16 nov, 2024 - 12:50 • Liliana Carona
É mais alguém, mais um número com rosto e voz apenas para a Cáritas. Para a reportagem basta que o presidente da Cáritas Diocesana de Viseu, Felisberto Figueiredo, mostre as dificuldades traduzidas em estatísticas. “Os pedidos de ajuda realmente pelas estatísticas que temos aqui, ainda são só até outubro, mas já dá para entender que há aqui praticamente uma duplicação de pedidos, tanto em número de atendimentos como em número de famílias atendidas e pessoas abrangidas”, revela o responsável, destacando os números das dificuldades.
“No ano passado, em termos de pessoas abrangidas, atendemos cerca de 5000 e este ano já vamos nas 10200 pessoas, ou seja, 1600 famílias e este ano já vamos quase nas 3000”, acrescenta Felisberto Figueiredo, concluindo que o número de pedidos de ajuda tem aumentado, sobretudo de imigrantes.
Para Felisberto Figueiredo, os imigrantes são iludidos para uma realidade cor de rosa. “O facto de a imigração em Portugal ter aumentado, vão chegando muitos mais. Muitos deles também escolhem Viseu, precisamente porque Viseu parece uma cidade amigável e, portanto, onde se pode viver com tranquilidade e com um bom clima, um bom ambiente, mas muitas das vezes estas pessoas também são aliciadas por gente que lhes pinta um quadro muito cor de rosa”, considera, notando mais tarde “que não é exatamente como pretendiam”.
Encontram rendas de casa muito elevadas, têm dificuldade em encontrar alojamento, não conseguem encontrar emprego e as dificuldades também aumentam. “E por isso mesmo, depois tudo isso, se reflete aqui no número de pessoas que nos batem à porta”, desabafa o responsável da Cáritas diocesana de Viseu.
Dificuldades que se refletem nas crianças. Mais de cinco mil vestem-se ali, na loja social da Cáritas, onde Tânia Pedroso, 58 anos, recebe quem chega. “Hoje atendi um casal que tinha 3 filhos e mais uma gestação em andamento, então é muita necessidade que a gente percebe. E imigração é o que mais acontece. De todos os lados, seja Brasil, seja Angola. Chegam aqui sem saber para onde vão, eu acho que muitos são iludidos, achando que é tudo maravilha e quando chega aqui percebe que não é, ainda mais nessa época agora que é frio, então a pessoa vem com uma mala com três crianças. E aí chega aqui, percebe o clima, a condição, moradia, alimentação e aí fica numa situação delicada”, lamenta Tânia.
O presidente da Cáritas Diocesana de Viseu, Felisberto Figueiredo, olha para o registo das saídas de roupa da loja social e vê um número superior a 5.000, só até outubro deste ano. “Logicamente basta ter uma criança em cada uma destas famílias, para já dar um número elevado, mas muitas das vezes são famílias, até que têm mais que uma criança. Houve uma preocupação aqui há algum tempo na comunicação social, em que se falava da pobreza infantil, mas julgo que isto é querer de alguma forma sofisticar a informação, porque há famílias pobres, há crianças pobres e temos um índice de pobreza muito elevado e logicamente as crianças são aquelas que acabam por sofrer mais”, denuncia.
Situações delicadas, num dia-a-dia, onde a porta da Cáritas Diocesana de Viseu nunca se fecha. O Fundo Solidário Diocesano, resultado do peditório nas missas celebradas e do peditório da rua, com cerca de 11 mil euros, tem sido gerido ao longo do ano, de forma a não falhar a quem mais precisa, garante Felisberto Figueiredo.
“Com mais pedidos, tivemos de gerir o que temos. Mas vamos tendo bastantes donativos, em que as pessoas individualmente ou às vezes até a nível empresarial, fazem questão de fazer donativos à Cáritas. Nós passamos recibo, de que o dinheiro deu entrada nos cofres da Cáritas e isso vai acontecendo com alguma frequência, sem querer que o nome seja identificado”, enaltece o responsável, destacando ainda assim que o leite e os cereais estão sempre a ser necessários na despensa, uma vez que são os bens mais procurados.
No próximo dia 17 de novembro de 2024, celebra-se o Dia Mundial dos Pobres com o objetivo de destacar a importância do apoio aos mais desfavorecidos e de unir a sociedade no combate à pobreza. Este ano, o tema escolhido é «A oração do pobre eleva-se até Deus» (cf. Sir 21, 5). Neste âmbito, a rede nacional Cáritas arranca, com a campanha “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz”, com o objetivo de promover a solidariedade e apoiar os mais necessitados.