21 mai, 2018 - 20:21
Os 23 "hooligans" que invadiram a Academia do Sporting, em Alcochete, vão ficar a aguardar o desenrolar do processo em prisão preventiva.
A decisão foi anunciada esta segunda-feira ao início da noite pelo Tribunal do Barreiro, onde nos últimos dias têm decorrido as inquirições.
O juiz aplicou a medida de coação mais pesada dando razão aos argumentos do Ministério Público, que alertou para "perigo de fuga, perigo de perturbação do decurso do inquérito", "perigo da continuação de atividade criminosa" e "perturbação da ordem pública".
Na última terça-feira, os jogadores e a equipa técnica do Sporting foram atacados na Academia de Alcochete por um grupo de cerca de 50 alegados adeptos encapuzados. Um dos mais visados foi o avançado Bas Dost que ficou com ferimentos na cabeça. O treinador Jorge Jesus foi outro dos agredidos.
A GNR deteve 23 dos atacantes que vão agora aguardar o desenrolar do processo em prisão preventiva.
Estão indiciados por nove crimes: terrorismo, sequestro, introdução em lugar vedado ao público, ameaça agravada, ofensa à integridade física qualificada, dano com violência, detenção de arma proibida agravado, incêndio florestal, resistência e coação sobre funcionário".
Serão levados para o Estabelecimento Prisional do Montijo e depois distribuídos por outras prisões.
O presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, negou qualquer envolvimento da direção do clube no caso e responsabilizou os jogadores de, "involuntariamente", estarem na origem dos incidentes.
Esta segunda-feira, o Sporting suspendeu o apoio financeiro à claque mais antiga do clube, a Juventude Leonina, que anteriormente negou qualquer envolvimento no ataque à Academia.
Advogados criticam prisão preventiva
O advogado Nuno Rodrigues Nunes responsabilizou segunda-feira os jornalistas pela prisão preventiva dos 23 arguidos, acusando-os de terem montado "um circo desnecessário" em torno do caso.
"A forma como vocês [jornalistas] empolaram este assunto, não sei até que ponto não teve consequências. Estamos aqui a falar da verdade. A verdade não é a vossa verdade. Este caso não tem a gravidade que fizeram parecer ter. Vocês fizeram um circo à volta disto sem necessidade nenhuma", acusou o advogado Nuno Rodrigues Nunes.
"Não era preciso este circo todo", reiterou Nuno Rodrigueis Nunes, depois de considerar que foram os jornalistas que, ao empolarem o caso, contribuíram para o resultado final (prisão preventiva dos arguidos)".
A advogada Maria João Mata também se mostrou revoltada com a medida de coação aplicada aos 23 arguidos, mas poupou os jornalistas e apontou ao tribunal.
"Estou chocada, indignada. Acreditava que existisse Justiça. Acho que é inacreditável com aquilo que consta no processo, com os indícios que ali estão, colocar todos os arguidos no mesmo saco. É indescritível o que foi feito ali. E mais chocada estou ao saber que, quando ainda estou na sala de audiências, ouvir um despacho quando os órgãos de comunicação social já sabem qual é a medida de coação.
A advogada disse achar impossível que "23 jovens daquela idade terem praticado todos os atos, terem sido os mesmos a praticar o crime de sequestro e outro tipo de crimes que estão elencados naquele despacho de promoção", acrescentando que, na sua opinião, não estavam preenchidos os pressupostos para o crime de terrorismo.
"Eu acredito que não, mas parece que é o que a sociedade quer. A mão [do Juiz de Instrução Criminal] foi muito pesada. Acho que não é assim que este país pode evoluir. Ainda acreditava que havia separação de poderes, acredito na justiça e hoje tive a maior desilusão que há muitos anos não tinha. Olhando para o processo e o que ali está, não pode dar este resultado, ser igual para 23 arguidos. É impossível", acrescentou a advogada.
Questionada pelos jornalistas sobre a possibilidade de, durante a inquirição, alguma vez ter se ter falado do presidente do Sporting, Maria João Mata foi perentória, assegurando que nunca foi falado o nome de Bruno de Carvalho.
[notícia atualizada às 01h03]