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​Cai o pano na Cornucópia, uma das “estruturas mais importantes da História do teatro português”

16 dez, 2016 - 12:44 • Maria João Costa

As alterações na política de subsídios do Ministério da Cultura estão na origem da decisão de terminar a actividade da companhia. Mas não só.

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Uma família chamada Cornucópia
Em 2013, quando a companhia completava 40 anos de vida, a Renascença conheceu a "família" Cornucópia e mergulhou na sua história (onde cabem muitas histórias, centenas de peças, milhares de personagens e incontáveis horas de ensaios).

O Teatro da Cornucópia, fundado em 1973 em Lisboa e dirigido por Luis Miguel Cintra, anunciou esta sexta-feira que fecha portas no sábado.

O fim da Cornucópia era uma notícia esperada. Há muito que Luis Miguel Cintra, um dos fundadores do grupo de teatro, tinha dito que a companhia um dia terminaria consigo.

Luis Miguel Cintra deixou os palcos em 2015, por motivos de saúde. Anunciou-o no final da peça "Hamlet", de William Shakespeare, e gerou um longo aplauso. Mas Cintra continuou ligado à companhia e a trabalhar na Cornucópia, onde divide a direcção artística com a cenógrafa Cristina Reis.

A decisão agora tomada surge não só na sequência desta questão, mas também devido a problemas financeiros.

O Ministério da Cultura anunciou este ano alterações na fórmula de apoios ao teatro. O secretário de Estado da Cultura disse que os concursos plurianuais que atribuem subsídios a várias companhias por mais de um ano terminariam na fórmula até agora conhecida. A partir de 2017 haverá novas regras de financiamento, mas que só terão aplicação em 2018.

Até lá, há um regime de transição, mas, ao que a Renascença apurou junto de fonte do ministério, a Cornucópia não pediu a extensão do subsídio para o próximo ano.

Chegam assim ao fim 43 anos de trabalho de uma companhia que soma 126 criações, três estreias mundiais, 25 textos dramáticos portugueses e que foi escola de dezenas de actores de todas as gerações.

Num comunicado em que anunciam que este sábado lançam o segundo volume do catálogo de todas as suas realizações, o Teatro da Cornucópia escreve: "Pensamos que ao longo destes anos fizemos muito e menos mal, mas também julgamos já ter idade para ousar dizer que não sabemos nem queremos adaptar-nos a modelos de gestão a que dificilmente nos habituaríamos a cumprir. Isso faríamos mal. Talvez seja tempo de parar a actividade", lê-se num comunicado divulgado pelo teatro.”

Sem programação anunciada para os próximos meses, a companhia de teatro decidiu pôr fim à actividade com um recital, de entrada gratuita, às 16h00, a partir de textos do poeta francês Guillaume Apollinaire, com a participação de actores e músicos que têm trabalhado com o teatro.

Numa primeira reacção a este fim anunciado, o Ministério da Cultura “lamenta o encerramento de uma das estruturas mais importantes da História do Teatro português”. Fala de uma companhia de referência e mostra “disponibilidade em colaborar" para que este encerramento se concretize "da melhor forma”. O ministério assegura o arrendamento do edifico sede da companhia por mais um ano para que o encerramento se realize “nas devidas condições”.

Comentários
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  • CF
    16 dez, 2016 Beja 21:36
    Os criadores tocam o eterno. Fui espectador assíduo do grupo de Teatro da Cornucópia até ao início da década de oitenta depois a vida impediu-me de continuar. Viagens como : “O Terror e a Miséria no III Reich, Ah Q, Casimiro e Carolina, Música para Si, Woyzeck , E Não Se Pode Exterminá-lo?, Não Se paga! Não Se Paga!” gratificaram-me com a consciência do instante. Emudeci com atores como Augusto de Figueiredo, Dalila Rocha, Glicínia Quartin, Rui Furtado, Maria Emília Correia, Isabel de Castro só para relembrar alguns. Aos fundadores e continuadores, obrigado sem fim.

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