24 nov, 2024 - 09:30 • Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Agência Ecclesia)
“A Igreja tem que ter capacidade de criar espanto nos jovens”, diz novo coordenador do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil.
O novo coordenador do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, Pedro Carvalho, considera que o facto de a "Igreja ter colocado a questão dos abusos no centro das suas preocupações" vai ajudar a recuperar a confiança na instituição.
Em entrevista à Renascença e à Agência Ecclesia, Pedro Carvalho fala de “uma realidade deixou muitas feridas”, mas mostra-se convicto de que se está "a seguir um caminho para que os jovens" recuperem a confiança.
Para Pedro Carvalho, tudo o que venha a ser feito "nunca será suficiente" porque entre os jovens a questão dos abusos continua a ser tema de discussão. "É uma questão no centro das preocupações", afiança.
Neste domingo em que se assinala o Dia Mundial da Juventude e uma semana depois de ser nomeado coordenador do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, o novo responsável promete “ouvir os jovens” para os perceber e defende que se pense em “canais de comunicação” para tornar “mais eficaz a transmissão do Evangelho”.
“Quero escutá-los, compreendê-los, ler os sinais dos tempos com eles e levarmos juntos esta pastoral juvenil."
O novo coordenador do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil defende que “a Igreja tem que ter capacidade de criar espanto nos jovens".
"O maior desafio é ousar sonhar coisas grandes com os jovens", diz defendendo que "o departamento nacional tem de ser a casa dos jovens”.
"O departamento nacional tem de ser a casa dos jovens"
Pedro Carvalho lembra que os jovens que agora tem 19 anos passaram a sua adolescência na pandemia e esse é um exemplo da necessidade de “compreender todas as suas inquietudes, fragilidades”, porque “temos que ter uma linguagem fácil e compreensiva”.
O responsável entende também que os jovens cristãos não podem abandonar o espaço publico: "O maior desafio é conseguirmos que os jovens de hoje sejam cristãos no dia-a-dia e que ocupem o espaço público."
Manifestando toda a confiança “nas redes da Igreja”, Pedro Carvalho admite a necessidade de as “aprofundar” para que todos estejam “ligados, em sintonia, sintonizados”.
O novo coordenador do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil diz que a JMJ Lisboa 2023 foi um grande exemplo de sinodalidade, defendendo a necessidade de se continuar a aprofundar essa ideia de "Igreja Sinodal".
Neste dia em que os jovens de Lisboa vão entregar os símbolos da JMJ a uma delegação de Seul, numa celebração marcada para a Basílica de São Pedro, no Vaticano, o novo coordenador do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil diz que o momento provoca um misto de sentimentos: alegria e saudade.
“Se há melhor exemplo de igreja sinodal foi aquele que foi vivido na construção da Jornada Mundial da Juventude”, afirma.
"O maior desafio é conseguirmos que os jovens de hoje sejam cristãos no dia-a-dia e que ocupem o espaço público"
A Conferência Episcopal decidiu nomear um coordenador do DNPJ com disponibilidade a tempo inteiro para esta função. A primeira pergunta é: como é que encaras este desafio?
Bem, vamos por partes.
Primeiro, um grande obrigado. E um grande obrigado à Conferência Episcopal, na pessoa também do D. Nuno Almeida pela ousadia de desafiar uma pessoa comum, entre tantos, que poderiam ser aquilo que eu vou estar a fazer, que é liderar o Departamento Nacional da Pastoral Juvenil. Depois, também, quero dar uma palavra para o Nuno Camelo e deixar a minha profunda gratidão pelo trabalho desenvolvido por ele e pela sua equipa nos últimos anos e também estender esta gratidão a todos aqueles que já serviram também o Departamento Nacional.
E última nota, mais pessoal, à Igreja da Aveiro, que me deu todas as oportunidades, na paróquia e na diocese, na pessoa do D. António, porque penso que também esse trabalho abriu portas para aquilo que eu vou fazer agora. E, numa frase, sim, eu aceitei, estou em pleno e eis-me aqui para escutar, refletir e agir com os jovens portugueses.
Isso implica mudanças profissionais e familiares?
