28 nov, 2016 - 23:54 • Eunice Lourenço
No palco do Teatro Nacional D. Maria II, aquele onde há 75 anos Eunice Muñoz se estreou na peça “Vendaval”, a actriz e Diogo Infante conversaram, ao fim da tarde desta segunda-feira, perante uma plateia repleta de colegas, actores, encenadores, mas também de estudantes e candidatos a actores.
Eunice começou por tentar inverter os papéis e fazer perguntas a Diogo Infante, mas depois a conversa tomou um tom bem mais sério, com a actriz a lembrar que a doença a fez recear não voltar ao palco.
Ao longo de quase uma hora de conversa, Eunice foi lembrando uma carreira longa, que começou quase por tradição familiar e em que, só aos 27, a fazer Joana d’Arc, se sentiu inteiramente actriz.
Recordou o mestre Ribeiro, que dizia muitos palavrões e que a apanhou na fase em que foi mãe, quase de seguida, de quatro filhos. “Não se pode contar com ela, está sempre grávida”, dizia Ribeirinho, que a dirigiu na Trindade.
“Já eramos actores com anos de profissão e, de repente, apareceu aquele mestre extraordinário”, recordou a actriz.
“Mãe coragem”, “Caminho para Meca” e “Zerlina” são alguns dos seus papéis preferidos, mas não esconde que gosta de fazer de tudo, das telenovelas aos clássicos ou à revista que fez com La Féria. Diz que, nestas décadas, podem ter mudado as formas de representar, mas o talento tem sempre de estar lá.
O que mais mudou para Eunice foi o público. “O público hoje é muito mais atento, mais silencioso”, disse a actriz que nunca quis encenar nem ensinar porque sente que não tem vocação. “Quero é que me dirijam a mim”, declarou.
Diogo Infante, que a dirigiu, explicou como é: “Uma plasticina maravilhosa”. “Cada vez que a Eunice me respondia a um desafio era tão fantástico …. Essa generosidade é algo que acho invulgar. Nós, actores, quando estamos em palco, porque estamos frágeis e nos sentimos despidos, criamos defesas e dar, oferecer, partilhar é um acto de coragem. E a Eunice fá-lo logo tão bem. Lembro-me de si quando sinto que estou a ser pouco generoso ou pouco flexível porque a Eunice, de facto, é uma plasticina maravilhosa na medida em que se permite moldar”, afirmou o actor e encenador.
E Eunice voltará ao palco para ser dirigida por Bruno Bravo, na peça “Rei Lear”, de Shakespeare, que deve abrir a próxima temporada do Teatro Nacional D. Maria II.
E o que mais deseja, disse, é recuperar a voz e voltar a trabalhar. Nervos, vai continuar a ter, pois 75 anos de experiência não bastam “Tenho muitos nervos … nervos, nervos, nervos. É preciso aprender a controlá-los. Para começar, rezo sempre. E, para continuar, Seja o que Deus quiser”, disse Eunice Munoz, que neste dia de aniversário de carreira também recebeu mensagens do Presidente da República e do Governo.