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Bispo de Pemba

"Um Natal de incertezas" em Moçambique

22 dez, 2024 - 08:00 • Henrique Cunha

Aos problemas gerados pelas eleições gerais de outubro, e à incerteza que os ataques terroristas provocam na região de Cabo Delgado, juntou-se a catástrofe gerada pelo ciclone Chido que já vitimou 70 pessoas. O bispo de Pemba, D. António Juliasse, deixa em entrevista à Renascença um retrato sombrio da realidade no território.

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Crianças vitimas do ciclone Chido no norte de Moçambique. Foto: D. António Juliasse
Crianças vitimas do ciclone Chido no norte de Moçambique. Foto: D. António Juliasse
Casas destruidas pelo Ciclone Chido; Foto: D. Juliasse bispo de Pemba
Casas destruidas pelo Ciclone Chido; Foto: D. Juliasse bispo de Pemba

O bispo de Pemba, em Moçambique, diz à Renascença que, “no contexto específico de Cabo Delgado, a onda de sofrimento causada pelo ciclone Chido, que devastou vários distritos na província”, vai demorar a passar.

De acordo com D. António Juliasse, nas “zonas devastadas, 80% das famílias com casas de construção local, com material local, paus e capim, estão destruídas”, e estas famílias vão passar o Natal “sem habitação, sem teto e perderam tudo o que tinham dentro das casas”. “Do ponto de vista social não há razões para festejar o Natal”, assegura.

De acordo com o bispo que, por estes dias realizou uma visita às zonas mais afetadas pelo ciclone, na sua diocese “a estratégia é ver de entre os necessitados aqueles que estão pior", porque “nós não podemos socorrer a todos”; e “esperar que as outras organizações cheguem ao terreno para fazer ajudas mais abrangentes”.

Nestas declarações à Renascença, durante uma pausa na viagem que estava a realizar às zonas mais afetadas na sua diocese, D. António Juliasse manifestou a sua desolação pelo cenário que encontrou e pelo facto de, por agora, ser praticamente nula a ajuda no terreno. “Hoje por onde eu passei a única coisa que vi foi a eletricidade de Moçambique que está a tentar levantar os postes de energia caídos e não vi mais nada. A olho nu não vi mais nada a ser feito”, lamenta.

O bispo de Pemba admite que o número de vítimas mortais do ciclone continue a subir e relata duas grandes preocupações imediatas: dar teto a quem ficou sem ele e arranjar novas sementes que também foram destruídas pelas chuvas.

“O ciclone chegou muito cedo e daqui a pouco chega o período das chuvas e as pessoas ficaram sem teto. Imaginemos como será viver nesta situação com crianças em casa. Há de ser um sofrimento muito grande! Mas também há uma outra preocupação, porque as chuvas estragaram as sementes que as pessoas tinham em casa para a época que se aproxima. E deste ponto de vista, é mais uma dificuldade”, sublinha.

“Estão de volta as imagens de pessoas com trochas na cabeça”

O bispo de Pemba garante, nestas declarações à Renascença, que os campos de deslocados também foram destruídos pelo ciclone.

“Passei por um campo no distrito de Metuge que está destruído e um outro no Ancuabe também. Nada ficou de pé, por onde passou o ciclone”, revela.

De acordo com D. António Juliasse, a tudo isto acrescem os ataques terroristas que mantém a região de Cabo Delgado em permanente tensão.

“Nos dias 11 e 12, tivemos novos ataques e as famílias foram obrigadas de novo a abandonar as suas casas”, revela.

“Voltam de novo as imagens que já são comuns aqui em Cabo Delgado, de pessoas com as trochas na cabeça”, descreve o bispo de Pemba.

Por tudo isto, o prelado diz que os moçambicanos vão ter um Natal de "incertezas" e de sofrimento e reforça a ideia de que, “do ponto de vista social, não haverá grandes festas para estas famílias afetadas”.

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