Sim, mais profissionais. Familiares, é óbvio... Isto foi completamente inesperado, não estava no meu plano de vida e, portanto, obrigou-me a alguns dias de reflexão e discernimento. "O que é que eu posso ajudar, o que é que eu posso fazer pelo Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, pelos jovens portugueses?" Eu sou capaz?" Eram estas as minhas inquietações e, quando cheguei a casa, disse à Catarina: "Olha, aconteceu-me isto." E ela, muito entusiasta, disse: "Então, vamos lá pensar os dois, se isto é possível."
E, sim, em termos de família, já estamos habituados a esta vida completamente alterada de horários, com três filhos, um na universidade, outro a estudar em Aveiro, outro mais perto de casa.
Profissionalmente, é uma mudança de uma cidade que eu gosto muito, pela qual me apaixonei. Apaixonei-me pelas pessoas daquela cidade que me fizeram aquilo que eu sou hoje: São João da Madeira. E, então, essa cidade e essas pessoas fizeram-me ser uma pessoa completamente diferente, cresci com eles e acho que estou preparado para isto também por causa deles. Na questão da mudança profissional, há uma palavra muito cara que é "freima". Usa-se muito também em São João. Essa freima, que é do dia-a-dia, significa nós termos esta ousadia de estar sempre a trabalhar.
"Há uma coisa que são os jovens, há outra coisa que são as estruturas. Temos duas vias para trabalhar"
Quais vão ser as tuas prioridades? Por onde vais começar o teu trabalho?
O meu trabalho já começou. Primeiro, ouvir muito, ouvir os jovens, ouvir as estruturas. Temos que pensar de duas formas: há uma coisa que são os jovens, há outra coisa que são as estruturas. Temos duas vias para trabalhar. A estrutura do departamento pastoral juvenil, com os secretariados, com as congregações e com os movimentos, e, depois, temos mais uma via que são os jovens.
Temos que pensar em canais de comunicação entre todos, pensar como é que podemos ser mais eficazes na transmissão do Evangelho ou na nossa evangelização. Isso é uma parte. A outra parte foi o que me fez estar. Foi pelos jovens e com eles querer embarcar nesta grande aventura e ser mais um a ajudar a construir caminhos a partir do amor e da beleza. Quero escutá-los, compreendê-los, ler os sinais dos tempos com eles e levarmos juntos esta pastoral juvenil.
Posso depreender das tuas palavras que é preciso fazer fluir melhor a comunicação?
Sim. Na comunicação, nós temos uma coisa tão bonita, que é a história de Jesus Cristo, que é tão bela, tem uma beleza enorme, que tem de ser fácil transmiti-la, não é? Às vezes, porquê é que nós não fazemos isso? É uma interrogação... Acho que podemos fazer isso. O departamento nacional tem de ser a casa dos jovens, ser diferente, e isto da casa tem a ver com a base: o departamento tem de ser a base. Não pode estar no "top", tem de estar no "down". Ou seja, temos de conseguir virar a pirâmide. Nós construirmos com os jovens sendo a casa deles.
Sabemos que ir ao encontro dos jovens implica conhecer as suas prioridades, os seus problemas. Há uma intenção da parte dos bispos de criar um novo quadro para a pastoral juvenil, como foi dito no comunicado final da última Assembleia Plenária da CEP, e esse quadro vai implicar um período de escuta. Vai ser preciso ter esta escuta prévia antes de se avançar propriamente com propostas concretas?
Sim. Há um mar enorme de desafios na pastoral juvenil, um mar enorme. E das muitas mensagens que o Papa Francisco nos deixou há uma interessantíssima, deixado no Mosteiro dos Jerónimos, que é falar para nós, para a estrutura. Vale a pena a todos nós, que estamos na estrutura eclesial, todos os departamentos, todos os secretariados, ler aquele discurso do Papa Francisco. Ele aí deixou-nos uma missão irrecusável: pediu-nos para nos aventurarmos no mar da evangelização e da missão. Indicou-nos os caminhos: fazermo-nos ao largo, levarmos juntos por diante a pastoral e não termos medo de nos tornarmos, efetivamente, pescadores de homens.
Portanto, o desafio da Conferência Episcopal é isto que já estamos a fazer: há um novo quadro, pode haver um novo quadro de referência, há uma base de trabalho, e essa base de trabalho vai ser de escuta com as estruturas e também com os jovens. Para quê? Para conseguirmos comunicar, comunicar com a mesma linguagem. Se conseguirmos perceber que são estas as "guidelines" que temos, mais fácil será comunicar.
