Todavia, "no geral, estamos a fazer um grande esforço, até mesmo à conta do turismo”.
"O facto de sermos, neste momento, um país que vive tanto do turismo exige de nós este cuidado”, argumenta D. Nuno Brás.
O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais pede também que "não existam preconceitos quanto à ajuda publica" na preservação e restauro dos bens da Igreja, porque “quando uma autarquia, quando os próprios institutos e nacionais cuidam destes bens, não estão simplesmente a fazer qualquer coisa de importante para a comunidade cristã, estão a realizar qualquer coisa que é também património nacional e património da comunidade humana onde eles se inserem”.
"Creio que é importante também da parte das autoridades civis que não existam preconceitos quanto à ajuda e quanto à possibilidade de restaurar, de preservar todos estes bens”, reforça
"É importante perceber que o Estado, as autoridades estatais, civis e autárquicas não estão a querer apoderar-se desses nossos bens"
D. Nuno Brás considera que há também preconceitos que “devem também ser retirados da mente da Igreja”, porque sobram resquícios de “uma história de sermos espoliados de muitos dos bens das nossas comunidades”.
“É importante perceber que o Estado, as autoridades estatais, civis e autárquicas não estão a querer apoderar-se desses nossos bens”, enfatiza.
As primeiras Jornadas da Pastoral dos Bens Culturais da Igreja realizam-se nesta sexta-feira, Dia Nacional dos Bens Culturais da Igreja, e são promovidas pelo Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja, em colaboração com o Departamento Cultural da Diocese de Leiria-Fátima.
Criado em honra de São Lucas, padroeiro dos artistas, o Dia Nacional dos Bens Culturais da Igreja visa realçar a importância do património eclesiástico no contexto da pastoral, da evangelização, da história, da educação, da arte e do turismo.
As jornadas, que contarão com momentos de apresentação e debate, destinam-se a fomentar a partilha de ideias e experiências entre os participantes, contribuindo para o desenvolvimento de estratégias eficazes de preservação e dinamização dos bens culturais da Igreja.