20 nov, 2024 - 06:00 • Ângela Roque
A perseguição religiosa aos cristãos agravou-se, e muito, nos últimos dois anos. É o que revela o relatório da Fundação Ajuda à Igreja Que Sofre (AIS), que vai ser divulgado esta quarta-feira.
O documento analisa a situação em 18 países, concluindo que, entre agosto de 2022 e junho deste ano, a situação piorou em todos eles.
“Entre os países que pioraram, temos a Nicarágua, o Burkina Faso, a Nigéria, Moçambique, o Irão, o Paquistão, a Índia, a China e a Eritreia e o Sudão. E, praticamente em todos os países em análise, a situação da comunidade cristã deteriorou-se muito”, confirma à Renascença responsável pela AIS em Portugal, Catarina Martins Bettencourt.
África está no topo das preocupações por causa dos ataques dos grupos jihadistas, que se transferiram do Médio Oriente e estão a aproveitar-se da fragilidade de muitos regimes africanos para ocupar território e dizimar a população local.
“Nos últimos anos, vimos a saída dos grupos radicais do Médio Oriente, que estão, neste momento, em toda a região do Sahel, que inclui países como o Burkina Faso, o Mali, a Nigéria. Vieram para esta região, onde praticamente todos os países têm governos muito frágeis, não há segurança das populações. Há milhões de deslocados, a grande maioria são cristãos que foram obrigados a deixar tudo para trás, as casas, os bocados de terra que tinham para sustento da própria família. Verificamos isto neste relatório. Há de facto uma grande preocupação da nossa parte com África”, sublinha.
Catarina Martins Bettencourt reconhece que em Portugal ainda se vai dando atenção ao que se passa em Moçambique, mas, de um modo geral, o Ocidente não liga ao que se passa em muitos destes países africanos, onde as riquezas naturais são um chamariz para os radicais islâmicos.
“Infelizmente, muitos dos últimos ataques em África não foram noticiados aqui, na Europa. São países que estão votados ao esquecimento”, lamenta, esperando que a divulgação do relatório da AIS possa ajudar a combater esta indiferença.
“É muito importante não nos esquecermos que existe uma Igreja em África que está a ser vítima destes grupos jihadistas, e que infelizmente eles estão sozinhos e está a haver um saque dos países. Os próprios recursos naturais estão a ser roubados. São populações já muito pobres, países empobrecidos e que precisam de ser ajudados", aponta.
"Não podemos ficar indiferentes. Esta iniciativa visa trazer à luz do dia, para os nossos benfeitores, amigos, e para os decisores políticos de cada país, a realidade do que está a acontecer em África”, acrescenta a responsável pela AIS em Portugal
Fundação AIS
Se vir um monumento ou edifício público iluminado (...)
As perseguições variam de região para região do mundo, mas “quando olhamos para África, vemos que têm a ver com os grupos jihadistas, que estão a atuar de uma forma impune, e que têm claramente como alvo uma limpeza dos territórios e das comunidades”, explica.
Os dados do Relatório mostram, de forma clara, que os cristãos são as principais vítimas, mas “nem os muçulmanos moderados escapam, também são perseguidos”.
A preocupar a AIS está também a situação na Índia, face ao aumento do nacionalismo hindu que oprime todas as outras religiões. “É um nacionalismo que tem crescido muito nos últimos anos e tem provocado um aumento dos ataques à comunidade cristã. Restringe todas as atividades, todas as religiões que não são hindus, como é óbvio. Só os hindus é que têm tido nos últimos anos uma liberdade de expressão. Todos os outros têm sido reprimidos”, refere.
O Relatório da AIS revela ainda uma situação “dramática” no Paquistão, com uma violência crescente sobre a população feminina que é cristã.
“Quando olhamos para o Paquistão, que é um país maioritariamente muçulmano, percebemos pelo número de ataques a igrejas, às raparigas e mulheres cristãs que são raptadas, violadas, mantidas em casa fechadas e obrigadas a casar com homens muçulmanos para se converterem ao Islão, que a situação piorou muito neste último relatório. São situações dramáticas."
A violência sexual tem sido também uma das armas usada pelos jihadistas em África. É por isso que no Burkina Faso a Fundação AIS está a financiar “centros de tratamento de traumas”, para além do apoio à Igreja local e da assistência humanitária que asseguram em vários países.
“Em África, e no Burkina Faso também, tem havido violações de mulheres, e raptos com violência extrema, para que se convertam ao Islão. É preciso ajudar a recuperar estas pessoas, em termos psicológicos, por isso temos estes centros de tratamento”.
Cardeal Filoni à Renascença
Colaborador do Papa e grão-mestre da Ordem do Sant(...)
A campanha de Natal da Fundação AIS destina-se este ano precisamente ao Burkina Faso. Um sacerdote daquele país, o padre Jacques Arzouma Sawadogo, vai estar presente na divulgação do Relatório ‘Perseguidos e Esquecidos?’, da Fundação AIS, sobre a violência contra os cristãos no mundo.
O documento será apresentado por Jorge Bacelar Gouveia, no MUDE - Museu do Design, em Lisboa, às 17h30, com apoio da câmara de Lisboa. Na sessão estará também presente Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da autarquia.
Logo após a apresentação do Relatório – que é divulgado sempre de dois em dois anos - será iluminado de vermelho o monumento a D. José I, no Terreiro do Paço, no âmbito da "Red Week", a semana de alerta para a perseguição religiosa aos cristãos no mundo.
Há outras apresentações previstas para Santarém, Aveiro e Évora, a 21, 22 e 23 de novembro, respetivamente.