09 dez, 2016 - 14:16 • Sérgio Costa
O Prémio Pessoa 2016 revela, em entrevista à Renascença, que ficou “estupefacto” quando soube que tinha vencido o “Prémio Pessoa”.
Frederico Lourenço diz esperar que a distinção que agora recebe sirva de incentivo para o estudo e interesse nas línguas clássicas.
Nascido em Lisboa, em 1963 Frederico Lourenço licenciou-se ou doutorou-se em Línguas e Literaturas Clássicas na Universidade de Lisboa, tendo leccionado também nessa Universidade, entre 1988 e 2009, antes de assumir o lugar de professor associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
O que é que significa este prémio?
Significa antes de mais uma grande surpresa. Fiquei estupefacto quando recebi a notícia, mas, por outro lado, penso que numa altura em que é necessário voltar a focar o interesse nas línguas clássicas latim e grego, pela importância na nossa cultura, este prémio vem dar um voto de confiança no estudo destas matérias que deve ser incentivado no ensino secundário e na universidade.
Sente que há um défice no ensino, na compreensão das línguas clássicas em Portugal?
uma coisa que tem vindo a acontecer gradualmente, sobretudo no ensino secundário onde praticamente as línguas clássicas deixaram de ter o lugar que tinham já há muitos anos.
No Ensino Superior ainda continuamos a ensinar e a aprender grego e latim, mas penso que é necessário haver uma consciência da importância fundamental destas línguas do ponto de vista cultural, do ponto de vista histórico, do nosso ponto de vista como falantes de português.
Fico muito feliz, porque este prémio poderá levar as pessoas a pensar o que é esse legado da antiguidade clássica, da antiguidade cristã em língua grega, que é o caso da Bíblia grega. Penso que são textos que não podem ficar esquecidos. Têm que continuar a ser lidos sempre.
E está desde 2014 em redor dos textos do evangelho "A Bíblia dos 70" e a traduzi-los do grego. O que é que nos pode descrever desse trabalho?
Trata-se de um projecto de longo fôlego, que é de traduzir o novo e o antigo testamento. Começou precisamente pelo novo testamento, o primeiro volume já foi publicado. O segundo volume vai ser publicado em Março.
Depois a partir do final de 2017 começam a sair os volumes do Antigo Testamento. É um projecto que toma como base a versão grega da Bíblia nas suas duas grandes componentes: Novo e Antigo Testamento e tem a novidade de no caso do Antigo Testamento essa versão grega da Bíblia nunca ter sido traduzida para português, portanto, é dar a conhecer pela primeira vez um texto que é diferente e que é muito interessante para conhecer a história do cristianismo, porque foi o texto da Bíblia dos primeiros cristãos. É um trabalho apaixonante.
Tem dificuldades ao nível dos estudos, de todas as problemáticas que estão aqui envolvidas. Tive que me dedicar ao estudo do hebraico que era uma coisa que não tinha aprendido na universidade, mas tive um pouco como autodidacta de me dedicar a esse estudo. Não é que esteja a trabalhar no texto hebraico do Antigo Testamento, mas preciso de ter esse conhecimento para fazer a comparação entre o texto grego e o texto hebraico que é um trabalho permanente que eu faço e, claro, há a questão da disciplina, porque são textos grandes como era a Ilíada e a Odisseia.
É preciso ter essa disciplina para conseguir levar a bom termo um projecto assim.