"Temos que trabalhar com os jovens, não é só para eles e por eles, mas trabalhar com eles"
Depois da Jornada Mundial da Juventude, ficou a sensação de que voltámos a uma certa letargia, a sensação de que aquela a lufada de ar que a Jornada foi capaz de insuflar, se foi perdendo na espuma dos dias. Acreditas que ainda estamos a tempo de arrepiar caminho?
Eu acredito e tenho visto muitos projetos fantásticos a acontecer no território e em todas as dioceses. Acredito e acredito que há sempre um laboratório de experimentação, de evangelização em cada paróquia, em cada diocese. Tenho visto muitos projetos muito bons, mas o maior desafio é ousar sonhar coisas grandes com os jovens, isto é, nós temos que trabalhar com os jovens, não é só para eles e por eles, mas trabalhar com eles. Que que sejam eles os nossos grandes inspiradores e percebamos quais são os anseios deles.
A Pastoral Juvenil, tradicionalmente, é pensada como algo que se passa aos jovens. Há iniciativas para os jovens, eles são destinatários... Há mensagens que se têm de passar aos jovens. A experiência da JMJ em concreto mostrou que estamos prontos para que eles sejam protagonistas?
Claro. Eles têm de ser os protagonistas. Devem ter o palco para eles, serem ousados, serem poéticos e serem criativos. E isto tem que nos fazer sair, pois temos esta Igreja de saída. Mas permitam-me dizer uma coisa: estes jovens de agora são os jovens que passaram muito tempo em solidão, na solidão da pandemia. Reparem: um jovem que tem agora 19 anos passou a sua adolescência na pandemia. Portanto, temos que compreendê-los. Compreender todas as suas inquietudes, as suas fragilidades, questionar, falar com eles, refletir em todas as dimensões, desde a ecologia ao desenvolvimento sustentado, educação e trabalho, a saúde, a saúde mental, as dependências, a solidão, a sociedade, o aumento do custo de vida. Temos que ter uma linguagem fácil e compreensiva.
E que tenha em conta as questões deles, não é?
Claro, exatamente.
Penso que o maior desafio é conseguirmos que os jovens de hoje sejam cristãos no dia-a-dia e que ocupem o espaço público. Isto é difícil, mas cabe-nos a nós, animadores, acompanhadores dos jovens, dar-lhes ferramentas para que eles consigam perceber como é que eu posso, no espaço público, na sociedade,ser cristão e ter uma voz neste espaço, no meu território.
A importância de se reverem na igreja?
Sim, sim. Acho que é fácil rever-se na igreja. Às vezes, o que é necessário é mudarmos um bocadinho o "chip", não é? Ou melhor, vamos lá ver: como é que os jovens podem rever-se na Igreja? Temos que perceber qual é o algoritmo deles, qual é o algoritmo que eles querem, não é?
"Isto é fixe, isto é uau!!!" Nós queremos criar espanto nos jovens, temos que ter essa capacidade para que eles possa dizer "uau, a Igreja está comigo, acompanha-me." Muitas vezes, é difícil para nós, metermos a igreja no algoritmo deles, seja nas redes sociais, seja na vida. Mas, mais do que redes virtuais, temos que conseguir que eles tenham redes de jovens que consigamos unir. É isso um dos meus propósitos na minha missão: conseguir perceber os jovens portugueses, conseguirmos unir as suas inquietudes. Porque há uns que têm uma e vamos falar com estes, há outros que têm outra com o ambiente, vamos falar com esses jovens. Não podemos é ter todos os jovens a falar sempre para os mesmos, porque eles têm inquietudes diferentes.
Desse ponto de vista é também um sinal importante confiar num leigo para dinamizar um setor tão importante como o da relação da Igreja com os jovens?
