08 mar, 2016 - 22:35
Um grupo de cantares alentejanos interrompeu esta terça-feira, em Lisboa, o lançamento do polémico livro “Alentejo Prometido”, do cronista Henrique Raposo.
Cerca de uma dezena de vozes ecoaram o cante “Alentejo, Terra Sagrada”. A acção de protesto realizou-se pouco depois do início da apresentação, após algumas palavras de elogio proferidas pelo escritor José Rentes de Carvalho.
A obra critica hábitos e vivências do povo alentejano e gerou uma onda de protestos nas redes sociais e até uma petição a pedir sua o proibição.
O lançamento contou com muita segurança e polícias à porta e dentro da livraria Bertrand, mas não foi registado qualquer incidente. Apenas se ouviram cânticos.
Francisco Torrão, do grupo cantadores do Desassossego, de Beja, explica porque fizeram questão de vir até Lisboa e marcar presença no lançamento do livro.
“Foi uma resposta àquilo que o Henrique Raposo fez com o seu livro. Nós quisemos atingi-lo a ele, cantando. Cantámos uma moda que traz uma mensagem que vai contrariar, em muito, aquilo que ele diz no livro. O livro ofendeu o povo alentejano, de uma maneira geral, na nossa dignidade, porque nós amamos a família tal como todos os portugueses amam a família. O suicídio não é apanágio do Alentejo. O suicídio existe, infelizmente, em maior número, por exemplo, aqui na zona industrial de Lisboa. Não recebermos as pessoas? Toda a gente quer ir ao Alentejo porque nós as recebemos de braços abertos.”
O autor Henrique Raposo recusou-se a falar aos jornalistas, mas durante a sessão de lançamento do livro “Alentejo Prometido” disse que, hoje em dia, “falamos demais e lemos de pouco”.
Alvo de uma vaga de críticas nas redes sociais, o cronista do semanário “Expresso” referiu que “para se falar de um livro é preciso lê-lo”.
“Eu confesso que estava à espera de perder metade da minha família com este livro. Quem o leu percebe porquê. Mas está a ser ao contrário”, afirmou Henrique Raposo.
O autor de “Alentejo Prometido” notou que na apresentação do seu livro havia “o patrão e o operário, pessoas de esquerda e de direita, pessoas do Norte e do Sul”.
“Como era bom que tivéssemos um país onde este laço patriótico que está por cima da região, da ideologia, da classe. Como era bom que o país fosse mais parecido com esta sala”, desejou Henrique Raposo.
Depois de cantar, o grupo alentejano saiu ordeiramente da Livraria onde decorreu a presentação do livro, em Lisboa.