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Papa visitou Mossul mesmo sabendo que "uma jovem kamikaze" o queria matar

17 dez, 2024 - 00:01 • Aura Miguel

No livro "Esperança", o Papa Francisco revela, pela primeira vez, os riscos que correu durante a sua viagem apostólica ao Iraque, sobretudo à cidade de Mossul. “Aquela viagem tinha me sido desaconselhada por quase todos”, assume.

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No dia em que o Santo Padre completa 88 anos, a editora Nascente antecipa à Renascença um excerto de “Esperança”, a nova autobiografia do Papa Francisco. O livro será lançado mundialmente por ocasião do Jubileu de 2025.

No excerto, o Papa Francisco revela, pela primeira vez, os riscos que correu durante a sua viagem apostólica ao Iraque, sobretudo à cidade de Mossul. “Aquela viagem tinha‑me sido desaconselhada por quase todos” e várias fontes “alertavam para riscos elevadíssimos, de tal modo que atentados sangrentos fustigaram a véspera da partida.”

Preocupado com a situação dos cristãos no Iraque, Francisco avançou à mesma com a viagem. “Mal aterrei em Bagdade, a polícia comunicou à Segurança do Vaticano uma informação que chegara dos serviços secretos ingleses: uma mulher com um colete de explosivos, uma jovem kamikaze, estava a dirigir‑se para Mossul para se fazer explodir durante a visita papal. E também uma carrinha partira a toda a velocidade com a mesma intenção”, revela o Papa.

Apesar do perigo, Francisco manteve a decisão de visitar Mossul e afirma que a visão que teve, ao sobrevoar a cidade, “foi uma ferida no coração”. E acrescenta: “Atingiu‑me como um soco, logo no helicóptero: uma das cidades mais antigas do mundo, fervilhante de história e tradições, que vira ao longo do tempo a aproximação de civilizações diversas e fora o emblema da convivência pacífica entre diferentes culturas num mesmo país — árabes, curdos, arménios, turcomanos, cristãos, sírios —, surgia diante dos meus olhos como uma extensão de escombros, depois dos três anos de ocupação por parte do estado islâmico, que a escolhera como fortaleza. Enquanto a sobrevoava, via‑a do alto como a radiografia do ódio”.

O programa integral da visita a Mossul viria a cumprir-se sem problemas. “Quando, no dia seguinte, perguntei à Segurança o que se sabia acerca dos dois atentados, o comandante respondeu‑me laconicamente: «já não existem». A polícia iraquiana tinha‑os intercetado e feito explodir”, revela o Papa. “Também isto me tocou muito. Também este era o fruto envenenado da guerra”.

O Papa recorda outros momentos importantes daquela visita, nomeadamente o momento de oração em Ur, terra de Abraão, e o encontro com o Grande Aiatola Ali al‑Sistani, na cidade santa de Najaf, centro histórico e espiritual do islão xiita.

A editora Nascente revela que esta obra, levada a cabo por Carlo Musso, de acordo com os desejos de Francisco, foi originalmente concebida para ser publicada após a morte do Papa, mas o próximo Jubileu de 2025 dedicado à Esperança “e as necessidades dos nossos tempos, levaram-no a disponibilizar agora este precioso legado”.

Carlo Musso testemunha, por sua vez, que “foi uma aventura longa e intensa que ocupou os últimos seis anos”.

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