23 out, 2024 - 11:40 • Olímpia Mairos
O sonho começou a desenhar-se em 2016, no Mosteiro de Vitorchiano, em Itália. Foi ganhando forma ao longo destes últimos anos e está edificado no lugar do Alacão, em Palaçoulo, no concelho de Miranda do Douro.
O Mosteiro Trapista de Santa Maria, Mãe da Igreja, o primeiro mosteiro trapista em Portugal, ou melhor, uma “aldeia para Deus”, como as monjas gostam de designar o projeto, foi inaugurado esta quarta-feira.
Na homília da eucaristia, o arcebispo metropolita de Braga, que foi bispo de Bragança-Miranda e, por isso, o canal de Deus para a concretização do sonho, começou por recordar o nascimento desta obra e os passos dados até à sua concretização.
As monjas de Vitorchiano sonhavam uma presença efetiva em Portugal, por ocasião do primeiro centenário das aparições em Fátima, mas precisavam de um sinal, isto é, o convite de um bispo. E esse convite foi feito por D. José Cordeiro.
“Damos profundas graças a Deus pelo Seu sonho em concretização aqui e agora. Os sonhos: fazem-nos voar alto; cultivam a esperança; desejam a beleza; tornam reais as coisas impossíveis. Sonhar é a voz do amor”, afirmou o prelado, acrescentando que “o sonho de Deus realizou-se e continua”.
Segundo D. José Cordeiro, “o silêncio e a palavra são caminhos de evangelização” e “Santa Maria Mãe da Igreja é mistério de silêncio”, a sua vida é ritmada «do silêncio ao silêncio, do silêncio à adoração em silêncio transformante» (Berulle).
Assinalando que “vivemos num tempo delicado e de aridez espiritual”, D. José afirmou que “este mosteiro trapista é um apelo permanente à dimensão contemplativa da vida cristã”.
“Experimentar o silêncio do silêncio crente e orante na hospitalidade do Mosteiro Trapista de Santa Maria, Mãe da Igreja, em Palaçoulo (…) é como aproximar-se de uma fonte límpida em território inóspito”, apontou D. José Cordeiro.
Evocando a presença de Cister em Portugal, de fundação de raiz, no mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, de 1153 até 1833, o arcebispo de Braga lembrou que depois da extinção das ordens religiosas em 1834, a Ordem de Cister, os Cistercienses, não restauraram nenhum mosteiro, em Portugal.
“A Providência Divina oferece agora a Portugal o dom da Graça de mais uma comunidade monástica, como uma aldeia para Deus. Este oásis de silêncio que é, ao mesmo tempo, uma palavra para o mundo”, assinalou.
“As Monjas trapistas que abraçam a dimensão contemplativa da vida neste esperançoso mosteiro (…) transmitem a Esperança alegre e contagiante de quem é autenticamente feliz”, apontou o arcebispo primaz de Braga, pedindo que “Deus lhes conceda a Sua Paz e o dom de novas vocações”.
Citando D. António Coelho, beneditino, liturgista bracarense e guia espiritual do venerável Bernardo de Vasconcelos, D. José Cordeiro referiu-se ainda aos mosteiros como “fachos de luz”.
“Santa Maria Mãe da Igreja, com São Paulo VI e São Bartolomeu dos Mártires, dos quais existem nesta igreja abacial as relíquias, intercedam para a beleza silenciosa deste oásis de paz”, concluiu.
O mosteiro trapista de Santa Mãe da Igreja, em Palaçoulo, Miranda do Douro, foi fundado por 10 monjas italianas, que pertencem à Ordem Cisterciense de Estrita Observância (Trapista) de Vitorchiano, em Itália, e custou cerca de seis milhões de euros. Com capacidade para 40 monjas, contempla uma casa de acolhimento, uma hospedaria, segundo a regra de S. Bento, destinada aos visitantes e turistas, e que servirá como fonte de receitas.