Sim, é um sinal. Obviamente, é um sinal. Vai ao encontro daquilo que eu disse no início: a Conferência Episcopal foi ousada nesta visão para a Pastoral Juvenil. Eu tenho essa responsabilidade, sou o primeiro que me vou dedicar em pleno à Pastoral Juvenil. Isto permite que eu consiga cooperar, sonhar, arriscar, criar e partir rumo ao outro, terra a terra, diocese a diocese. Este tempo dá-me tempo para eu estar com eles e dá-me tempo para eu alegrar-me com a alegria deles, dá-me tempo para pensar nas suas inquietudes e, depois, pensarmos juntos, enquanto estrutura eclesial e estrutura da Igreja, em busca das melhores propostas. Eu acredito nas redes da Igreja, acredito também que temos que aprofundá-las, aprofundar esta ligação bispos-párocos-leigos-congregações-movimentos... Os próprios departamentos da CEP. Temos que estar todos ligados, em sintonia, sintonizados.
"Estes jovens de agora são os jovens que passaram muito tempo em solidão, na solidão da pandemia"
Acabámos de falar em estar juntos, em redes, o que remete para o processo sinodal que o Papa Francisco lançou. Esta experiência dos últimos anos, em particular dos últimos três, pode inspirar novas experiências de encontro nas paróquias, nas universidades, nos locais onde os jovens estão?
Eu encontrei, e foi muito bom encontrar, companheiros do entusiasmo da juventude. Encontrei-os e eles estão aqui, eles estão por aí, eu vou tocar-lhes à porta. Mais uma vez, é preciso sermos Igreja em saída. Os dias nas dioceses são um bom exemplo de Igreja em saída. Se há bom exemplo de igreja sinodal, foi aquele que foi vivido na construção da Jornada Mundial da Juventude. Quem passou, como eu passei, por todas as dioceses e viu o empenho de todas as comunidades, dos 8 aos 80 anos ou aos 90 anos, percebe o que estou a dizer. E a forma como vimos a distribuição de tarefas... A pessoa que tinha jeito para as finanças estava nas finanças, a pessoa que tinha jeito para a comunicação estava na comunicação.
Criámos tantas comunidades, tantas, tantas... Eu sou testemunha do entusiasmo das paróquias de Aveiro e de todo o país, porque consegui percorrer o país. Foi um grande laboratório de sinodalidade, um grande exemplo. Se quisermos, temos grandes exemplos para mostrar e dizer "aqui foi possível". Já vivemos essa sinodalidade e temos de continuar a aprofundar, a ir mais fundo, a dizer assim: "O que é que ainda podemos melhorar?"
Aveiro decidiu receber todos os jovens em famílias nos "Dias nas Dioceses". Foi um desígnio nosso. Chegamos a trabalhar juntos, parece um número estratosférico, cerca de quatro mil pessoas. Quatro mil pessoas a trabalhar na Igreja para receber cinco mil jovens é muita gente. Para estas pessoas trabalharem, tivemos de trabalhar em rede, tivemos de dialogar, tivemos de comunicar, tivemos de ser companheiros no entusiasmo e também naqueles dias que estávamos mais tristes em que as coisas não nos corriam bem. Conseguimo-lo fazer, este desafio da sinodalidade foi feito, vamos continuar, não podemos parar.
A mensagem católica tem alguma dificuldade em chegar às novas gerações quando é entendida como a imposição de um conjunto de comportamentos. É um desafio alterar a linguagem, valorizar a proposta da fé como sentido para a vida?
Claro que sim. Alterar a linguagem, mas, antes, temos de escutar, escutar, escutar, ter tempo para ouvir os silêncios dos jovens, ter tempo para lhes dar tempo para pensar, dar tempo a que eles nos digam aquilo que estão a sentir. Este tempo de escuta permite-nos, depois, sair. E escutar não é ouvir um, dois ou três anos. Não. É uma escuta permanente, para depois agir. Com eles vamos construir este caminho, arriscar o caminho do amor e a construção de um reino do amor, aquilo que Deus nos pede. É isso que é possível. Sim, a linguagem tem de ser a linguagem dos jovens, mas nós só conseguimos ter a linguagem dos jovens, se nós tivermos tempo para os ouvir.
E se forem eles próprios a produzir essa linguagem? É que, caso contrário, cheiraria a falso...
Exatamente, é precisamente isso, quando falo dos algoritmos, do "fish", do "scroll" e mais não sei quanto... Quer dizer, temos de nos atualizar enquanto linguagem para eles perceberem e chegar a eles. E acompanhá-los, porque, muitas vezes, temos aquela tentação de fazer os tais projetos para eles e usamos os jovens como os nossos troféus. Temos aqui um projeto, trabalhámos para eles e eles vieram, muito bem. Mas não é isso. Na escada da participação que eu preconizo e quero que aconteça na Igreja e no departamento da pastoral juvenil, é que eles participem, sejam eles os protagonistas, que falem a linguagem deles. Nós estaremos aqui para os acompanhar.
