26 out, 2024 - 14:06 • Henrique Cunha
“Bispo, devemos ficar ou devemos partir?” é a pergunta que muitos iraquianos fazem perante a escalada de violência no Médio Oriente.
O arcebispo da diocese de Erbil, no Iraque, D. Bashar Warda diz, em entrevista à Renascença, este sábado, no Porto, que “a escalada de violência devasta toda a região”.
O prelado lembra que “sempre que há violência e guerras, existe medo. E como já dissemos muitas vezes, o Médio Oriente já vivenciou muitas dificuldades, muitas guerras e muitas disputas. O Médio Oriente, como qualquer parte do mundo, merece viver em paz. Esta guerra, que acontece desde o ano passado, é uma grande preocupação para todos”.
D. Bashar Warda, que está em Portugal para recordar o martírio dos cristãos, há 10 anos, aquando da invasão de Nínive pelo Daesh, refere também que “a comunidade sente medo e instabilidade” e que por vezes pergunta: “bispo, devemos ficar ou devemos partir?”. “A escalada da guerra devasta completamente toda a região”, reforça.
Nestas declarações à Renascença, o arcebispo iraquiano sublinha, por outro lado, o importante papel do Papa nos esforços pela paz na região e diz que “as pessoas acompanham e apreciam” os apelos de Francisco.
“Sim, sempre que há um apelo do Papa Francisco, normalmente, há sempre eco nos meios de comunicação. As pessoas estão plenamente conscientes do que ele publica e dos apelos que faz. Qualquer que seja o acontecimento ou o anúncio feito por ele, não só em relação ao Médio Oriente, mas a qualquer outra região”, diz.
D. Bashar adianta que “especialmente nestes meses, os iraquianos estão a seguir os seus apelos para acabar com a violência, acabar com a guerra e trazer estabilidade à região”.
“Sim, as pessoas acompanham e apreciam os esforços do Papa”, reforça.
Nestas entrevista, o arcebispo de Erbil deixa também um agradecimento à Conferência Episcopal Portuguesa, à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (Fundação AIS) e a “todos aqueles que rezam pelos cristãos perseguidos”.
D. Bashar Warda participou este sábado, no Porto, no Fórum Ecuménico Jovem, que juntou mais de uma centena de membros das várias Igrejas cristãs em Portugal.
O prelado teve oportunidade de recordar com os jovens os acontecimentos de há 10 anos, aquando da invasão e ocupação do Daesh em Nínive, que levou à fuga de mais de 100 mil pessoas, na sua maioria cristãos, que se deslocaram precisamente para Erbil, no Curdistão iraquiano.
De acordo com o arcebispo “graças a Deus, em 2017, nove mil dessas famílias conseguiram regressar às suas aldeias cristãs", tendo sido, entretanto, iniciada “outra campanha para recuperar edifícios e reinstalar essas famílias”.
“Passámos por uma Sexta-feira Santa muito dolorosa, para realmente nos restabelecermos e para a ressurreição destes cristãos. E rezamos, juntamente com o resto do mundo, para que possam ter estabilidade, não apenas nas suas vidas, mas também na região, e que isso seja sentido por todos em breve”, assinala.
O arcebispo de Erbil está em Portugal a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (Fundação AIS).
O Fórum Ecuménico Jovem (FEJ) contou com a presença e participação do bispo do Porto, D. Manuel Linda, e também do bispo da Igreja Lusitana, D. Jorge Pina Cabral.
Para o bispo do Porto, este tipo de iniciativas confirma “uma longa tradição, no Porto e em Portugal, de dar passos e fazer caminho junto em ordem à unidade”.
D. Manuel Linda afirma que “esta é mais uma realização que sendo de jovens mais nos ajuda porque eles lançam reptos e são sempre pessoas que nos interpelam”.
O prelado sublinha, ainda assim, que “unidade não é uniformidade”, como já “dizemos desde o Concílio Vaticano II”.
Nestas declaraçõoes à Renascença, o bispo refere que “não estamos obrigados a participar dos mesmos ritos e das mesmas tradições”, pois “o caminho é exatamente o do respeito pela diversidade, mas valorizando o essencial”.
“Isso ajuda-nos a compreender, mesmo na Igreja Católica outros fatores de diversidade. Ao estarmos sensíveis ao ecumenismo, também nós dentro da Igreja que não é monolítica, descobrimos de facto o respeito por algumas diversidades que têm plena razão de existir”, acrescenta.
Noutro plano, D. Manuel Linda lamentou a perseguição religiosa porque constitui “um ataque aos direitos humanos".
"É sinal de que ainda estamos num mundo a muitas velocidades. Há uns que de facto caminham passo a passo e com convicção para a unidade e outros que desfazem ou tentam desfazer essa unidade."
“Enquanto nós damos passos no sentido do respeito mútuo entre as religiões, agora no diálogo inter-religioso, sabemos que, infelizmente, em todo o mundo, nem todos dão esses mesmos passos. E alguns atacam os direitos humanos exatamente a partir do núcleo mais central que é a liberdade religiosa, porque situa-se bem no interior da dignidade da pessoa humana."
“Lamentamos porque é sinal de que ainda estamos num mundo a muitas velocidades. Há uns que, de facto, caminham passo a passo e com convicção para a unidade e outros que desfazem ou tentam desfazer essa unidade”, rematou.