17 dez, 2024 - 17:50 • Aura Miguel
Na próxima noite de Natal, a 24 de dezembro, o Papa abrirá a Porta Santa do Jubileu da Esperança, na basílica de São Pedro. A tradição manda que, alguns dias depois, o mesmo aconteça com as Portas Santas das basílicas de São João de Latrão, de Santa Maria Maior e de São Paulo extra-muros. No entanto, Francisco decidiu que a segunda Porta Santa será aberta na prisão de Rebibbia, em Roma, a 26 de dezembro.
Neste estabelecimento prisional, com mais de 1.500 reclusos, a expectativa é grande. “Consideramos a Porta Santa como uma passagem de espiritualidade e justiça, um lugar de acolhimento ao serviço da fraternidade no mundo”, disse recentemente a diretora da prisão, Teresa Mascolo.
O gesto simbólico de Francisco inspirou, também, o Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé que anunciou, esta terça-feira, o seu programa de arte contemporânea, que visa colocar em relação o jubileu da Esperança com a realidade das prisões.
Em continuidade com o projeto do Pavilhão da Santa Sé, ligado ao tema dos direitos humanos e à figura dos menos afortunados, que o Dicastério apresentou na 60ª Exposição Internacional de Arte na Bienal de Veneza, foi hoje divulgado o programa de arte dentro das prisões, com novas colaborações e intervenções artísticas.
No livro "Esperança", o Papa Francisco revela, pel(...)
O cardeal Tolentino de Mendonça explicou, em conferência de imprensa, que “o importante é que todos acreditem que a transformação – a nossa e a do mundo – é possível”.
Para o cardeal português, “a arte é, por vezes, considerada um luxo destinado ao prazer de poucos”, esclarecendo, em vez disso, que “a arte carrega dentro de si um desejo maior, quer pensar e refletir a condição humana de todos e surpreender e interessar por tudo o que é humano”.
O prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação sublinhou a importância das experiências que levam a produção artística contemporânea a lugares sensíveis da existência, como acontece nas prisões. “A arte pode ser a voz e o rosto de dramas que normalmente permanecem invisíveis e pode tornar as sociedades mais conscientes da sua altíssima responsabilidade, nos obriga sempre a uma cidadania ativa e partilhada”, afirmou.
“Pelos peregrinos da esperança” é a intenção de or(...)
Durante o jubileu, o Dicastério quer aprofundar o diálogo fecundo entre a realidade da prisão e o mundo da arte contemporânea e “incentivar experiências que ajudem os presos a viver a sua permanência nas penitenciárias de forma reabilitadora, preparando-se para o seu retorno à sociedade”. Igualmente urgente é “a conversão cultural e espiritual dos corações e da visão que a sociedade tem da prisão, para que seja cada vez mais considerada como um lugar de reabilitação e não de punição”.
Concretamente, no cárcere de Rebibbia, a curadora Cristiana Perrella (também responsável pelo pavilhão da Bienal de Veneza), convidou a artista Marinella Senatore para criar um projeto de arte participativa.
A obra “Eu contenho multidões”, que o Papa vai ver quando visitar a prisão de Rebibbia, é uma instalação que consiste numa estrutura vertical, com seis metros de altura e um diâmetro aproximado de três metros, composto por luzes e elementos contendo frases em diferentes línguas e dialetos. As frases portadoras de esperança, que compõem a instalação artística, foram escritas por reclusos e reclusas, após um “workshop” para cerca de 60 participantes.