Um exemplo: eu venho da área do desporto e gostava de arriscar fazer um mortal. E o meu professor de Educação Física dizia: "Pedro, tu ainda não tens aquelas competências necessárias." O meu professor dizia, então: "Queres arriscar, eu estou aqui, então vamos fazer 'step by step'." Nós temos de trazer isto para a igreja. Eles querem arriscar, então vamos estar aqui a acompanhá-los, mas que sejam eles a puxar, sejam eles o motor, sejam os jovens o motor desta Igreja. E sejamos nós, jovens adultos ou adultos jovens que os acompanhamos, a ter esta função de amparar, sem querer impor. Se nós conseguirmos que os jovens sejam os protagonistas, que sejam eles a avançar as novas propostas para a Igreja, sejamos nós aqueles que vamos acompanhá-los no seu risco. Vai ser fantástico, vai ser mesmo muito bom.
"Acredito nas redes da Igreja, acredito também que temos que aprofundá-las"
A questão dos abusos na Igreja prejudicou a relação de confiança dos jovens na Igreja. Do teu ponto de vista, os passos dados estão a ajudar a recuperar essa confiança?
Esta questão é uma realidade que nos entristece e que nos deixou muitas feridas. Penso que a Igreja colocou a questão no centro das suas preocupações, assumindo as suas responsabilidades, para que possa ser uma casa segura para todos. Tenho confiança que estamos a seguir um caminho para que os jovens confiem em nós.
Ainda assim tem havido algumas críticas, nomeadamente à forma como vem sendo conduzido o processo. Na tua opinião, está-se no bom caminho?
Tudo o que façamos para tentar recuperar os danos causados nunca será o suficiente. Estamos a fazer este caminho de colocar esta preocupação no centro das nossas responsabilidades.
Esta questão dos abusos, para quem lida habitualmente com jovens e que agora tem a coordenação do departamento, era falada ou era evitada?
Falamos. Falamos porque é uma questão à qual nós não podemos fugir. É uma questão que está no centro das nossas preocupações e temos que arranjar caminhos para que possamos fazer bem e evitarmos novas situações no futuro.
E quanto mais depressa se resolver, melhor será também o caminho para que os jovens percebam o esforço da Igreja no sentido de melhorar toda esta relação?
Sim, sem dúvida.
Em 2025, vamos viver o jubileu dos jovens, uma semana de festa, em Roma, com o Papa. É um bom ponto de encontro para relançar dinâmicas que se criaram por ocasião da JMJ em Lisboa?
Sim, claro que sim, é um bom ponto de encontro. Comigo vai ser um encontro da minha família com o Torbergata, porque foi lá há 25 anos que eu e a Catarina decidimos casar. Portanto...
Foi no encontro com São João Paulo II...
Exatamente. Foi lá, naquele domingo, com calor, que decidimos. E, sim, o departamento vai criar estas dinâmicas de participação para que sejam os jovens a começar já cá, aqui, com o jubileu. Dos contatos e diálogos que já tenho tido com as pessoas com quem fui falando ao longo desta semana, sei que está a haver muita mobilização para Roma. Boa! Agora, cabe a nós conseguir que vão mais jovens. A mim, o encontro deu-me uma família e três filhos...
Hoje celebramos a Jornada Mundial da Juventude, a nível diocesano. O Papa escreve que a solução para o cansaço, paradoxalmente, não é ficar parado para descansar, é, pelo contrário, pôr-se a caminho e tornar-se peregrino da esperança. É uma inspiração para a Igreja em Portugal?
É uma inspiração para a Igreja em Portugal, com toda a certeza, mas incluo a palavra "alegria". Este dia que vamos viver em Roma é um misto desta alegria que foi a passagem dos símbolos em Portugal e a saudade, a saudade de os deixar passar para a Diocese de Seul. Mas naquela Cruz e naquele Símbolo vão as impressões digitais dos jovens portugueses que pegaram na Cruz e no Símbolo também. Está lá a nossa impressão digital do que é ser português e a palavra saudade também só é nossa.